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Como fazer um bom plano de Metas para 2016

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Por Fernanda Timerman, Nutricionista

O final do ano chegou e, com ele, normalmente fazemos um balanço do que foi bom, médio e do que queremos melhorar e mudar. Para planejar metas que sejam ao mesmo tempo desafiadoras e viáveis, é importante seguir uma regrinha básica, a do acrônimo da própria palavra:

Vamos pensar em um exemplo na área da saúde: Quero melhorar meu perfil de colesterol (aumentar o “bom” – HDL; e diminuir o “ruim” colesterol total e LDL)

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Mensuráveis: conseguir dar uma medida, ou valor. Exemplo: Quero aumentar o HDL para mais do que 40 mg/dL e diminuir Colesterol Total de 220 para abaixo de 200 e o LDL de 130 para abaixo de 100!
Específicas: especifique seu objetivo com a maior quantidade de informações possível. Exemplo: Preciso melhorar minha alimentação e aumentar a atividade física. Para aumentar o HDL, vou fazer mais atividade física, incluir linhaça triturada todos os dias no suco ou no cereal, aumentar o consumo de peixes de água fria em substituição à carne vermelha; para diminuir colesterol total e LDL, vou diminuir fritura, leite integral, carnes com maior teor de gordura (ir menos à churrascaria e churrascos) e tomar cápsula de fitosterol.
Temporais: Estipule um prazo para a realização. Exemplo: Quero repetir o exame de sangue daqui 3 meses.
Atingíveis: deve ser algo POSSÍVEL dentro de sua realidade, de um contexto de saúde e possibilidade de sustentar à longo prazo, para que não haja frustração. Exemplo: Passei em um nutricionista e ele disse que, com essas mudanças específicas é viável atingir minha meta!

Significativas: Talvez o mais importante. O objetivo deve ter um significado especial e pessoal para que as chances de realizar e sustentar aumentem. Exemplo: Quero melhorar meu perfil de colesterol pois perdi um familiar querido e próximo por problemas relacionados à isso, e agora vou ter um filho.

Isso pode ser feito em áreas diferentes da vida (profissional, financeira, amorosa, intelectual, espiritual etc).Uma dica importante é fazer à lápis, pois você pode ajustar se achar necessário, e pendurar em um lugar visível para que possa olhar constantemente e lembrar o compromisso que você firmou com você mesmo.

Cuidado com metas imediatistas e quase inatingíveis, como “perder 4 Kg em 1 semana antes da viagem para a praia”. A possibilidade de você se frustar e prejudicar seu metabolismo (com grandes chances de respostas físicas e emocionais negativas) são enormes. Separe um tempo, pense com cuidado e experimente. Se precisar de ajuda, procure por fontes e profissionais confiáveis!

Para saber mais:

  • Alvarenga MS, Figueiredo M, Timerman F, Dunker, K. Atividades e exercícios baseados nas técnicas da Nutrição Comportamental. IN: Alvarenga MS, Figueiredo M, Timerman F, Antonaccio CMA. Nutrição Comportamental. São Paulo: Manole, 2015.
  • Scagliusi FB, Alvarenga MS, Fabbri AD, et al. Protocolo de atendimento de terapia nutricional para bulimia nervosa. In: Alvarenga M, Scagliusi FB, Philippi ST. (Org.). Nutrição e Transtornos alimentares: avaliação e tratamento. 1ed. Barueri: Manole, 2011, p. 257-333.

Fonte:

GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade

Comer intutivo: para mim a melhor opção

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Por Manoela Figueiredo, nutricionista

O post é longo, peço desculpas, mas fiquei indignada com o artigo publicado recentemente pela revista do New York Times, resolvi traduzi-lo para que todos possam ler, assim como também traduzi a resposta da Evelyn Tribole, criadora do Intuitive Eating (Comer Intuitivo) junto com Elyse Resch e uma das nutricionistas mais sérias que conheci. Entender, conhecer, estudar e aplicar o Comer Intuitivo mudou minha vida pessoal e professional. Não acredito que exista outra maneira para que as pessoas comam melhor, mais conscientes, até menos e com mais qualidade sem acessar os sinais internos de fome, saciedade e as razões pelas quais estamos comendo. Comemos comida e não calorias. Como podemos viver de contar algo que é incontável? Como podemos continuar a tentar “determinar” através de regras rígidas e inflexíveis o que as outras pessoas devem ou não gostar de comer? É claro que sou uma nutricionista e devo compartilhar e ajudar meus pacientes com meus conhecimentos biológicos sobre o corpo, a comida e a Nutricão, mas só isso não basta! E o que verdadeiramente faz com que meus pacientes comam melhor e sejam mais felizes e saudáveis é a relação que estabelecemos e que os ajuda a aprenderem a se cuidarem com mais amor e carinho, e não as regras dos números e dos porcionamentos restritos. Seguem os textos para reflexão:

Os limites do comer “intuitivo” – The Limits of “Intuitive” Eating – Gretchen Reynolds

Esse artigo foi publicado em 22 de novembro de 2015 na revista do The New York Times (veja aqui)

As pessoas detestam contar e cortar calorias. Este dado não surpreendente está por trás do crescimento do “Intuitive Eating” (Comer Intuitivo), uma abordagem que tira o foco da dieta e prioriza atender os sinais do corpo, como a fome e, acima de tudo, a saciedade. Apesar de vários livros, seminários e avaliações de especialistas em obesidade, o Comer Intuitivo não tem sido objeto de muita investigação científica. No entanto, um estudo recente avaliou uma das primeiras comparações do efeito da restrição calórica e do Comer Intuitivo. Esse estudo foi publicado em outubro no Nutrition and Health e conduzido por Judith Anglin, uma professora de nutrição e diretora do programa de dietética da Texas Southern University, que estava indignada pelo número cada vez maior de pacientes e amigos se inscrevendo em programas de Comer Intutivo.

Anglin e os coautores recrutaram 16 universitários, homens e mulheres obesos, e mediram seus pesos, IMC, indicadores de saúde e metabolismo. O número de voluntário foi pequeno por se tratar de um piloto, mas há planos para estudos de longo prazo e com número maior de voluntários. Oito voluntários receberam uma dieta entre 1200 e 1800 calorias, dependendo de sua taxa metabólica basal e com um deficit energético de 500 calorias por dia.Também receberam instruções e aconselhamento sobre como comer de forma saudável dentro dos seus limites de calorias. Os demais indivíduos praticaram o Comer Intuitivo, um programa que pode ser visto no site oficial e que é  guiado por dez princípios, dentre os quais “rejeitar a mentalidade de dieta”, “honrar sua fome” e “fazer as pazes com a comida”. Para esse grupo não foi dada uma meta calórica. Para que a atividade física não fosse significativamente diferente e não influenciasse a perda de peso, ambos os grupos foram orientados a fazer atividade física leve três vezes na semana no laboratório, e evitassem outras atividades externas.

Depois de três semanas, os pesos foram avaliados e os voluntários receberam mais aconselhamento eencorajamento. Depois de mais três semanas, os voluntários do grupo de restrição calórica perderam em media 2,4kg cada. A perda foi maior nas duas primeiras semanas, disse Anglin, e depois estacionaram. Mas depois do encontro após as primeiras três semanas, esses voluntários voltaram a se animar e perderam uma media de mais 1,1kg nas três semanas seguintes.

O grupo dos voluntários da abordagem do Comer Intuitivo começaram bem, de acordo com Anglin, perdendo mais peso em média do que o outro grupo. Porém, na segunda etapa, a maioria começou a recuperar o peso perdido. No fim das seis semanas, poucos perderam peso e outros ganharam por volta de 0,9kg.

O resultado final: calorias importam sim, diz Anglin. As mensagens do corpo sobre fome e saciedade podem ser importantes e úteis, mas devem vir acompanhadas de um certo controle da ingestão calórica. Ninguém, ela diz, parece conseguir perder peso a longo prazo apenas atendendo intuitivamente à sua fome com uma fatia de bolo de chocolate.

Segue a resposta de Evelyn Tribole, publicada junto ao artigo

Minha resposta ao artigo do NYT: Ms Reynolds escreveu que não há tanta pesquisa científica sobre Comer Intuitivo. Não é verdade. Existem mais de 40 estudos publicados sobre Comer Intuitivo mostrando seus benefícios de saúde. No mês passado, uma revisão sistemática foi publicada sobre o Comer Intuitivo com 24 estudos, com um total de 9000 pessoas. Ainda, Ms Reynolds escolheu evidenciar e mostrar um estudo com apenas 16 pessoas, que comparou contagem de calorias com comer intuitivo por seis semanas e concluiu que sim, calorias devem ser controladas. Esse estudo isolado reflete as premissas e não o status de toda a pesquisa que envolve o Comer Inyuitivo. Essa abordagem se baseia em cultivar uma relação saudável entre comida, mente e corpo. Fazer dieta via restrição calórica pode gerar maior perda de peso a curto prazo; porém, um grande número de pesquisas mostra que fazer dieta é perigoso e prejudicial – leva ao ganho de peso e à maior eficiência calórica, o corpo ganha mais peso em gordura como consequência da restrição calórica. Um estudo com 4000 gêmeos encontrou que fazer dieta, independente da genética, associa-se significativamente com o ganho de peso. Fazer apenas uma dieta já aumentou em três vezes a suscetibilidade para ter sobrepeso em comparação com o gêmeo que não fez dieta. O estudo concluiu: “Está bem estabelecido que quanto mais as pessoas fazem dieta, mais ganham peso”. Esse estudo demorou 5 anos para ser concluído e não 6 semanas.”

Um, dois: feijão com arroz!

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Por Marluce Nóbrega, nutricionista

Arroz com feijão… Goiabada com queijo… Café com leite… Pão com manteiga …

E você, gosta de comer o que?

Não vou complicar e nem “gourmetizar”, mas será que as nossas mães estavam tão erradas em nos oferecer com todo amor e carinho um prato de refeição completo com arroz, feijão, carne, salada e/ou vegetal refogado ou outro acompanhamento?

Esse prato, muitas vezes tornado vilão do controle do peso para muitos, nos lembra a nossa infância, o gostinho da avó ou da nossa mãe ou de outro alguém especial, é marca da nossa cultura, nos alimenta, nos nutre, nos aquece a alma, mata a nossa fome e nos enche de energia.

Um dos mais populares pratos da nossa culinária é o feijão com arroz. Mas cada cantinho do Brasil tem um tipo e um jeito de comer diferente, como o feijão-tropeiro, a feijoada, o feijão carioquinha, o acarajé (bolinho de feijão recheado com vatapá, camarão e vinagrete), o baião-de-dois, o tutu à mineira, a sopa de feijão com macarrão…

E a importância desse prato brasileiro não vem somente pelas lembranças, custo, sabor e hábito alimentar, mas por ser um prato rico em nutrientes.

O Ministério da Saúde tem o compromisso de contribuir para o desenvolvimento de estratégias para a promoção e a realização do direito humano à alimentação adequada e o reforça através do Guia Alimentar para a População Brasileira (última versão é a de 2014), que é um documento oficial que aborda os princípios e as recomendações para uma alimentação adequada e saudável para a nossa população.

A nova versão do guia nos orienta a optar por refeições caseiras e uma alimentação com base em alimentos frescos (frutas, carnes, legumes) e minimamente processados (arroz, feijão e frutas secas), além de minimizar a presença dos ultra processados (como macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote e refrigerantes). Destaque mais que especial para a valorização ao ato de comer e, antes deste, o envolvimento de amigos e familiares no preparo da comida. Basearmos nossa alimentação em alimentos frescos e naturais secos, como o arroz e feijão, também estimula a agricultura familiar e a economia.

Vamos aos dados nutricionais: começando pelo arroz, assim como em todos os cereais, é onde obtemos fontes importantes de carboidratos, vitaminas (em especial do complexo B), fibras e minerais. O arroz combinado ao feijão (ou outra leguminosa como ervilha, lentilha, grão de bico, soja, grão de bico) constitui também fonte de proteína de excelente qualidade. O feijão, e seus substitutos, são fontes de proteína, vitaminas do complexo B, fibras e minerais como cálcio, ferro e zinco. A quantidade de fibra também confere a esse alimento um alto poder de saciedade. Acrescentar vegetais e ervas ao preparo pode agregar um maior valor nutricional ao prato, além de sabor.

E foi o arroz com feijão um dos assuntos de uma consulta com uma paciente. Ela me contou que não estava comendo alguns alimentos, dentre eles a “dupla” perfeita, o arroz e feijão. Em seguida me descreveu a sua alimentação em um dia com o arroz e feijão. Confuso? Muito! Ela vinha comendo com tanta culpa que não percebia, ou tentava ignorar, que estava comendo.

Como eu gostaria de descobrir de onde vem que alguns alimentos são vilões, nos engordam ou fazem mal a todos nós. Alguma dúvida que somos diferentes? Bom, temos sexo e idade diferentes, genética diferente, fisiologia diferente, vontades diferentes, fome diferente, rotinas diferentes… Respeitarmos a nossa individualidade quanto ao melhor funcionamento do nosso organismo, aliado a como comemos, quanto comemos e o que comemos com certeza fará com que nos sintamos melhores, sem neuras, sem angústias e fazendo as pazes com a nossa fonte de vida, a comida.

O arroz e feijão é apenas simbólico aqui. Espero que já seja a sua hora do almoço ou jantar e que eu tenha lhe causado um pouco de água na boca. Bom apetite!

 

Fonte:

GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade

A experiência “New Moves”

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Por Karin Dunker, nutricionista

Há algum tempo venho desenvolvendo um projeto de pesquisa com meninas adolescentes de 13 a 14 anos de escolas públicas, o programa “New Moves” criado por Dianne Neumark-Sztainer, renomada pesquisadora da Universidade de Minnesota, que tem por objetivo prevenir a obesidade e os transtornos alimentares. A pesquisa feita em 10 escolas está na reta final, e em breve teremos publicações sobre seus resultados.  Mas o motivo que me levou a escrever o post sobre esse assunto, é por que gostaria de compartilhar as impressões que não podem ser descritas em um artigo científico, a experiência de lidar com um grupo carente, que vive em uma realidade que desconhecemos, muito além do que imaginamos.

Meninas carentes, de nível socioeconômico baixo, que muitas vezes vivem em condições precárias de moradia, em um ambiente familiar desestruturado, e que em um primeiro momento se interessam pelo projeto pelo simples fato de achar que talvez seja importante cuidar da alimentação e do corpo, mas também por uma atenção que não têm em casa e na escola. São meninas que por algumas horas por semana, recebem atenção, carinho e conforto por parte de uma equipe de nutricionistas, psicólogos e educadores físicos.

É o momento em que podem se expressar, compartilhar uma refeição, conhecer e saborear novos alimentos, sendo que algumas inclusive têm oportunidade de ter uma primeira experiência culinária. Aprendem que comer saudável não é se privar do que é proibido, mas sim pensar sobre as próprias escolhas que podem ser determinantes de uma qualidade de vida na fase adulta.  Aprendem que atividade física não precisa ser chata, que não é simplesmente ir para academia ficar horas malhando, mas que pode ser prazerosa, divertida, trazer bem estar e fazer a diferença em suas vidas.  Também refletem sobre o poder da mídia de determinar o que é um corpo bonito, como as emoções afetam seus comportamentos, a importância de se determinar metas viáveis e realistas quando se pensa na mudança de um comportamento.

Aprendem, mas também brincam, dão risada, criam novas amizades, em um ambiente em que os mediadores estimulam a cooperação, compreensão, expressão de suas ideias, sem julgamentos e criticas.

Oferecer essa possibilidade para esse grupo foi desafiador, e em alguns momentos frustrante, pois sabemos que a realidade social em que vivem muitas vezes impede a perpetuação da mudança de um comportamento, seja na prática da atividade física, na alimentação, na satisfação corporal e autoestima.

Apesar dos desafios e das dificuldades, terminamos essa jornada com a sensação de que fizemos a diferença em suas vidas. Para nós, profissionais da área da saúde, fica um sentimento de que cumprimos nosso papel, que vai além de nossa formação acadêmica conceitual. Afinal, não somos nutricionistas ditadoras de dieta, nem educadores físicos que visam somente o “fitness”. Ouvimos, prestamos atenção, e tentamos compreender as limitações do contexto de vida destas meninas. Sim, é possível pensar de uma forma diferente, atuar de uma forma diferente, é possível pensar em prevenção, mas para isso é essencial refletir sobre as reais necessidades de um grupo ou indivíduo, confrontando as técnicas tradicionais didáticas, e se abrindo para abordagens inovadoras de atuação.

Se quiser conhecer mais sobre a proposta do New Moves, acesse aqui o site.

Fonte: Blog GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

IM o que?

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Por Marcela Salim Kotait, nutricionista

IMC, índice de massa corpórea. Índice de Quetèlet, um matemático belga nascido no final dos anos 1790.

Um conta de matemática. Um número encontrado graças à relação do peso corporal com a estatura da pessoa, quando elevada ao quadrado. Um número. Uma pessoa.

O IMC, embora muitos nutricionistas não saibam, não é a melhor maneira de classificar o estado nutricional de alguém. Mas, muitos colegas ainda insistem na regrinha matemática para estimar um peso supostamente adequado para seus pacientes.

O valor estimado como adequado fica entre 18,5 kg/m2 e 24,99 kg/m2. Muitos nutricionistas calculam a média desses valores e impõem aos seus pacientes essa meta cabalística.

Mas, será que apenas esse cálculo é suficiente para entendermos o peso de alguém? Basear a alimentação e hábitos voltados apenas para esse valor pode ser uma grande enrascada.

O IMC quando isolado não representa nada sobre ninguém, perdemos informações importantíssimas. Por exemplo, uma pessoa musculosa e uma pessoa obesa podem dividir o mesmo índice de massa corporal, enquanto na verdade têm diferentes composições corporais. Ok, sei que isso é óbvio, mas por que não continuarmos as indagações sobre o IMC e nos perguntarmos se não existe diferença entre alguém naturalmente mais pesado e uma pessoa que teve o aumento de peso como resultado do estilo de vida?

Pessoas com diferentes etnias, idades, biotipos devem se enquadrar no mesmo valor?

Não está na hora dos nutricionistas se livrarem de suas calculadoras e entenderem seu paciente como um ser único e que merece mais atenção e cuidado ao ter um número estimado de peso?

Fonte: Blog – GENTA (  Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares)

Zona de (Des)conforto

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Por Fernanda Timerman, Nutricionista

Carlos trabalha em uma multinacional há 10 anos. Tem uma rotina, sabe o que deve fazer, qual caminho pegar, o que vai comer e quanto vai ganhar no final do mês, Carlos sabe também que alguma coisa o incomoda muito no domingo a noite. Um sentimento rotineiro, uma angústia, de ter que repetir tudo de novo. Mas, como ele está acostumado com tudo isso, acha que sabe lidar também. Então vai levando… as vezes ele fuma mais quando está ansioso, as vezes ele come até se empanturrar para migrar o incômodo da cabeça para o estômago – pois lá pelo menos o incômoda passa depois de um tempo, de um sal de frutas e um protetor gástrico, já o incômodo da cabeça…

Quando Carlos tira férias, ele adora sair da rotina, não ter horário para nada, perder a noção do tempo. Percebe como faz falta ouvir essa intuição, essa vozinha que mais alta ou mais baixa, sempre está lá com ele e que o guia para as coisas que realmente fazem sentido lááááá no fundo, embaixo de todas as premissas do que ele DEVE ou não fazer, como ele DEVE ou não agir!

Nesses momentos, Carlos faz planos, se enche de esperança, energia, satisfação. Não precisa fumar tanto, nem comer tanto. Ele está preenchido com outras coisas.

Mas aí, quando as férias vão acabando, Carlos começa sentir a sensação do domingo a noite (multiplicada por mil) e quando menos percebe, subitamente a rotina o engole. Ele deixa, afinal, já sabe lidar com aquele cenário. Aquela zona de (des)conforto, velha conhecida..

Pois é, tenho certeza que vocês conhecem vários Carlos! Eu conheço, as vezes sou um!

O que nos faz ficar presos à comportamentos e hábitos, mesmo que esses não tragam mais entusiasmo, benefício, alegria, contentamento? Por que ignoramos tanto essa vozinha que, soterrada por muitos imperativos sociais-familiares-culturais, nos traz a informação genuína do que realmente nos faria bem e felizes?

Nós teimamos em não ouvir, em achar maneiras de tamponar essas questões tão importantes. Sair da zona de conforto é muitas vezes necessário para que a gente dê um pausa nos comportamentos compensatórios, redundantes, que nos fazem muitas vezes, robôs.

