Fome de cuidado

Fome do cuidado

Por Erika Romano, nutricionista

Na semana passada, subindo as escadas rolantes de um shopping center, deparei-me com uma criança, cuja face entediada e com um pingo de revolta, indagava para a mãe “pão de queijo na janta de novo não!!”. E automaticamente, com pensamento longe, a mãe respondeu: “ Vamos”?

Como mãe senti uma distância profunda, como nutricionista um grito de tédio e desespero. Aquela imagem rendeu, aos meus pensamentos, o resto do dia de reflexões. Então, resolvi dividir com vocês. Uma cena simples, mas com contexto bastante delicado. Irritou-me um pouco o rosto da mãe, como se comer fosse tão prático como trocar de roupa. É claro que nas confusões do nosso dia a dia, necessitamos sim de uma alimentação mais prática, mas isso não quer dizer falta total de programação. Um dia ou outro, fazer um lanchinho rápido e até o delicioso pão de queijo, por que não? Mas todo dia, ninguém merece. É preciso enxergar a grandiosidade de um cuidado alimentar. O carinho que pode ser passado pela comida, o aconchego e a história de cada pessoa degustada com o amor de um prato. Num mundo onde a comida muitas vezes entra como vilã, usar parte do tempo para prepará-la virou artigo de luxo. Certo dia, em meu consultório, ouvi de uma paciente já adulta – com sérios problemas alimentares – uma frase que gelou-me a alma: “a minha mãe nunca teve cuidado comigo, nunca me fez uma lancheira. Tudo era sempre prático e pronto. Nada feito, nada elaborado. Nenhum minuto perdido para mim”. Hoje, mãe e filha mal se falam. Uma mulher com fome de amor. Fome de cuidado. Fome de carinho. Até quando vamos deixar de alimentar nossa essência?

Pense nisso, e tenha um ótimo lanche da tarde com um pão de queijo quentinho saindo de seu forno e um jantar maravilhoso sentado na mesa de sua casa com todo o amor de sua família. Até a próxima!