Aspectos psicológicos envolvidos na ovodoação

doação de óvulos

Por Luciana Leis

Quando um casal com dificuldades para engravidar busca o auxílio dos tratamentos de reprodução assistida, na maioria das vezes, espera sair desse processo com um filho biológico. Porém, em casos como os de falência ovariana e menopausa precoce, a fertilização com óvulo de doadora pode ser a alternativa terapêutica indicada pelo médico para a concretização do sonho de ter um filho.

A ovodoação precisa ser entendida a fundo, ela é muito mais do que um procedimento indicado pelo médico. Há questões psicológicas advindas dessa técnica que merecem cuidados especiais para que sejam evitados problemas futuros.

Sempre que falamos de ovodoação, estamos trazendo o tema adoção em pauta. É verdade que se trata de uma adoção diferente da tradicional, mas para a mulher que realiza esse tipo de procedimento, muitos dos aspectos psicológicos envolvidos na adoção clássica também são vivenciados na ovodoação. Assim, o luto pela perda do filho biológico e sentimentos de dor e frustração advindos desse processo podem ser experimentados para, aos poucos, cederem lugar às novas possibilidades de maternidade.

Há muitas mulheres que encontram dificuldades para entrar em contato com esse luto, negando para si mesmas o fato da adoção do óvulo, acreditando que por terem gerado a criança em seu próprio ventre, o material biológico é mesmo delas. Nestes casos, a negação inconsciente da necessidade de se utilizar o óvulo de uma mulher doadora marca a dificuldade de aceitação deste tipo de adoção, podendo, inclusive, gerar fantasmas posteriores ao nascimento do bebê, caso esse conteúdo inconsciente venha à tona novamente, em alguma outra etapa da vida.

Outro aspecto emocional que pode ser acionado com a ovodoação é a fantasia de traição por parte do marido, através da fecundação do óvulo da doadora com o espermatozóide de seu companheiro. Por mais irracional que este tipo de pensamento possa parecer, precisamos considerar que o registro psíquico que temos de concepção de filhos é sempre a partir do material genético de cada um dos membros do casal, sendo, muitas vezes, difícil para algumas pessoas elaborar essa nova forma de concepção.

Para casais que disputam poder dentro da relação conjugal, a ovodoação pode potencializar conflitos e ainda vir a prejudicar um terceiro: a criança.

Tendo em vista os fatores levantados até agora, é possível compreender o porquê o emprego da ovodoação precisa ser cauteloso e requer um acompanhamento psicológico.

Se apropriar do óvulo de outra mulher “como seu” requer um trabalho interno de elaboração desse processo, uma vez que para algumas mulheres, a ovodoação pode representar a frustração de não poder gerar um filho com seus próprios óvulos. Para outras, a experiência da ovodoação se traduz numa vivência de gratidão a alguém que não se conhece, mas que foi fundamental para entregar-lhe um presente para toda a vida.

Fonte: Projeto Alfa