Comer intutivo: para mim a melhor opção

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Por Manoela Figueiredo, nutricionista

O post é longo, peço desculpas, mas fiquei indignada com o artigo publicado recentemente pela revista do New York Times, resolvi traduzi-lo para que todos possam ler, assim como também traduzi a resposta da Evelyn Tribole, criadora do Intuitive Eating (Comer Intuitivo) junto com Elyse Resch e uma das nutricionistas mais sérias que conheci. Entender, conhecer, estudar e aplicar o Comer Intuitivo mudou minha vida pessoal e professional. Não acredito que exista outra maneira para que as pessoas comam melhor, mais conscientes, até menos e com mais qualidade sem acessar os sinais internos de fome, saciedade e as razões pelas quais estamos comendo. Comemos comida e não calorias. Como podemos viver de contar algo que é incontável? Como podemos continuar a tentar “determinar” através de regras rígidas e inflexíveis o que as outras pessoas devem ou não gostar de comer? É claro que sou uma nutricionista e devo compartilhar e ajudar meus pacientes com meus conhecimentos biológicos sobre o corpo, a comida e a Nutricão, mas só isso não basta! E o que verdadeiramente faz com que meus pacientes comam melhor e sejam mais felizes e saudáveis é a relação que estabelecemos e que os ajuda a aprenderem a se cuidarem com mais amor e carinho, e não as regras dos números e dos porcionamentos restritos. Seguem os textos para reflexão:

Os limites do comer “intuitivo” – The Limits of “Intuitive” Eating – Gretchen Reynolds

Esse artigo foi publicado em 22 de novembro de 2015 na revista do The New York Times (veja aqui)

As pessoas detestam contar e cortar calorias. Este dado não surpreendente está por trás do crescimento do “Intuitive Eating” (Comer Intuitivo), uma abordagem que tira o foco da dieta e prioriza atender os sinais do corpo, como a fome e, acima de tudo, a saciedade. Apesar de vários livros, seminários e avaliações de especialistas em obesidade, o Comer Intuitivo não tem sido objeto de muita investigação científica. No entanto, um estudo recente avaliou uma das primeiras comparações do efeito da restrição calórica e do Comer Intuitivo. Esse estudo foi publicado em outubro no Nutrition and Health e conduzido por Judith Anglin, uma professora de nutrição e diretora do programa de dietética da Texas Southern University, que estava indignada pelo número cada vez maior de pacientes e amigos se inscrevendo em programas de Comer Intutivo.

Anglin e os coautores recrutaram 16 universitários, homens e mulheres obesos, e mediram seus pesos, IMC, indicadores de saúde e metabolismo. O número de voluntário foi pequeno por se tratar de um piloto, mas há planos para estudos de longo prazo e com número maior de voluntários. Oito voluntários receberam uma dieta entre 1200 e 1800 calorias, dependendo de sua taxa metabólica basal e com um deficit energético de 500 calorias por dia.Também receberam instruções e aconselhamento sobre como comer de forma saudável dentro dos seus limites de calorias. Os demais indivíduos praticaram o Comer Intuitivo, um programa que pode ser visto no site oficial e que é  guiado por dez princípios, dentre os quais “rejeitar a mentalidade de dieta”, “honrar sua fome” e “fazer as pazes com a comida”. Para esse grupo não foi dada uma meta calórica. Para que a atividade física não fosse significativamente diferente e não influenciasse a perda de peso, ambos os grupos foram orientados a fazer atividade física leve três vezes na semana no laboratório, e evitassem outras atividades externas.

Depois de três semanas, os pesos foram avaliados e os voluntários receberam mais aconselhamento eencorajamento. Depois de mais três semanas, os voluntários do grupo de restrição calórica perderam em media 2,4kg cada. A perda foi maior nas duas primeiras semanas, disse Anglin, e depois estacionaram. Mas depois do encontro após as primeiras três semanas, esses voluntários voltaram a se animar e perderam uma media de mais 1,1kg nas três semanas seguintes.

O grupo dos voluntários da abordagem do Comer Intuitivo começaram bem, de acordo com Anglin, perdendo mais peso em média do que o outro grupo. Porém, na segunda etapa, a maioria começou a recuperar o peso perdido. No fim das seis semanas, poucos perderam peso e outros ganharam por volta de 0,9kg.

O resultado final: calorias importam sim, diz Anglin. As mensagens do corpo sobre fome e saciedade podem ser importantes e úteis, mas devem vir acompanhadas de um certo controle da ingestão calórica. Ninguém, ela diz, parece conseguir perder peso a longo prazo apenas atendendo intuitivamente à sua fome com uma fatia de bolo de chocolate.

Segue a resposta de Evelyn Tribole, publicada junto ao artigo

Minha resposta ao artigo do NYT: Ms Reynolds escreveu que não há tanta pesquisa científica sobre Comer Intuitivo. Não é verdade. Existem mais de 40 estudos publicados sobre Comer Intuitivo mostrando seus benefícios de saúde. No mês passado, uma revisão sistemática foi publicada sobre o Comer Intuitivo com 24 estudos, com um total de 9000 pessoas. Ainda, Ms Reynolds escolheu evidenciar e mostrar um estudo com apenas 16 pessoas, que comparou contagem de calorias com comer intuitivo por seis semanas e concluiu que sim, calorias devem ser controladas. Esse estudo isolado reflete as premissas e não o status de toda a pesquisa que envolve o Comer Inyuitivo. Essa abordagem se baseia em cultivar uma relação saudável entre comida, mente e corpo. Fazer dieta via restrição calórica pode gerar maior perda de peso a curto prazo; porém, um grande número de pesquisas mostra que fazer dieta é perigoso e prejudicial – leva ao ganho de peso e à maior eficiência calórica, o corpo ganha mais peso em gordura como consequência da restrição calórica. Um estudo com 4000 gêmeos encontrou que fazer dieta, independente da genética, associa-se significativamente com o ganho de peso. Fazer apenas uma dieta já aumentou em três vezes a suscetibilidade para ter sobrepeso em comparação com o gêmeo que não fez dieta. O estudo concluiu: “Está bem estabelecido que quanto mais as pessoas fazem dieta, mais ganham peso”. Esse estudo demorou 5 anos para ser concluído e não 6 semanas.”