Existem “Carlos” que estão muito bem, obrigada. Que gostam da rotina, se adaptam muito bem à ela estão seguros e felizes com suas escolhas e hábitos.

Porém, existem outros “Carlos”que se questionam muitas vezes sobre suas escolhas (que as vezes nem sua foram), se sentem presos e incomodados com essa rotina e tem que achar uma forma mais eficaz de lidar com esse desconforto.

SE PERMITA OUVIR, não precisa agir, apenas perceba. E se for preciso agir, sair da zona de (des)conforto. É MUITO difícil ultrapassar essa barreira, mas quando conseguimos, percebemos que fazíamos um ratinho parecer um elefante, pois estávamos olhando a projeção dele na parede e não o seu tamanho real. As coisas começam a fazer mais sentido.

Quando nos ouvimos e temos vontade de mudar, podem surgir sentimentos controversos. Não precisa ser uma mudança drástica de estilo de vida. Pode ser um hábito que já está impregnado e você quer mudar mais não consegue: fumar, beber, comer demais ou de menos, fazer esporte, fazer um outro curso, sair de um relacionamento…. Na maioria das vezes é importante ter ajuda (de amigos, família, psicólogo, nutricionista ou de quem julgar mais adequado) para conseguir sair dessa “zona”!

Espero (e acredito) que eu, você e o Carlos tenhamos cada vez mais coragem de sair da zona de conforto quando sentirmos que é preciso, para então ver a mágica acontecer!

Boa semana…
Fonte: Blog – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade

Ao redor da mesa

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Por Priscila Koritar, nutricionista

Nessa semana, uma amiga vai defender o título de Doutora em Nutrição pela USP falando da importância das refeições em família. O novo Guia Alimentar Brasileiro aponta para a importância das refeições compartilhadas, e isso tem marcado a história da humanidade.

Diversos estudos americanos apontam que crianças que comem em família vão melhor na escola, desenvolvem menor dependência por álcool e drogas, têm mais facilidade para manter peso saudável, apresentam menor incidência de transtornos alimentares. Não só a literatura científica tem se debruçado sobre isso, mas diversos livros vem abordando essa temática na atualidade, reforçando a importância do comer compartilhado, indicando as refeições em família como uma oportunidade para ensinar a dividir, dividindo inicialmente comida, oportunidade de transmitir valores familiares e culturais, transmitir afeto, etc. Mas, infelizmente, no mundo atual onde tudo é rápido e os horários são incertos, o comer em família e o comer acompanhado foram sendo deixados de lado.

 Desde a antiguidade, nas mais diversas culturas, as pessoas se reúnem ao redor da mesa, mais precisamente ao redor da comida, para comer, estar junto, festejar, enfim, compartilhar vida. Na semana passada, tivemos uma pequena demonstração de como o comer extrapola o nutrir: com a comemoração do Dia dos Namorados, muitos casais se reuniram para celebrar o amor compartilhando vida (e comida) ao redor da mesa.

Que possamos continuar a nutrir nosso corpo nutrindo nossa vida!!

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Detox

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Por Ana Carolina Pereira Costa, nutricionista

Apesar de já não ser mais a “última moda” nutricional, ainda escuto alguns pacientes e profissionais falarem de “dietadetox”. O nome é inadequado por si só, já que nosso corpo (especialmente nosso fígado) é plenamente capaz de destruir e de se livrar das substâncias nocivas ao nosso corpo, sem precisar de um alimento x ou y ou mesmo de um dia à base de líquidos para tal.

O que eu proponho nesse post não é mais uma sugestão de “dieta detox”, e sim um “detox mental”. Sugiro que cada um de nós possa refletir sobre as questões abaixo:

  • Quanto tempo do seu dia você reserva/prioriza para si mesmo? Você sequer tem tempo para cuidar de si mesmo todos os dias, nem que seja meia hora?
  • Quanto tempo você gasta ao dia com situações que “roubam” energia e dificultam o cumprimento das suas obrigações diárias? Ex: quantas vezes ao dia você checa suas redes sociais? Quanto tempo gasta com isso diariamente?
  • Você tem dado atenção a todas as áreas envolvidas em seu autocuidado: físico (dormir o suficiente, comer frutas e vegetais todos os dias, beber água suficiente, ter roupas confortáveis e que te agradem, fazer uma atividade física prazerosa, receber massagens); espiritual (exercitar sua espiritualidade, fazer parte de uma comunidade espiritual/religiosa, se engajar em um trabalho voluntário); psicológico (cultivar amizades, fazer terapia, ler textos inspiradores, brincar com animais e/ou crianças, escrever um diário, cultivar um hobbie, exercitar a gratidão e o positivismo, comunicar-se de forma assertiva)?
  • Você já pensou o quanto um autocuidado deficiente pode impactar na sua relação com a comida? Será que você não está buscando o alimento como única fonte de prazer na vida ou como mecanismo de enfrentamento de emoções?

Ou seja: em que áreas da sua vida você precisa de um detox?

Boa semana a todos!

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Nomeando as emoções

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Por Marle Alvarenga, nutricionista

Uma matéria recente no NY Times (veja aqui) fala da importância de dar nome às emoções. Nomear as emoções é também fundamental para entender e trabalhar com a nossa relação com a comida. A maioria de nós não sabe, ou não costuma, nomear seus sentimentos e pensar no impacto que eles podem ter. Uma das possíveis consequências de estar desatento aos sentimentos é compensá-los com comida.

Claro que, às vezes, comemos porque estamos tristes, estressados, felizes… E isto é ok, se estivermos atentos ao que estamos fazendo e porque – e se ocorrer eventualmente.  Mas muitas vezes chamamos de “fome”, ou “quero comer” ou buscamos comida sem se perguntar o porquê.

E atenção! Não vale “me sinto gordo(a)”, pois isto não é um sentimento! (veja história interessante sobre “sentir-se gordo” aqui).

Dar nome às emoções e sentimentos é importante para lidar com eles sem usar a comida, e descobrir do que exatamente se precisa.

Se você está triste, precisa de chocolate ou abraço? Se está cansado, precisa de pão ou dormir? Se está ansioso, precisa de uma distração divertida ou de salgadinho?

Faça o exercício de dar nome aos seus sentimentos, e veja se a comida está entrando nos momentos e da maneira que deve entrar em sua vida.

Fonte: Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Como eu expliquei para uma paciente o que é comer de forma flexível!

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Por Manoela Figueiredo, nutricionista

Semana passada eu estava em uma consulta com uma paciente nova que me contava as inúmeras dietas que já tinha feito e as incontáveis vezes que tinha perdido peso, ficado muito bem, mas no fim sempre acabava deixando a dieta de lado e engordando de novo e se sentindo muito fracassada.

Fui tentando conversar com ela e explicar porque as dietas não funcionam e porque as pessoas engordam de novo quando não mudam o jeito de se relacionar com a comida, mas ela insistia em me dizer: “sou muito disciplinada, se você me passar as orientações, eu vou seguir”.

E eu insistia em lhe dizer que não acreditava mais naquele modelo de seguir prescrições pré-determinadas por outra pessoa e não pelas escolhas dela própria, com a minha ajuda e orientação.

Então me veio um exemplo, uma metáfora, e eu perguntei à ela:

– “Você já andou a cavalo?”

– “Sim”, disse ela.

– “O que acontece quando você segura a rédea muito firme e apertada?”

– “O cavalo fica bravo, empina e você perde o controle” ela disse.

– “E quando você deixa a rédea solta demais?”

– “O cavalo se solta, dispara e você perde o controle” concluiu ela.

– “Pois é disso que estou falando, assim que eu acredito que deve ser a alimentação, nem cheia de restrições e nem completamente solta, no modo tudo ou nada há sempre a perda de controle: o cavalo sem condução sai em disparada e o cavalo preso empina e se irrita, os dois podem te derrubar. Para uma cavalgada leve, gostosa, prazerosa é preciso segurar as rédeas nem tão apertadas e nem totalmente soltas, é preciso interagir com o animal, ser flexível e acima de tudo confiar nele e eu acredito que também é assim que podemos ter uma boa relação com a comida”.

Depois de um breve silêncio, senti que minha metáfora funcionou, ela abriu um sorriso e me disse que era assim que ela gostaria de conseguir comer, e eu disse, e é assim que eu posso te ajudar!

Pensem nisso!

Fonte: Blog GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares