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Gêmeos e trigêmeos na fertilização in vitro Por: Aline Dini

Gêmeos e trigêmeos na fertilização in vitro

gemeosQuem não lembra das mulheres que faziam fertilização há 10, 15 anos e saiam da maternidade com dois ou três bebês nos braços? Isso acontecia porque os médicos colocavam três ou mais embriões nas tentativas, que aconteciam sem tanta precisão como hoje. Atualmente nas mulheres até 36 anos são colocados apenas 2 embriões e nas acima de 36 até 40 anos, podem ser colocados 3, sendo que depois dos 42 anos o médico pode optar por 4 embriões, já que as chances de engravidar são menores. Se você está pensando em fazer a técnica, vale assistir esse vídeo que eu fiz com o ginecologista e obstetra Rodrigo Romano. Veja só:

http://maeaos40.com.br/bebe/gemeos-e-trigemeos-na-fertilizacao-in-vitro/

 

As filhas de Leka

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Por Maria Luiza Petty, nutricionista

Antes de começar a trabalhar com transtornos alimentares (TA) eu tinha a sensação de que era ótimo a mídia divulgar pessoas ou personagens com doenças complicadas e pouco conhecidas como a bulimia e a anorexia nervosa, pois isso poderia contribuir para que aqueles que têm o quadro percebessem sua gravidade e buscassem ajuda e tratamento.

Infelizmente, já faz mais de 6 anos que atuo nesta área e só o que eu vi foi o contrário: pessoas que conheceram a bulimia por meio da TV. Uma das minhas primeiras pacientes do AMBULIM (Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP) descobriu que havia uma maneira, aparentemente inofensiva, de emagrecer colocando tudo o que comia pra fora a partir da personagem Gisele, da novela da Globo, Páginas da Vida.

Esta semana, novas pacientes iniciaram o tratamento e, ao investigar a história do quadro de bulimia de uma delas, eis que surge o caso da Leka. Leka foi uma participante do primeiro programa Big Brother Brasil, em 2002. Como ela esteve enclausurada e vigiada por dias e mais dias, foi impossível esconder os episódios bulímicos de compulsão alimentar seguidos de vômito.

Em 2002, Rosemeire*, minha nova paciente, chegou em São Paulo vinda do nordeste, com muitos sonhos e desejos. Dentre eles, o desejo de ser atraente e arrumar um marido. Leka, por outro lado, mostrava às brasileiras uma possível maneira de controlar o peso, garantindo beleza e fama.

Por que não seguir os caminhos de Leka então?
Não sabemos se hoje Leka é feliz, bem sucedida e saudável. Famosa, que eu saiba, não é. Porém, mais de 10 anos depois da aparição de Leka na TV, infelizmente ainda existem mulheres sofrendo por terem conhecido a bulimia nervosa no Big BrotherBrasil 2002.

A culpa não é da Leka! Mas parece que mostrar casos de TA associados a pessoas famosas ou personagens belos e magros é mais uma forma de apresentar uma maneira de alcançar a magreza do que de afastar as pessoas dos riscos associados a ela. Deixo esta reflexão.

* Rosimeire é um nome fictício

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Percepção da fome

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Por Erika Checon Romano

Quando não podemos mudar a circunstância, podemos mudar o jeito de olhar para ela. Nessa semana ouvi uma frase singela da banqueteira Neka  Menna Barreto, que dizia: “eu amo sentir fome, pois fico bem humorada e faço tudo melhor, porque sei que está na hora de comer coisas maravilhosas”.

Gostaria que você, leitor, pensasse na sua sensação quando sente fome. Você tenta enganar a fome com modismos, tipo tomar água, ou respeita sua vontade e programa uma refeição agradável?

Considera que a fome é uma sensação fisiológica ou uma “gula” estigmatizada como sem vergonhice? Você se permite sentir fome? Você tem gosto pelo gosto?

A percepção dos seus sinais fisiológicos com o autoconhecimento das variações e sensações do seu corpo poderão fazê-lo entrar em sintonia com ele, encerrando uma batalha árdua e sem vitoriosos que é fazer dieta a qualquer custo. Busque prazer e permita-se comer sem culpa. A possibilidade de escolha não leva a exageros, mas sim à real percepção sobre o que você tem fome e precisa naquele momento de cuidado consigo mesmo.

Bom apetite!

Fonte: Blog  – Grupo Especializado em Nutrição em Transtornos Alimentares

O que é atividade física para você?

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Tradução: “Onde estou indo? O que estou fazendo? Qual o sentido da vida?”

 Por Paula Costa Teixeira, profissional de educação física

Está claro o conceito do termo atividade física, porém, o que significa atividade física (AF) para você?

A depender da sua relação com o seu corpo e com a AF, essa resposta pode variar muito. Se você é um adulto que teve uma infância e/ou adolescência com várias oportunidades de experimentar diversas modalidades esportivas, amava participar das aulas de educação física e se sentia uma pessoa habilidosa nas atividades que envolviam grupo, provavelmente você tem uma resposta positiva a essa questão.

Por outro lado, se sua infância e/ou adolescência foi uma fase complicada, suas tentativas de praticar AF eram frustrantes, você fugia das aulas de educação física e de qualquer momento em grupo que envolvesse alguma habilidade motora que você não se sentia confiante em desempenhar, ou ainda, se você era excessivamente preocupado com o que os outros poderiam pensar sobre você, ou se sentia insatisfeito com seu corpo a ponto de ter vergonha, sua resposta à questão levantada com certeza será negativa.

Qualquer AF pode ser praticada de um jeito mais interessante e até mesmo se tornar um hábito na sua vida se você conseguir atribuir um significado prazeroso ou uma função. Por exemplo, se você gosta de nadar, mas não sabe por ter medo da água, você pode vencer esse desafio se comprometendo em aprender essa modalidade. O significado nesse caso é vencer um medo.

Se você sente muito prazer em correr porque além de ser um momento gostoso você percebe que é uma oportunidade de se organizar mentalmente, e se sente tão aliviado depois a ponto de relaxar, essa atividade tem um significado de reorganização mental, ou ainda, de liberação de tensões.

Mais um exemplo: se você semanalmente tem o compromisso de fazer uma tarefa doméstica na sua casa que você detesta, mas necessita fazer a fim de manter a organização do seu lar, você pode escolher ir “bufando”, desejando não ter que fazer isso, ou pensar que é uma oportunidade de cuidar do que é seu, que muitas pessoas não podem usufruir do que você tem, e até mesmo ver como uma oportunidade de movimentar o seu corpo. Talvez, a partir dessa mudança de significado, você possa dar um outro sentido para essa tarefa, que deixará de ser tão chata.

Porém, como tudo na vida, existe o outro lado da moeda.

Tive um relato de um paciente com transtorno alimentar que o momento de AF para ele era uma obrigação na vida. Isso porque, se ele não praticasse por qualquer motivo, ele sofria muito a ponto de se sentir horrível por acreditar que seus músculos estavam deteriorando.

Um outro relato de uma paciente também com TA: ela me disse que AF era um tormento na vida dela porque sua pratica era exclusivamente com objetivo de emagrecer. Por isso, era um momento diário obrigatório em sua vida.

Como mudar o significado da AF para essas pessoas?

Quando olhamos pessoas praticando AF, em geral julgamos que estão cuidando da saúde. E é exatamente esse o problema: julgar. Nós, profissionais da saúde, ao invés de julgar aparências e acreditar que somos sabedores do que é certo ou errado, precisamos escutar a história de vida de quem busca um auxílio sem julgá-lo, ajudá-lo a melhorar a relação com ele mesmo, com seu corpo e com as suas crenças. O profissional de saúde deve respeitar a história do indivíduo, incentivá-lo a refletir sobre as consequências das suas escolhas, auxiliá-lo a descobrir a sua real motivação para suas ações, e principalmente, escutá-lo livre de julgamentos e pré-conceitos.

Fonte: Blog – GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

A experiência “New Moves”

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Por Karin Dunker, nutricionista

Há algum tempo venho desenvolvendo um projeto de pesquisa com meninas adolescentes de 13 a 14 anos de escolas públicas, o programa “New Moves” criado por Dianne Neumark-Sztainer, renomada pesquisadora da Universidade de Minnesota, que tem por objetivo prevenir a obesidade e os transtornos alimentares. A pesquisa feita em 10 escolas está na reta final, e em breve teremos publicações sobre seus resultados.  Mas o motivo que me levou a escrever o post sobre esse assunto, é por que gostaria de compartilhar as impressões que não podem ser descritas em um artigo científico, a experiência de lidar com um grupo carente, que vive em uma realidade que desconhecemos, muito além do que imaginamos.

Meninas carentes, de nível socioeconômico baixo, que muitas vezes vivem em condições precárias de moradia, em um ambiente familiar desestruturado, e que em um primeiro momento se interessam pelo projeto pelo simples fato de achar que talvez seja importante cuidar da alimentação e do corpo, mas também por uma atenção que não têm em casa e na escola. São meninas que por algumas horas por semana, recebem atenção, carinho e conforto por parte de uma equipe de nutricionistas, psicólogos e educadores físicos.

É o momento em que podem se expressar, compartilhar uma refeição, conhecer e saborear novos alimentos, sendo que algumas inclusive têm oportunidade de ter uma primeira experiência culinária. Aprendem que comer saudável não é se privar do que é proibido, mas sim pensar sobre as próprias escolhas que podem ser determinantes de uma qualidade de vida na fase adulta.  Aprendem que atividade física não precisa ser chata, que não é simplesmente ir para academia ficar horas malhando, mas que pode ser prazerosa, divertida, trazer bem estar e fazer a diferença em suas vidas.  Também refletem sobre o poder da mídia de determinar o que é um corpo bonito, como as emoções afetam seus comportamentos, a importância de se determinar metas viáveis e realistas quando se pensa na mudança de um comportamento.

Aprendem, mas também brincam, dão risada, criam novas amizades, em um ambiente em que os mediadores estimulam a cooperação, compreensão, expressão de suas ideias, sem julgamentos e criticas.

Oferecer essa possibilidade para esse grupo foi desafiador, e em alguns momentos frustrante, pois sabemos que a realidade social em que vivem muitas vezes impede a perpetuação da mudança de um comportamento, seja na prática da atividade física, na alimentação, na satisfação corporal e autoestima.

Apesar dos desafios e das dificuldades, terminamos essa jornada com a sensação de que fizemos a diferença em suas vidas. Para nós, profissionais da área da saúde, fica um sentimento de que cumprimos nosso papel, que vai além de nossa formação acadêmica conceitual. Afinal, não somos nutricionistas ditadoras de dieta, nem educadores físicos que visam somente o “fitness”. Ouvimos, prestamos atenção, e tentamos compreender as limitações do contexto de vida destas meninas. Sim, é possível pensar de uma forma diferente, atuar de uma forma diferente, é possível pensar em prevenção, mas para isso é essencial refletir sobre as reais necessidades de um grupo ou indivíduo, confrontando as técnicas tradicionais didáticas, e se abrindo para abordagens inovadoras de atuação.

Se quiser conhecer mais sobre a proposta do New Moves, acesse aqui o site.

Fonte: Blog GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Nutrição gentil

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Por Erika Checon Romano, nutricionista

Há tempos não ouvia alguém falar de comida e sorrir, com a alma plena e alimentada. Mas assim foi com Evelyn Tribole, no II Simpósio Brasileiro de Nutrição Comportamental, que ocorreu neste último final de semana. Atenta, a plateia degustava seu bom humor e experiência com o Intuitive Eating, e um silêncio delicioso dividiu o ambiente entre a sabedoria e a reflexão. Respeitar os sinais fisiológicos, conectar-se com si mesmo e harmonizar-se na liberdade de poder escolher e saborear o alimento. Os casos clínicos passavam como um filme, refletindo histórias amordaçadas pela escravidão das dietas, e gostosuras cansadas  de esperar por uma boca sedenta. Histórias como a sua, a do seu vizinho. Histórias da sua vida alimentar. Há quanto tempo você não escolhe o que realmente quer comer? Como têm sido os momentos das suas refeições?

No almoço, saímos entre amigas de longa data, reunindo-nos a volta de pratos saborosos e garfadas pautadas por histórias de nossas vidas em comum. Novamente a comida permeou e permitiu encontros, preenchendo nossos corações.

No dia seguinte, excelentes pesquisadores mostraram consistentes trabalhos sobre comportamento e alimentação. Abordagens sendo menos técnicas e mais humanas; pensando que se comer pode ser a canalização de vários desejos, a nutrição gentil deve ser estimulada, já que trabalhar com ética é pensar no outro acima de benefícios pessoais. Não aceitar regras rígidas para comer e assim aumentar a possibilidade de escolha. Com menos frustração e mais conexão com você mesmo, conseguirá comer – nem muito, nem pouco: o suficiente.

O encerramento foi especial. Há tempos não ouvia alguém falar de trabalho com comida e sorrir. Mas dessa vez o sorriso veio através da lágrima estufada de amor, diante o exército de ouvintes famintos por ética e bons pratos, permeados e conectados pela busca da saúde e felicidade. Com maestria, num só tom, a voz sábia e emocionada preencheu os corações em busca da ciência e ética na nutrição, com possibilidade real de comer, diminuindo a frustração e fazendo as pazes com a comida. Sempre emocionei-me com sua garra, de uma vida em busca da lealdade com o paciente. E como ensinou a bela canção, quando eu olhei para o lado, eu estava cercada, só por quem me interessa.

Muito obrigada.

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

O nutricionista que eu queria ser

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Por Maria Luiza Petty, nutricionista

Quando eu era criança, tinha uma ideia de que as frutas faziam muito bem para saúde. Muitas vezes, quando eu as comia, tinha uma sensação de que elas estavam me purificando e me enchendo de vitalidade.

Uns bons anos mais pra frente, chega a hora de escolher uma carreira universitária e eu tinha alguns interesses bem claros: eu adorava geografia e geopolítica, adorava a ideia de ajudar os outros e carregava esta “crença” de que alguns alimentos teriam capacidades sanitárias. Na minha cabeça, a nutrição seria então a resposta ao dilema “o que eu quero ser quando crescer”.

Lembro-me que fiz uma visita guiada à Faculdade de Saúde Pública da USP, onde o curso de nutrição é ministrado, e logo fui dizendo que eu adorava geografia, me interessava pela área da saúde e que eu imaginava que a graduação teria tudo a ver com isso. A monitora da visita, que era aluna do curso, me olhou com uma cara estranha e disse “acho que não tem muito a ver não, aqui não tem nada de geografia ou geopolítica”. Apesar do balde de água fria, ao final da visita eu recebi um livreto com a grade curricular e nela havia um monte de disciplinas em que eu continuava vendo esta tal relação e enxergava um grande potencial de ajudar as pessoas por meio de alimentos tão maravilhosos, como as frutas, por exemplo.

Quando eu decidi ser nutricionista, no finalzinho do século 20, o Brasil ainda era um país onde havia bastante desnutrição, um pouco de excesso de peso, mas, sobretudo, muito menos informações sobre alimentação e saúde em todos os meios de comunicação. De lá pra cá, vivenciamos o pico da revolução epidemiológica, conhecida como transição nutricional, acompanhada por uma enorme expansão da indústria de alimentos e do contingente de nutricionistas.

Em meio a todas estas mudanças, o nutricionista passou a “ter”* que policiar para que as pessoas não comam demais, especialmente os alimentos gostosos. E aquela ideia de que eu seria um profissional que ajudaria as pessoas começou a ser abalada quando um dia, coletando dados para meu mestrado em uma escola de São Paulo, um aluno dá a seguinte resposta quando perguntado sobre o que faz um nutricionista: “nutricionista é uma mulher chata que diz que tudo o que a gente gosta, não pode comer”.

Felizmente, hoje eu consigo enxergar  que sou uma profissional que ajuda as pessoas a comerem melhor, mas acreditem, hoje meu principal trabalho não é incentivar que elas comam os tais alimentos mágicos, como as frutas. Hoje, muito do meu trabalho é focado para que as pessoas tenham paz na hora de comer, que elas possam comer as comidas que mais amam e que não precisem só comer frutas para purificar o corpo.

Bom, este não era bem o nutricionista que eu inicialmente queria ser, mas acho que pelo menos no quesito “ajudar os outros”, venho cumprindo meu papel tentando diminuir o medo e o sofrimento das pessoas de comerem outras coisas, além das frutas. Quanto à geografia, tive que deixar de lado, mas continuo tendo a certeza de que tem absolutamente tudo a ver com nutrição.

* O nutricionista não tem que policiar o que as pessoas comem, mas muitas vezes o faz por falta de outros recursos para promover uma alimentação saudável, prazerosa e equilibrada.

Fonte: GENTA – Grupo Especializada em Nutrição e Transtornos Alimentares.

IM o que?

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Por Marcela Salim Kotait, nutricionista

IMC, índice de massa corpórea. Índice de Quetèlet, um matemático belga nascido no final dos anos 1790.

Um conta de matemática. Um número encontrado graças à relação do peso corporal com a estatura da pessoa, quando elevada ao quadrado. Um número. Uma pessoa.

O IMC, embora muitos nutricionistas não saibam, não é a melhor maneira de classificar o estado nutricional de alguém. Mas, muitos colegas ainda insistem na regrinha matemática para estimar um peso supostamente adequado para seus pacientes.

O valor estimado como adequado fica entre 18,5 kg/m2 e 24,99 kg/m2. Muitos nutricionistas calculam a média desses valores e impõem aos seus pacientes essa meta cabalística.

Mas, será que apenas esse cálculo é suficiente para entendermos o peso de alguém? Basear a alimentação e hábitos voltados apenas para esse valor pode ser uma grande enrascada.

O IMC quando isolado não representa nada sobre ninguém, perdemos informações importantíssimas. Por exemplo, uma pessoa musculosa e uma pessoa obesa podem dividir o mesmo índice de massa corporal, enquanto na verdade têm diferentes composições corporais. Ok, sei que isso é óbvio, mas por que não continuarmos as indagações sobre o IMC e nos perguntarmos se não existe diferença entre alguém naturalmente mais pesado e uma pessoa que teve o aumento de peso como resultado do estilo de vida?

Pessoas com diferentes etnias, idades, biotipos devem se enquadrar no mesmo valor?

Não está na hora dos nutricionistas se livrarem de suas calculadoras e entenderem seu paciente como um ser único e que merece mais atenção e cuidado ao ter um número estimado de peso?

Fonte: Blog – GENTA (  Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares)

A ponta do iceberg: sobre mindful e intuitive eating

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Por Ana Carolina Pereira Costa,  Fernanda Timerman e Ester Soares Paulino

 Recentemente, é notável o destaque que temas como mindful eating (Comer com Atenção Plena*) e intuitive eating(Comer Intuitivo*) têm recebido por parte da mídia e de colegas nutricionistas simpatizantes a essas abordagens. Ficamos muito contentes que esses temas estejam em voga, pois fazem parte da nossa prática clínica (Genta) há muito tempo, e por isso decidimos criar, em parceria com a Equilibrium Consultoria, a Nutrição Comportamental para divulgar também essas técnicas, sempre tomando cuidado em manter o embasamento científico.  Entretanto, estamos percebendo que, por vezes, tais assuntos surgem como se fossem a ponta de um iceberg, isto é, não estão sendo aprofundados como deveriam.  O risco disso é os conceitos assumirem um caráter reducionista e se tornarem banalizados, descontextualizados daquilo que de fato significam.

O Comer Intuitivo é um modelo baseado em evidências para mudança comportamental criado por Evelyn Tribole e Elise Resch (Tribole; Resch, 2012). A proposta é ajudar as pessoas a confiarem na sua sabedoria corporal para atender às suas várias necessidades. Trata-se de uma abordagem que desconsidera a prática de dietas como possibilidade de mudança de comportamento. Seus 10 princípios básicos já foram explicados aqui. Já o Comer com Atenção Plena, segundo definição de Bays (2009), é “uma experiência que engaja todas as partes do nosso ser – corpo, mente e coração – na escolha e preparo da comida, bem como no ato de comê-la em si. Envolve todos os sentidos. O comer com atenção plena nos imerge nas cores, texturas, aromas, sabores e até mesmo sons do comer e beber. Permite que sejamos curiosos e até lúdicos enquanto investigamos nossas respostas à comida e nossos sinais internos de fome e saciedade.” Essa maneira de abordar o comer, com foco total no momento presente, vem do mindfulness (Atenção Plena), que pode ser definido como a capacidade intencional de trazer atenção ao momento presente sem julgamentos ou críticas, com uma atitude de abertura e curiosidade (Kabat-Zinn, 1990; Bauer-Wu, 2011).

Nós do Genta defendemos que tais abordagens não são “um meio para um fim”, isto é, não se tratam de estratégias e técnicas destinadas a emagrecer pessoas ou controlar o estresse das dietas restritivas. Sempre pontuamos que PESO não é COMPORTAMENTO, e sim uma possível consequência, mas nunca o foco! Reconhecemos que os conceitos dessas técnicas vão contra o que muitas vezes nós, nutricionistas em geral, pregamos/prescrevemos. Por exemplo: ao prescrevermos o que e quanto o indivíduo deve comer, já estaríamos indo contra os princípios básicos dessas técnicas, que visam o resgate da autonomia alimentar. Vejam como é complexo! Essas abordagens visam transformar nos níveis mais profundos a relação dos indivíduos com a comida e com sua alimentação.  Acreditamos que, mais do que técnicas a serem estudadas, tais abordagens científicas devem fazer parte do próprio estilo de vida do nutricionista que deseja aplicá-las. Para um nutricionista usar os conceitos de Comer com Atenção Plena em sua atuação clínica, é indicado que ele próprio tenha experiência considerável com a prática de meditação mindfulnessem sua vida pessoal. Existem algumas dicas que podem ser extraídas, como não ter distrações na hora da refeição, prestar atenção aos sinais internos de fome e saciedade, etc.; porém, isto é apenas comer consciente, e não o princípio total do Comer com Atenção Plena.

O Genta procura transmitir aqui em seu blog um olhar crítico e experiente sobre assuntos que aparecem sobre indústria da moda, indústria alimentícia, publicidade, transtornos alimentares, obesidade e sobre nutrição em si. Nossa opinião é parte de um trabalho muito mais profundo, fruto de muitos estudos e pesquisas – que sempre pautam nossa atuação e posicionamento. Portanto, esperamos que estas técnicas e modelos (Comer Intuitivo e Comer com Atenção Plena) continuem cada vez mais populares, mas sem desvio de seu real propósito, sem banalização como mais um instrumento para “perder peso” ou repassadas por outros profissionais sem o cuidado devido (de estudo, prática e profundidade) que essas técnicas merecem.

 Para saber mais:

Bauer-Wu S. Leaves falling gently: living fully with serious & life-limiting illness through mindfulness, compassion and connectedness. Oakland: New Harbinger Publications Inc, 2011

 Bays JC. Mindful eating: a guide to discovering a healthy and joyful relationship with food. Boston & London: Shambala, 2009.

Boudette R. Integrating mindfulness into the therapy hour. Eating Disorders, v. 19, n. 1, p. 108-115.

Kabat-Zinn J. Full catastrophe living: using the wisdom of your body to face stress, pain, and illness. New York: Delta, 1990.

Tribole E; Resch E. Intuitive eating: a revolutionary program that works (2012).

* As traduções para os termos mindful eating e intuitive eating aqui colocadas foram cunhadas pelos autores dos respectivos capítulos do livro Nutrição Comportamental (Alvarenga MS; Figueiredo M; Timerman F; Antonaccio C. Barueri: Manole, 2015), que será lançado no segundo semestre.

Fonte: Blog – GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Casa de vó

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Por Manoela Figueiredo, nutricionista

Fui ontem para a casa da minha mãe, buscar meu filho e minha sobrinha, que estavam passando uns dias com ela. Assim que eu cheguei, senti aquele cheirinho de casa de mãe. Imagino que seja um cheiro sempre familiar para cada pessoa, um cheiro que tem o poder de transformar o momento presente em memórias do passado. Cheiro de lareira, de perfume, de comida.

Era o que eu estava precisando, estava cansada. Minha mãe esquentou uma sopa e me deu uma taça de vinho, nada poderia ser melhor.

As crianças já estavam de pijama e com cara de sono, eram quase dez da noite, férias. Mas meu filho veio da cozinha tomando um picolé de abacaxi, contando que eles que tinham feito, e que era do abacaxi de verdade, muito fácil de fazer e que tinha ficado delicioso; emendou dizendo que também tinham feito brigadeiro e colocado nuns copinhos especiais da vovó, lindos e de vidro.

Crianças gostam de explorar, de pegar, de fazer, de experimentar e se interessam pela forma, pela cor, pelo cheiro e pela textura das coisas – por isso atividades que envolvem alimentos ajudam a desenvolver uma relação saudável com a comida. Tanto faz se a atividade foi com a fruta (abacaxi) ou com o doce (brigadeiro), pois o mais importante é estabelecer uma relação de intimidade com a cozinha, com o que tem dentro dela, com os utensílios – o que faz um liquidificador, ou como o fogo e o forno transformam os alimentos. É muito legal mostrar uma carne ou um peixe antes de ir ao forno – a textura, o cheiro e a aparência e depois de pronto, como aquela transformação acontece.

Antes de me sentar para escrever, eu estava tomando café e meu filho chegou perto da mesa, olhou o que tinha e abriu um pote de castanha do Pará, pegou duas e já ia fechando a tampa quando minha sobrinha falou: “Ei, também quero!”, pegou logo três e saiu correndo para brincar.

Na casa da minha mãe é assim, tem comida de verdade, tem frutas, arroz, feijão, bolo, goiabada, macarrão, leite com chocolate, pão com manteiga e geleia, pipoca… Não tem comida especial para criança, não tem um monte de pacotes e embalagens coloridas, com personagens.

Fico aqui pensando como é bom entrar na casa da minha mãe e lembrar da minha infância na casa da minha avó, onde comíamos gemada de manhã e suspiro à tarde, com os ovos que íamos buscar no galinheiro atrás da casa, e perceber que aqui também não é mais só a casa da minha mãe, é uma casa de vó que continua ensinando as crianças a comerem comida! Comida de verdade e gostosa, e eu espero que um dia Antonio e Angelina também compartilhem dessas memórias.

Fonte: Blog – GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares