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Comer Emocional – Gatilhos emocionais para comer

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Vamos olhar  para o comer emocional, mas alguns passos anteriores, ou seja, o que pode “ativar” ou “intensificar” o comer emocional. Lembrando que: (a) comer por questões emocionais per se não é errado; (b) dependendo da intensidade e frequência que o comer emocional assume pode se tornar um problema.

Seguem alguns exemplos de situações que desencadeiam o comer emocional:

Excitação

Quando a vida está chata a comida pode ser usada para injetar animação nela. Por exemplo, cozinhar uma receita especial ou nova é algo que gera grande entusiasmo em algumas pessoas. Outro exemplo é fazer uma reserva / ir a algum restaurante que sempre quis ir/gosta. Esses dois exemplos, podem ser grandes eventos na vida de algumas pessoas e comida se tornar central.

Fazer dieta frequentemente criar um senso de excitação muito forte, esperança. Por um novo corpo e uma nova vida. Esse é um dos motivos pelos quais as dietas para perda de peso / ganho de massa muscular são sempre tão ostentadas e desejadas. Quando a dieta acaba o senso de excitação é substituído por desespero, que por sua vez é substituído por uma nova excitação: comprar ‘alimentos proibidos’ em grande quantidade.

Frustração e Raiva

Ter uma briga no trânsito ou uma discussão no trabalho podem deixar uma pessoa realmente brava. A raiva / frustração podem ser ‘descontadas’ na comida. Alguns alimentos são peculiarmente mais consumidos uma vez que o comer emocional é acionado por esses gatilhos. Para algumas pessoas, morder e quebrar o alimento ajuda a descarregar esses sentimentos, por isso os alimentos mais relacionados são os crocantes e duros. Esse gatilho geralmente está relacionado à graus de intensidade do comer emocional mais prejudiciais.

Tédio e Procrastinação

 

O tédio é um dos sentimentos mais comuns que serve como gatilho para o comer emocional. É um jeito de preencher o tempo e/ou de adiar uma tarefa que precisa ser feita. Para algumas pessoas o fato de procurar por comida e comê-la espanta o tédio.

Alguns exemplos de situações práticas: estar em casa em um sábado à noite e não ter planejado nada para esse momento; esperando por uma ligação importante; assistir TV domingo à tarde sem nada pra fazer; arrumar toda a casa e a tarde não ter ‘nada para fazer’, ter passado o dia inteiro fazendo um trabalho sentado no computador, etc.

Percebo que a cada 10 pessoas que me contam que ‘comem porque são ansiosas’ pelo menos 6 estão falando sobre tédio. Esse exemplo fica claro especialmente em crianças que ‘brincam pouco’ e ‘comem muito’. Literalmente uma falta e que a comida tenta preencher.

Recompensa e Suborno 

Prometer a si mesmo, ou a outro, que irá comer algo que gosta muito após realizar uma tarefa especialmente chata – “eu mereço comer aquilo, especialmente hoje”. O caso típico do pai/mãe que trabalham e que sentem necessidade de trazer um doce para o filho para ‘compensar’ sua ausência. Alguns exemplos:  Um dia extenuante de trabalho e a pessoa premia a si própria com uma comida especialmente gostosa / proibida para ela; A criança não come e a mãe diz que se ela comer toda a comida do prato vai ganhar mais um pedaço de pudim.

Acalmar

A comida pode realmente acalmar. Imagine que você está numa situação difícil nesse momento. Entre (a) ir a cozinha e pegar alguns chocolates/bolachas  OU (b) sentar no sofá e experimentar todas as sensações ruins que estão borbulhando dentro de você, é fácil imaginar qual a situação mais apelativa. Especialmente se esse chocolate/bolachas o fizerem lembrar de um momento ou época em que a vida era menos complicada e mais prazerosa.

Amor

Vários comerciais de alimentos relacionam a comida com uma forma de demonstrar afeto. Não é à toa que isso também faz parte do nosso rol de emoções relacionadas à comida. Um exemplo emblemático são os chocolates para o dia dos namorados. Outro exemplo clássico é dar coisas que o seu filho gosta muito de comer para demonstrar o quanto ama ele.

Algumas pessoas têm muita dificuldade em negar alguma comida, por percebê-la como símbolo de afeto. Para elas, por exemplo, negar o bolo de sobremesa na casa da vizinha, não é uma opção (mesmo se estiver muito cheia ou não gostar do bolo).

Existem muitos outros gatilhos emocionais para o comer. Esses são apenas alguns deles!

É importante ressaltar que a maioria das pessoas não se dá conta que gatilhos emocionais influenciam sobre a sua alimentação. Elas acham que comem porque “tem olho grande”, “são gulosas”, “porque é muito gostoso”, etc. Repito: se dar conta é um passo muito importante!

Entretanto perceber e nomear alguns sentimentos/sensações não é uma tarefa simples para a maioria das pessoas. Consultar um profissional da psicologia para ajudar a reconhecê-los pode ser uma boa estratégia para ajudar a lidar com esses sentimentos.

O papel do nutricionista também é essencial ajudando a distinguir estes da fome física (e o que fazer com ela). A reação mais comuns das pessoas (e também de muitos profissionais) quando descobrem esse tema é achar que tudo é emocional. Na verdade não é! A fome física existe e não pode ser ignorada! Ignorá-la (ou não saber diferenciar, achar que é emocional) pode trazer mais frustração e consequências físicas e psicológicas (Leia mais).

Que tal começar a prestar atenção em como você lida com a comida?

Bibliografia:

Tribole E, Resch E. Intuitive Eating. 3rd ed. New York: St. Martin´s Griffin. 2012.

http://www.intuitiveeating.org/

Fonte: Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Você Come Assim?

Comer-rapido

Por Karin Dunker, nutricionista

Começo essa reflexão com algumas histórias do nosso dia a dia de consultório….

Uma paciente refere que luta com o momento da refeição, diz que não consegue comer sozinha, e que quando o faz na verdade fica enrolando para comer por uma hora, por medo de que aquele pouco que está comendo vai engordá-la !

A outra paciente diz que come muito rápido, não têm tempo e paciência para sentar-se a mesa , pois acha que este momento não é importante. Engole tudo em 5 minutos, e volta para sua corrida rotina de trabalho.

Parecem dois exemplos opostos, mas na verdade as duas não conseguem lidar com o momento da refeição. Parar para comer, prestar atenção no que está comendo, ter prazer naquele momento da refeição, e sentir se satisfeito e feliz depois. Você conhece alguém que acha isso  importante ?

Claro que deve conhecer, mas acho que são poucos os que realmente conseguem perceber os sinais do corpo de fome e saciedade, tão importantes para ter uma refeição  prazerosa, e satisfatória. Vivemos na urgência do tempo, no trabalho, em casa, com a família, filhos, amigos. Com tantas obrigações e metas a serem atingidas, será  que comer deixou de ser importante ?

Não temos mais tempo para comer, mas temos tempo para correr. Sim, precisamos comer isso é certo, todos sabem, pois os alimentos são o nosso combustível, e sem eles morremos. No entanto percebemos no consultório que comer deixou de ser um prazer, e passou a ser uma obrigação, o alimento é visto como algo que engorda, que pode fazer mal, que pode te deixar doente, mas que ao mesmo tempo pode funcionar como algo mágico, a cura para uma doença, a fórmula da juventude. E onde fica o prazer ?

Que tal experimentar algo novo ? Pense no momento da refeição como um momento agradável, onde você têm a oportunidade se saborear algo gostoso e saboroso ! Um bom exemplo é o momento em que o crítico de gastronomia no filme Ratatouille degusta o prato de chef que faz remete-lo a boas lembranças da infância (veja o video).

http://www.youtube.com/watch?v=4nBOyVG7oIM

Então esqueça todos os conceitos que você têm do que é certo e errado. Experimente saborear sua próxima refeição, com tempo, com alguém que você goste, sentado à uma mesa bem posta, escutando uma música agradável, e perceba o prazer que esse momento pode te dar !

Fonte: Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Como eu expliquei para uma paciente o que é comer de forma flexível!

como expliquei para paciente

Por Manoela Figueiredo, nutricionista

Semana passada eu estava em uma consulta com uma paciente nova que me contava as inúmeras dietas que já tinha feito e as incontáveis vezes que tinha perdido peso, ficado muito bem, mas no fim sempre acabava deixando a dieta de lado e engordando de novo e se sentindo muito fracassada.

Fui tentando conversar com ela e explicar porque as dietas não funcionam e porque as pessoas engordam de novo quando não mudam o jeito de se relacionar com a comida, mas ela insistia em me dizer: “sou muito disciplinada, se você me passar as orientações, eu vou seguir”.

E eu insistia em lhe dizer que não acreditava mais naquele modelo de seguir prescrições pré-determinadas por outra pessoa e não pelas escolhas dela própria, com a minha ajuda e orientação.

Então me veio um exemplo, uma metáfora, e eu perguntei à ela:

– “Você já andou a cavalo?”

– “Sim”, disse ela.

– “O que acontece quando você segura a rédea muito firme e apertada?”

– “O cavalo fica bravo, empina e você perde o controle” ela disse.

– “E quando você deixa a rédea solta demais?”

– “O cavalo se solta, dispara e você perde o controle” concluiu ela.

– “Pois é disso que estou falando, assim que eu acredito que deve ser a alimentação, nem cheia de restrições e nem completamente solta, no modo tudo ou nada há sempre a perda de controle: o cavalo sem condução sai em disparada e o cavalo preso empina e se irrita, os dois podem te derrubar. Para uma cavalgada leve, gostosa, prazerosa é preciso segurar as rédeas nem tão apertadas e nem totalmente soltas, é preciso interagir com o animal, ser flexível e acima de tudo confiar nele e eu acredito que também é assim que podemos ter uma boa relação com a comida”.

Depois de um breve silêncio, senti que minha metáfora funcionou, ela abriu um sorriso e me disse que era assim que ela gostaria de conseguir comer, e eu disse, e é assim que eu posso te ajudar!

Pensem nisso!

Fonte: Blog GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Por que eu amo ser nutricionista

por que amo ser nutricionista

Por Marcela Salim Kotait, nutricionista

Já sabia que seria nutricionista clínica antes mesmo de terminar a faculdade. Tendo essa certeza tão precocemente, não imaginava que suas consequências ainda me surpreenderiam após tantos anos, a cada dia, a cada nova consulta… Por isso decidi dedicar esse post para você que já passou em consulta comigo ou com outro colega de profissão, ou que ainda vai passar.

Você não imagina como é especial, não imagina a honra que é poder entrar na sua vida e conhecer sua intimidade, quando me conta sobre sua alimentação. São muitos os que comem com medo, com culpa, escondido, rápido, sem sentir o gosto… E que dividem essas sensações comigo no dia-a-dia do consultório. Acredito que entre as coisas mais pessoais e íntimas esteja a alimentação, e sei que nem sempre é fácil permitir que outra pessoa conheça esse aspecto tão importante da sua vida, mesmo quando essa outra pessoa sou eu, sua nutricionista. Ainda mais especial é saber que você, além de estar disposto a tanto, quer minha ajuda para mudar. Que honra! Dividir com você o que você tem de mais seu, e ainda tentar te ajudar.

Deixar que eu entre na sua vida, lembrar do que conversamos várias vezes ao dia, mandar mensagem ou email me contando sobre suas férias, quando você finalmente tirou a canga e andou pra lá e para cá de biquíni. Mandar a foto com o jantar que você mesmo preparou para sua namorada, com todo carinho.

A cada dia de trabalho, em que várias pessoas passam pela minha sala, vou guardando as histórias de luta e superação comigo, como tijolos que vão me ajudando a trilhar meu caminho como nutricionista.

Com tanta responsabilidade, me sinto no direito de continuar lutando com você para que seu amor pelo próprio corpo aumente ainda mais, para que você volte a comer sem culpa e sentindo prazer, que você se redescubra e redescubra os outros através de um novo olhar que conquistamos juntos, no consultório.

Como sempre digo, acredito piamente que meu dever e minha missão como nutricionista é auxiliar novos processos na sua vida, por isso, esqueça daquela imagem da nutricionista julgadora e acredite que podemos ser parceiros para mudarmos o mundo.

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição  e Transtornos Alimentares

Salvem o pãozinho

salvem o pao

Por Marcela Kotait, nutricionista

Esses dias assisti a um vídeo engraçado, em que algumas pessoas eram abordadas num parque e questionadas sobre sua dieta sem glúten (veja aqui). Mesmo sabendo que a seleção de respostas pode ter sido tendenciosa – o programa é daqueles “talk show” em que sempre há espaço para piadinhas no início – ,nenhum dos entrevistados sabia responder o motivo da aderência à dieta, muito menos o que é glúten e qual sua função.

Resumidamente, o glúten é uma proteína encontrada no trigo, na aveia, na cevada, no malte, no centeio e em seus derivados, como pães, massas, bolachas, pizza, biscoitos, cerveja, uísque e em uma infinidade de outros alimentos. Algumas pessoas podem ser alérgicas, outras intolerantes a essa proteína. Em teoria, só essas pessoas deveriam adaptar sua alimentação, evitando assim o consumo do glúten, de preferência com auxilio de um nutricionista.

O que vemos hoje é uma disseminação em larga escala da dieta “gluten-free”, ou “sem glúten”. A demonização do glúten chegou. Celebridades, atrizes e blogueiras (leia mais sobre o terrorismo feito por elas aqui) encabeçaram como uma caça as bruxas, uma caça aos alimentos com glúten.

Como nutricionista, mais uma vez, gostaria de salientar a importância de uma dieta equilibrada. Você já deve ter lido em vários posts deste blog sobre a importância do comer consciente, de escutar seu corpo, honrar sua fome e respeitar sua saciedade. E frente a essas informações, me questiono se essas dietas e restrições “famosas” não são na verdade as velhas e questionáveis maneiras de se restringir a maioria dos alimentos fonte de carboidratos.

Isso porque a grande maioria das pessoas que restringem o glúten acaba por abranger nessa restrição os alimentos fonte de carboidratos, mal interpretados como vilões da boa forma.

Quantas vezes será necessário desmistificar o consumo do carboidrato, ou do glúten, ou da lactose, ou das frutas, ou da proteína, ou das gorduras, ou dos shakes(Veja aqui, aqui, aqui e aqui)? Quantas pessoas vão perder peso às custas de um sofrimento inenarrável e depois recuperar? Quantas vezes será preciso gritarmos que dietas não funcionam? Quantas vezes será necessário dizermos que comemos comida e não nutrientes?

Por favor, salvem o pãozinho.

Fonte: Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Pense duas vezes antes de colocar seu filho de dieta!


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Por Sophie Deram, nutricionista

Hoje estamos falando tanto desta epidemia de obesidade infantil que isso assusta todos os pais e até filhos. Agora há programas para combater obesidade e sempre começa com uma pesagem das crianças, com uma entrega de um cartão com as avaliações, como se fossem notas do tipo “passou ou não passou”. Claro que é importante se preocupar com os nossos filhos e é normal desejar ajudá-los a estar com boa saúde. O problema é que sabemos muito sobre os perigos de saúde associados à obesidade na infância, mas poucos entendem sobre os perigos de colocar as crianças em uma dieta restritiva.

Durante a fase de desenvolvimento, algumas crianças podem ganhar peso mais rápido do que crescer em altura. É importante respeitar o próprio ritmo do corpo e focar no estilo de vida saudável da criança para ajudá-la a manter o seu peso até ela alcançar a sua altura. Focar só no peso nesta idade pode ter consequências muito importantes no comportamento da criança frente a seu próprio corpo, no peso futuro ou no desenvolvimento do comer transtornado.

Quando só focamos no peso, a lógica seria colocá-la em dieta: fechar a boca e malhar para ela perder peso. No começo, talvez você até veja uma queda no número da balança, mas logo você tem o risco de ver seu filho com um apetite maior, um ganho de peso ou um medo de ganhar peso que pode afetar sua saúde. O corpo dele esta em crescimento e o recado que seu cérebro percebe quando se faz dieta é de perigo, porque não esta mais comendo. O cérebro vai desenvolver um processo de adaptação, hoje bem descrito pela ciência, e aumentar seu apetite e colocá-lo em risco, por exemplo, de desenvolver compulsões por alimentos.

Este mês, recebi uma menina de 15 anos com uma mãe muito estressada, me dizendo que a sua filha não parava de engordar. Quando conversei com a menina, percebi que ela está sofrendo de compulsões por doces todos os dias. Isso começou dois meses após uma dieta sem carboidratos feita com médico. Este tipo de dieta restritiva pode aumentar em até 18 vezes o risco de ter transtornos alimentares, e a coitada não conseguia segurar esta onda de compulsões por doces à tarde.

A mãe, que nunca teve compulsões, não podia entender, estava desesperada e muito furiosa com a filha que não conseguia ter “força de vontade”. Tive que explicar que compulsões não têm nada a ver com falta de força de vontade, mas sim que ocorriam devido a uma adaptação do cérebro ao susto da dieta sem carboidratos. Eu vejo isso em adultos e agora cada vez mais em adolescentes!
Se você estiver preocupado com o peso do seu filho, você deve saber que as dietas não são a solução, mas podem tornar o problema maior!

Quais são os risco de fazer dieta com crianças:
* A restrição e o controle nas escolhas e nas quantidades dos alimentos podem fazer com que a criança perca qualquer controle quando os pais não estão por perto.
* Dietas podem levar as crianças a comerem escondidas e com culpa, e isso pode ser um problema que persistirá até a idade adulta.
* Fazer dieta afeta negativamente a autoestima, que pode já ser baixa devido à obesidade e ao preconceito de outras crianças.
* Dietas podem criar uma relação conflituosa entre pais e filhos.
* Redução de calorias pode impedir que a criança receba os nutrientes adequados para a saúde e um crescimento adequado.
* Fazer restrição pode acionar um ganho de peso ainda maior do que antes da dieta.

Em vez de forçar uma criança a fazer dieta, hoje se sabe que é muito melhor incentivar hábitos saudáveis para toda a família e respeitar a fome e saciedade do filho com excesso de peso e também dos outros. Claro que é importante fazer mudanças para ajudar a criança, mas essas mudanças devem ser da família inteira, sem discriminar a criança que sofre um desafio com o peso, focando na saúde e não no peso!

* Evite comentários negativos sobre o peso ou o corpo, não só da criança, mas de qualquer outra pessoa.
* Não categorize aos alimentos como “bons” ou “ruins”. E também não categorize o jeito de se alimentar como “perfeito” ou como “porcaria”.
* Estabeleça em casa padrões mais equilibrados, acrescentando legumes e frutas, cozinhando e degustando alimentos, nutrindo o corpo com uma alimentação de qualidade e com alimentos mais verdadeiros. Envolva as crianças nas compras e preparações de refeições.
* Sirva porções menores e permita a criança a se servir de novo caso esteja com fome ainda. Respeite a fome e saciedade da criança e permita seu filho não terminar o prato caso não esteja mais com fome.
* Deixe seu adolescente sair com os amigos sem fazer depois uma fiscalização. Todo mundo tem direito a comer com prazer e dar escapadas na qualidade, especialmente adolescentes que saem com os amigos geralmente em fast food.
* Incentive uma autoimagem positiva, ajudando seu filho a descobrir seus talentos e interesses especiais. Não é o peso que determina quem ele é!

É uma dinâmica familiar que vai beneficiar todo mundo!

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

7 coisas que comer normalmente pode fazer por você – e que não tem nada a ver com o seu peso!

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Por Cezar Vicente Jr, nutricionista

Há algum tempo a comida foi reduzida a manipulador do peso e forma corporal, infelizmente. Isso quer dizer que quase sempre quando se fala em comida as pessoas pensam se ela engorda ou emagrece, faz ganhar gordura ou músculos, se é “comida de dieta” ou “gordice”…

Esse jeito de pensar a alimentação é simplesmente reducionista. É como olhar para um quadro bonito e se fixar apenas sobre a sua moldura.

A comida é tão plural, com tantos símbolos, funções e repercussões que é praticamente impossível comer normalmente* se a comida e o comer forem diminuídos à apenas alterações no peso e forma física.

Felizmente comer normalmente pode fazer muito mais pelas pessoas do que alterar o peso / forma física:

1)      Dar energia e disposição

Todo o nosso corpo necessita de energia e nutrientes para funcionar adequadamente. Geralmente quando pensamos em energia para o corpo, automaticamente pensamos em energia para fazer atividades físicas e isso é verdade, mas é apenas uma parte da verdade! Nosso corpo precisa de energia e nutrientes mesmo se não praticarmos atividade física nenhuma. Algumas atividades acontecem 24 horas no nosso corpo involuntariamente: respiração, batimentos do coração, pensar, funcionamento do intestino, funcionamento dos rins, etc. Comer normal faz com que seja possível comer o quanto, quando e o quê o corpo precisa para manter todas suas funções adequadas. A tradução de todos esses processos invisíveis acontecendo naturalmente é sentir-se disposto e com energia!

2)      Melhorar o humor

Obviamente o humor depende de vários fatores, apenas um deles é a comida. O humor está em uma esfera emocional e psicológica, porém ele também passa por processos que envolvem hormônios, neurotransmissores, etc. que por sua vez precisam de nutrientes para serem fabricados. A falta de nutrientes e de energia perturba o equilíbrio de fabricação e utilização destes. De uma maneira prática, basta pensar em algum momento da sua vida em que precisou ficar mais tempo que o seu habitual sem comer. É muito comum ficar irritado, com dores de cabeça, com pouca paciência, nervoso, impaciente. Talvez já tenha percebido essas características mas nunca relacionou com a falta de comida. Comer evita essas situações e, sobretudo nessas situações, melhora o humor.

3)      Melhorar concentração

O nosso cérebro é uma das partes do nosso corpo que mais solicita nutrientes e energia constantemente ao longo do dia. A falta destes pode afetar em nossa concentração a curto prazo, e em casos mais extremos, pode afetar a longo prazo de forma irreversível. Crianças que estudam no período da manhã, por exemplo, e que tomam café da manhã conseguem se concentrar mais do que as crianças que estudam nesse mesmo período e que não tomam café da manhã. No trabalho acontece o mesmo, quantas vezes não estamos “conseguindo pensar direito” quando está chegando – ou já passou – a hora do almoço? Comer normalmente ajuda a melhorar a concentração.

4)      Aproveitar melhor a comida

Comer normalmente envolve também comer coisas que gosta, mesmo que elas não sejam exatamente nutritivas. Afinal os nutrientes são apenas uma parte da comida. Outras são, o gosto, comer com outras pessoas, comer suas comidas preferidas, as preparações, o que você tem disponível, etc.

Aproveitar melhor a comida trata-se de ficar mais relaxado (no sentido de “sem neuras” e não no sentido de “descuido”) perante a comida e aí as coisas começam a equilibrar-se. Costumo utilizar o termo “relacionamento com a comida”, pois é exatamente isso! Se toda vez que você se encontrar com a comida ficar muito nervoso, por exemplo, as chances de esse relacionamento ficar tranquilo são muito baixas. O grande ponto é que não podemos nos “divorciar” da comida, ela está aí e vai estar enquanto estivermos vivos.

O melhor jeito de melhorar esse relacionamento é comer sem culpa e aproveitar a comida melhor, sentir o seu sabor, seu cheiro seu gosto, separar um tempo para ela…

5)      Envelhecer melhor

Embora muitas pessoas não queiram envelhecer, o envelhecimento é inevitável. Mas não é necessariamente algo ruim. Sim, algumas coisas se perdem… mas certamente outras se ganham com o envelhecimento. De qualquer modo, comer de maneira normal pode reduzir alguns efeitos não tão interessantes do processo de envelhecimento – como algumas doenças/condições, ou diminuição de algumas funções.

6)      Proteger contra doenças

Esse é sem dúvida o mais óbvio dos benefícios do comer normal. É o mais citado pela grande mídia e os profissionais. É importante relembrar que o fato de não ter nenhuma doença não significa que uma pessoa seja saudável, e também o fato de uma pessoa ter uma doença não significa que ela não possa ser saudável com ela. De qualquer modo, a genética, os microrganismos, o stress, e também os nutrientes (além de muitos outros) têm relações importantes com o desenvolvimento de doenças. E por mais incrível que pareça eles estão conectados, o comer, os nutrientes, o stress, os microrganismos e a genética. Mais importante do que saber o que cada nutriente protege, causa, aumenta ou diminui a probabilidade de ter – até porque isso é uma grande polêmica, e na minha opinião sempre será – é importante saber que comer normalmente ajuda a ficar longe de muitas doenças. Nota mental: Comemos comidas e não nutrientes, e esse é um dos motivos porque sempre esse assunto será uma polêmica.

7)      Tornar mais saudável

Tornar-se mais saudável, entendendo saúde de uma perspectiva mais ampla, pode ser traduzido como tão falado bem-estar. É importante destacar que ter saúde não deve um objetivo de vida. Para Reys (2012) “saúde é uma condição em que um indivíduo ou grupo de indivíduos é capaz de realizar suas aspirações, satisfazer suas necessidades e mudar ou enfrentar o ambiente. A saúde é um recurso para a vida diária, e não um objetivo de vida; é um conceito positivo, enfatizando recursos sociais e pessoais, tanto quanto as aptidões físicas. É um estado caracterizado pela integridade anatômica, fisiológica e psicológica; pela capacidade de desempenhar pessoalmente funções familiares, profissionais e sociais; pela habilidade para tratar com tensões físicas, biológicas, psicológicas ou sociais com um sentimento de bem-estar e livre do risco de doença ou morte extemporânea. É um estado de equilíbrio entre os seres humanos e o meio físico, biológico e social, compatível com plena atividade funcional.”.

Comer normal ajuda sim a ficar mais saudável. E ter saúde é um meio, mas um meio pra quê? “Por que queremos ficar saudáveis?” acho que essa é uma pergunta interessante para se pensar.

Independente da resposta, comer normalmente sem dúvida é algo prazeroso.

É extremamente importante saber que o peso não determinante central da saúde e que é possível promover saúde para uma pessoa independente do seu peso. Isso significa que independente do peso da pessoa existem coisas que ela pode fazer para tornar-se saudável e isso não necessariamente significa que ela “precisa perder peso”. Essa é uma das premissas das abordagens Health at Every Size (HAES), ou Saúde em Todos os Tamanhos. Recentemente foi publicado mais um artigo sobre o tema (aqui). E você pode ler mais sobre o tema em outros postsaqui e aqui.

*Comer Normal: Aqui, para todos os efeitos, entende-se “comer normal” como algo que engloba também a alimentação saudável – do ponto de vista nutricional. O conceito de comer normal que norteia o texto é o criado por Ellyn Satter (2008):

“Comer normalmente é ser capaz de comer quando você está com fome e continuar comendo até você ficar satisfeito. É ser capaz de escolher os alimentos que você gosta e comê-los até aproveitá-los suficientemente – e não simplesmente parar porque você acha que deveria. Comer normalmente é ser capaz de pensar um pouco para selecionar alimentos mais nutritivos, mas sem ser tão preocupado e restritivo a ponto de não comer os alimentos mais prazerosos. Comer normalmente é dar permissão a você mesmo para comer às vezes porque você está feliz, triste ou entediado ou apenas porque é tão gostoso. Comer normalmente é, na maioria das vezes, fazer três, quatro ou cinco refeições por dia, ou deixar a sua fome guiar quantas vezes vai comer ao longo do dia. É também deixar de comer algum pedaço de bolo porque você pode comer mais amanhã ou então comer mais agora porque ele é maravilhoso enquanto ainda está quentinho. Comer normalmente é comer em excesso às vezes e depois se sentir estufado e desconfortável. Também é comer pouco de vezes em quando, desejando ter comido mais. Comer normalmente é confiar que seu corpo conseguirá corrigir os pequenos ‘erros’ da sua alimentação. Comer normalmente requer um pouco do seu tempo e atenção, mas também ocupa o lugar de apenas uma área importante, entre tantas, de sua vida.

Resumindo, o “comer normalmente” é flexível. Ele varia em resposta às suas emoções, sua agenda, sua fome e sua proximidade com a comida e seus sentimentos.” (Adaptação e tradução livre).

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Meu filho tem fome de quê?

meu filho tem fome de que
Por Karin Dunker, nutricionista

Filhos, acho que seria impossível não falar sobre eles, nesta fase de minha vida em que eles são a prioridade, já que são pequenos e estão em fase de crescimento. Uma fase em que precisamos estar muito presentes, dando atenção, carinho, aconchego, suporte, enfim, somos o porto seguro deles.

Vivo o papel diário de ser mãe e nutricionista, o que a princípio pode parecer a mistura ideal. Muitos podem pensar: ahhh, então seu filho come direitinho, né? Todo mundo conhece aquele ditado: “Santo de casa não faz milagre”. Por muitas vezes tenho essa sensação mesmo. Afinal de contas, o que é comer direito? É não comer doces? Não tomar refrigerantes? É comer 5 porções de frutas, verduras e legumes por dia? Isso tudo a gente tem como senso comum, mas será que é tão fácil assim colocar isso em prática?

Como mãe, posso dizer que não é nada fácil, pois existe um sentimento materno que nos impede muitas vezes de colocar em prática o que aprendemos. Na verdade, é uma união de fatores, como cansaço, falta de tempo para preparar a refeição, e as carinhas irresistíveis, que te vencem. Nessas horas, somos vencidas na batalha, mas não precisamos nos sentir derrotadas. Relaxe e curta esse momento! Todo mundo passa por isso, e não é o fim do mundo.

A verdade é que as lembranças que temos de nossa infância são as que marcam a nossa vida. Temos que dar o exemplo, mas não precisamos ser rigorosos e disciplinados o tempo todo. Procure criar momentos em que a alimentação é associada a sentimentos bons.

É fantástico ver a felicidade de meus filhos quando faço bolo de chocolate, brigadeiro, biscoitos enfeitados ou até mesmo uma simples gelatina. Outros momentos, como tomar o café da manhã na padaria, ir ao Mc Donald´s após a aula da sexta feira, tomar sorvete na praia, fazer um piquenique no parque. São momentos marcantes para nossa família, e que com certeza trarão boas lembranças alimentares, e que já deixam saudades. Esses momentos passam, pois os filhos crescem, e os interesses mudam. Portanto, se você for mãe, aproveite essa fase para cozinhar com seu filho, desfrutar dos momentos das refeições em família. No final, o que fica é que você viveu e compartilhou com eles!

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Uma história real

Sem título

Por Manoela Figueiredo, nutricionista

A cena:

Terça-feira, 13h30, férias de julho, filho de seis anos, mãe e avó almoçam e a ajudante passa um café bem cheiroso na cozinha.

O diálogo:
– Filho quer batata-doce?
– Não gosto.
– Experimenta de novo?
– Não quero.
– Mais uma vez? A Irene fez essa tão gostosa.
– Tá bom…

Era mais ou menos a décima vez que eu oferecia batata-doce.

Um micro pedaço é espetado pelo garfo e se encaminha para dentro da boca da maior cara de nojo já vista.

– Peraí! Assim não, desse jeito é claro que você não vai gostar, mistura ela com um pedacinho de frango e de brócolis.

– Tá bom… – segue uma pausa e depois – mãe essa foi a última vez que eu experimentei batata-doce, sabe porquê?

– Não.

– Porque eu adorei! Pode por mais no meu prato?

– Claro! – essa foi minha resposta. (Filho que orgulho, que felicidade, como a mamãe tá contente que você experimentou batata doce, é tão boa para você! Essa seria minha resposta imediata, sem pensar, porque eu estava mesmo feliz).

Ponho mais batata-doce no prato dele e não falo nada.

– Mãe da licença?

– Pra que?

– Já volto, por favor!

– Tá.

Na cozinha…

– Irene sabe o que eu comi e gostei?

– Nem imagino.

– Batata-doce.

– Sério? Que legal! (gênia, penso eu, sempre sabe o que falar)

Volta para a mesa.

– Mãe?

– Diga.

– Põe uma folha no meu prato?

– Claro filho, lisa ou crocante? – essa foi a minha resposta (filho que bom que você está comendo salada, que orgulho de novo da mamãe, muito saudável! Essa seria de novo minha resposta imediata, sem pensar, porque eu estava mesmo feliz).

– Quer que eu corte pra você?

– Sim! Vó, você comeu brócolis?

– Ainda não.

– Come vó, esse é um jeito especial de preparar, meu e da Irene.

– Como é?

– A Irene só põe o brócolis no vapor e depois a pessoa põe quanto de sal e azeite gostar, na hora da mesa. (o brócolis aqui era feito refogado, um dia não sei porque ele inventou essa só do vapor).

– Ah, boa ideia, vou experimentar.

– Mãe to “sastifeito”! – essa não consigo corrigir…

E assim ele comeu um belo prato de arroz integral, feijão, frango assado, brócolis, batata doce, alface crocante, tomate, cenoura e um Romeu e Julieta (pra que não conhece, trata-se de um delicioso “sanduíche de goiabada com queijo”) de sobremesa.

Claro que não é todo dia assim, mas ao final dessa refeição reafirmei meu pensar (e o das nutricionistas americanas Ellyn Satter e Evelyn Tribole), no qual nosso papel enquanto pais é organizar: o horário das refeições, o que e como serão servidas e um ambiente agradável; e o papel das crianças é comer o que tiverem vontade! Não adianta ficarmos colocando adjetivos na comida, dizendo que deixa mais forte ou que tem mais vitaminas, os estudos mostram que eles não comem mais porque aquilo “é bom” para eles, as crianças comem aquilo que gostam e sentem vontade de comer!

Proponho um desafio: ofereça a comida servida na mesa ao seu filho e se ele não topar, não insista, ofereça de novo um outro dia; e quando seu filho disser que está “sastifeito”, acredite, deixe que ele pare de comer, essa simples ação é muito poderosa e só vai ajudá-lo a fortalecer sua confiança nos sinais internos que seu corpo manda!

Tente, pelo menos uma vez!

PS: o texto acima não é uma ficção, aconteceu desse jeitinho que está escrito, palavra por palavra, para a minha felicidade!

Fonte:

Aniversário, comida e memória

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Por Marle Alvarenga, nutricionista

No meu aniversário de 10 anos minha mãe fez um bolo sensacional: de uma casinha com telhado de barra de chocolate e um caminho de confeitos! Foi um sucesso entre os primos e vizinhos!
Também me lembro das festas com canudinhos recheados de salada de maionese (aqueles que você enrola a massa em formas de alumínio e frita) e coxinhas de massa de mandioca, que ela fazia passando a mandioca num moedor manual herdado da minha avó.

Cresci comendo isto nos aniversários da família, sem nenhuma crise, assim como também cresci comendo jiló (que amo!), nigagori, e catando maxixe de balde no sítio, e vendo minha avó degolar galinhas. Penso na sorte de ter uma avó que me ensinou a cozinhar e que fazia a melhor panqueca para o café da manhã – com geleia de uva (que ela fazia com a borra que sobrava da sua produção caseira de suco de uva). E da sorte de ter uma mãe que me colocou na cozinha desde cedo, e que sempre foi tão tranquila com a comida, passando saúde e afeto às colheradas cheias – e que o faz ainda hoje quando gosta de perguntar aos filhos o que eles querem comer para os almoços de família.

Penso na tristeza de ver hoje tantas pessoas completamente desconectadas da comida, sem boas memórias e cheias de neuras. Uma solução, como bem colocado no novo livro de Michael Pollan, é cozinhar*: uma solução para melhorar a saúde, estabelecer vínculos com a família e amigos, ajudar o sistema alimentar, reduzir a dependência e aumentar autossuficiência, e ainda, aumentar nossa compreensão sobre o mundo e nosso papel dentro dele.

Assoprando minhas velinhas de aniversário, faço o pedido de que as pessoas se conectem de novo com a comida – com a comida e não com os nutrientes – e todos os seus amplos significados, colocando a mão na massa, saboreado e compartilhando o prazer, desta que, segundo Brillat-Savarin**, “nos sustenta do nascimento a morte, aumenta as delícias do amor e a confiança da amizade, desarma o ódio, facilita os negócios e nos oferece, durante o curto trajeto da vida, o único gozo que por não ser seguido de fadiga nos repousa de todos os outros”.

* Pollan M. Cozinhar – uma história natural da transformação. Intrínseca, 2014.
**Brillat-Savarin JA (1848). A Fisiologia do Gosto. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Fonte: Blog Genta – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares