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Por que eu amo ser nutricionista

por que amo ser nutricionista

Por Marcela Salim Kotait, nutricionista

Já sabia que seria nutricionista clínica antes mesmo de terminar a faculdade. Tendo essa certeza tão precocemente, não imaginava que suas consequências ainda me surpreenderiam após tantos anos, a cada dia, a cada nova consulta… Por isso decidi dedicar esse post para você que já passou em consulta comigo ou com outro colega de profissão, ou que ainda vai passar.

Você não imagina como é especial, não imagina a honra que é poder entrar na sua vida e conhecer sua intimidade, quando me conta sobre sua alimentação. São muitos os que comem com medo, com culpa, escondido, rápido, sem sentir o gosto… E que dividem essas sensações comigo no dia-a-dia do consultório. Acredito que entre as coisas mais pessoais e íntimas esteja a alimentação, e sei que nem sempre é fácil permitir que outra pessoa conheça esse aspecto tão importante da sua vida, mesmo quando essa outra pessoa sou eu, sua nutricionista. Ainda mais especial é saber que você, além de estar disposto a tanto, quer minha ajuda para mudar. Que honra! Dividir com você o que você tem de mais seu, e ainda tentar te ajudar.

Deixar que eu entre na sua vida, lembrar do que conversamos várias vezes ao dia, mandar mensagem ou email me contando sobre suas férias, quando você finalmente tirou a canga e andou pra lá e para cá de biquíni. Mandar a foto com o jantar que você mesmo preparou para sua namorada, com todo carinho.

A cada dia de trabalho, em que várias pessoas passam pela minha sala, vou guardando as histórias de luta e superação comigo, como tijolos que vão me ajudando a trilhar meu caminho como nutricionista.

Com tanta responsabilidade, me sinto no direito de continuar lutando com você para que seu amor pelo próprio corpo aumente ainda mais, para que você volte a comer sem culpa e sentindo prazer, que você se redescubra e redescubra os outros através de um novo olhar que conquistamos juntos, no consultório.

Como sempre digo, acredito piamente que meu dever e minha missão como nutricionista é auxiliar novos processos na sua vida, por isso, esqueça daquela imagem da nutricionista julgadora e acredite que podemos ser parceiros para mudarmos o mundo.

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição  e Transtornos Alimentares

A complexidade de comer simples…

a complexidade de comer simples
Por André Vasconcelos, chef de cozinha e dono do Bistrô Muito Além do Jardim
… ou talvez a simplicidade de comer complexo.
É de um antagonismo impar: quanto mais descobrimos as maravilhas de uma alimentação correta, mais complicado fica comer.
Além de chato e de sabor duvidoso.
Comer bem já não é comer bem como era comer bem quando ainda não sabíamos o que era comer bem.
Difícil acompanhar o raciocínio?
As mães de antigamente, não do Antigo Egito, mas do Brasil Ditadura, nos estuchavam comidas das mais variadas possíveis: de caldo de mocotó ao bife de fígado, de gema de ovo crua às colheradas de emulsão Scott, de sopas complexas com todas espécies de legumes de sabores esquisitos à overdose de Calcigenol.
O legal era ficar “fortinho”, corado, com as bochechas redondas, qualidades à época que nós, “as vítimas” de toda essa saúde, lutamos até hoje para perder formas arredondadas herdadas de tanta comida.
Comer bem… e sempre… e de tudo: eram as palavras de ordem.
Como raciocinar “comer&cozinhar” priorizando antioxidantes, polifenóis, nutracêuticos, omega 3 ou probióticos, sendo que esses são somente a ponta do iceberg do vocabulário da cozinha saudável e moderna?
Comer uma tigela de grãos sem sabor, sem prazer e sem graça passou a ser um procedimento terapêutico e “fashion” desde quando?
Comer deixou de ser uma forma de prazer???
Comer só pensando no ser saudável deixando o prazer de lado, é como fazer sexo só pensando na função “reprodução”, e não na gama de sensações que ele traz!
Ora pois, estamos sim passando fome com essa cozinha moderna pseudo-nutricional… fome de prazer!!!!
Quanto mais estudo o assunto nutrição, mais confuso fica o assunto culinária.
A margarina que já foi a solução para má gordura da manteiga, e até sinônimo de família feliz, hoje é execrada nas dietas saudáveis… com razão dizem uns.
O ovo, que foi herói na minha infância, passou a ser bandido na minha juventude, foi banido no início da minha vida adulta e hoje voltou a ser um grande alimento!
O azeite de oliva, o santo milagroso do começo desse século, hoje está na mira dos que defendem as dietas com poucas calorias.
A manteiga clarificada, a ghee, ganha terreno!!
Mas a manteiga não era uma bandida???
E se colocarmos na berlinda as comidas regionais?
Os nutri-corretos correm o risco de ter um colapso, ou uma congestão cerebral.
Acarajé e seu azeite de dendê uber-saturado, porco na lata e sua banha anti-saúde, buchada de bode com carnes que nem o bode sabia que tinha, churrasco entope-veia clássico dos domingos em família… enfim… não conheço nenhum cardápio regional brasileiro que a alface ou o queijo branco sejam as estrelas!
Leitão à pururuca, baião-de-dois, peixe azul-marinho, entrevero, pato no tucupi, enfim, comer tradição pode te levar ao caixão!
Com alimentação funcional, nutrologicamente equilibrada, saudável e natural, as gondolas dos empórios e supermercados estão cada dia mais farmacêuticas e internacionais: amaranto do Perú, quinua da Bolívia, linhaça dourada do Oriente Médio, feijão azuki do Japão, goji berry da China.
 As refeições estão se transformando em uma reunião da ONU com vários produtos com o mesmo sabor de nada atravessando o mundo para dar saúde as pessoas, sem se preocupar com o custo desse movimento para o meio-ambiente!
Salve a alimentação por pílulas do “Admirável Mundo Novo” criado por Huxley!
De toda essa bula gastronômica, o que vai nos sobrar de prazer a mesa?
“A gente não quer só comida, a gente quer comida e felicidade!!”
Felicidade à mesa com o frango assado com a pele crocante e a farofa de cebola com muita manteiga… e passas, para lembrar que domingo é dia de comida chique.
Sorrir diante do macarrão cortado à faca em molho de tomate engrossado com o extrato Elefante, o grande e verde Jotalhão, que fazia par com a carne de panela com o molho ferrugem, muito escuro e saboroso sem desperdiçar um grama da gordura animal que grudava na panela de ferro durante o cozimento.
Suspirar com a chegada do pavê de bolacha Champanhe, creme de leite condensado e bombons Sonho de Valsa que anunciavam o final do almoço de mais um domingo em família … família de anuncio de margarina, aquela bandida.
Não me lembro de ver recentemente tantos risos soltos, bochechas coradas e olhos inebriados à mesa desse mundo perfeito de comida saudável.
Tudo é questão de equilíbrio, respeito a natureza e coerência.
Alimentar-se de saúde, é a limonada do limoeiro da vizinha, a galinha criada no terreiro, a horta do fundo de quintal, o peixe da Barra da Lagoa e o pão de banha que a senhorinha vende na feira da esquina.
O alimento para ser bom tem que dar prazer, e, se possível, estar disponível a uma distância que possamos caminhar para tê-los no fogão e à mesa.
Chegamos em um ponto onde a única maneira da gastronomia, da arte de cozinhar e do prazer de se alimentar evoluir, é retroceder.
Esquecer as regras, os pesquisadores, as formulas milagrosas, os modismos e todos os preconceitos com a cozinha de raiz.
Hora de pensar e retroceder… voltar às origens.
Bom apetite… !!
Fonte: Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Salvem o pãozinho

salvem o pao

Por Marcela Kotait, nutricionista

Esses dias assisti a um vídeo engraçado, em que algumas pessoas eram abordadas num parque e questionadas sobre sua dieta sem glúten (veja aqui). Mesmo sabendo que a seleção de respostas pode ter sido tendenciosa – o programa é daqueles “talk show” em que sempre há espaço para piadinhas no início – ,nenhum dos entrevistados sabia responder o motivo da aderência à dieta, muito menos o que é glúten e qual sua função.

Resumidamente, o glúten é uma proteína encontrada no trigo, na aveia, na cevada, no malte, no centeio e em seus derivados, como pães, massas, bolachas, pizza, biscoitos, cerveja, uísque e em uma infinidade de outros alimentos. Algumas pessoas podem ser alérgicas, outras intolerantes a essa proteína. Em teoria, só essas pessoas deveriam adaptar sua alimentação, evitando assim o consumo do glúten, de preferência com auxilio de um nutricionista.

O que vemos hoje é uma disseminação em larga escala da dieta “gluten-free”, ou “sem glúten”. A demonização do glúten chegou. Celebridades, atrizes e blogueiras (leia mais sobre o terrorismo feito por elas aqui) encabeçaram como uma caça as bruxas, uma caça aos alimentos com glúten.

Como nutricionista, mais uma vez, gostaria de salientar a importância de uma dieta equilibrada. Você já deve ter lido em vários posts deste blog sobre a importância do comer consciente, de escutar seu corpo, honrar sua fome e respeitar sua saciedade. E frente a essas informações, me questiono se essas dietas e restrições “famosas” não são na verdade as velhas e questionáveis maneiras de se restringir a maioria dos alimentos fonte de carboidratos.

Isso porque a grande maioria das pessoas que restringem o glúten acaba por abranger nessa restrição os alimentos fonte de carboidratos, mal interpretados como vilões da boa forma.

Quantas vezes será necessário desmistificar o consumo do carboidrato, ou do glúten, ou da lactose, ou das frutas, ou da proteína, ou das gorduras, ou dos shakes(Veja aqui, aqui, aqui e aqui)? Quantas pessoas vão perder peso às custas de um sofrimento inenarrável e depois recuperar? Quantas vezes será preciso gritarmos que dietas não funcionam? Quantas vezes será necessário dizermos que comemos comida e não nutrientes?

Por favor, salvem o pãozinho.

Fonte: Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Crítica

Somos mais do querem que sejamos

Por Fernanda Pisciolaro, nutricionista

Quino, o cartunista argentino e criador da Mafalda, fez a charge acima mostrando sua desilusão com os valores passados às crianças no mundo atual. Um ponto que me assusta muito é o fato de ser uma charge que tem sentido em qualquer lugar do mundo, o que torna essa realidade ainda mais triste.

Junto a isso, tenho visto também cada vez mais frequentemente, famílias que criticam muito mais do que elogiam, cobram muito mais do que ensinam, repassam responsabilidades a terceiros, e cobram de seus filhos valores que não foram ensinados a eles.

Ao lado desse rumo desolador de valores que estamos tomando, sugeriria ao cartunista mais um quadro: as famílias estão cada vez menos comendo juntas, cada vez menos preparando as suas refeições juntas e, portanto, cada vez menos conversando e trocando experiências durante o horário das refeições. Quando comem na mesma mesa, é comum ainda que se mantenham focados na televisão, telefone celular, Ipad, etc.

Fala-se muito mal da obesidade, das suas consequências clínicas e do quanto é esteticamente feio, criticando duramente características físicas, de forma que muitos acreditam que para serem aceitos precisam manter um corpo moldado com dietas extremas e exercícios exagerados, quando não com uso de substâncias que acelerem seus resultados e comportamentos inadequados para perda de peso, sem oferecer condições para que essas crianças e adolescentes aprendam a aceitar a diversidade de corpos, a fazer exercícios por prazer, independentemente do gasto calórico, a elogiar seus corpos sejam como forem, desenvolvendo, assim, indivíduos com baixa autoestima.

Além disso, exige-se deles que comam “melhor” e “sejam saudáveis”, um conceito absolutamente genérico, que pode ser entendido de diversas maneiras e tende a ser interpretado muito comumente como ingestão de baixas calorias, com mais frutas, legumes, verduras e aumento do consumo de produtos específicos (integrais, sem lactose, sem glúten, sem açúcar, sem gordura, sem sal, sem corantes, sem pesticidas, …), que muitas vezes são desnecessários e até prejudiciais, favorecendo uma obsessão por comer alimentos considerados “certos” e evitar os “errados”, sem oferecer a eles oportunidade de gostar de comer, pensar criticamente sobre as escolhas que são feitas, sem cultivar valores culinários familiares que os represente.

As crianças e adolescentes têm, assim, vivido com referências corporais e alimentares aprendidas sob orientação das mídias e indústrias, perdendo a oportunidade de construir boas memórias alimentares e autoestima funcional, e a possibilidade de cuidar de si com prazer, sem cobranças exageradas, sem culpa, sem medo, sem julgamentos.

Os esforços para a mudança desse quadro têm que levar em conta a alta prevalência das sequelas negativas com a insatisfação corporal, o risco de desenvolvimento de obesidade, transtornos alimentares e episódios compulsivos, na busca não saudável pelo controle do peso. Um documento de 2008 da Sociedade Médica para Adolescentes formulou cinco recomendações básicas que podem ser adotadas na contramão desse quadro, que já foram abordados em outros posts do Genta:

1)Desencorajar dietas não saudáveis; em contrapartida, sempre estimular uma alimentação saudável, hábitos positivos e atividade física, com comportamentos que possam ser mantidos indefinidamente.

2)Promover uma imagem corporal positiva entre os adolescentes.

3)Encorajar a maior frequência de refeições familiares agradáveis.

4)Encorajar a família a falar menos sobre peso e fazer mais em casa para propiciar alimentação saudável e prática de atividade física.

5)Assumir que a maior parte dos adolescentes com sobrepeso passaram por situações de maus tratos e debater esse aspecto com os adolescentes e suas famílias.

Referência:

Dianne Neumark-Sztainer. Preventing obesity and eating disorders in adolescents: what can health care providers do? Journal of Adolescent Health 44: 2009. p.206–213.

Fonte: Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Novas descobertas

novas descobertas

Por Carolina Pascoal, nutricionista

O corpo da mulher passa por diversas mudanças hormonais durante a vida, desde a menarca até a terceira idade. Mas é durante a gestação que o corpo sofre as mais acentuadas alterações em tão pouco tempo.

Atualmente, estou passando por este processo e vivenciando a cada dia essa nova experiência. Minhas novas curvas, novas celulites, novo numero do manequim; medos, ansiedade e inseguranças.

Mas o que mais me chamou a atenção foi a preocupação dos outros em relação ao ganho de peso, ainda mais se tratando de uma nutricionista. Muitas pessoas me perguntam sobre isso e até os médicos generalizam essa informação. “O ideal são 12kg!”

Como assim??? E o peso que iniciei a gestação? Acho sim que devemos cuidar, fazer os exames regularmente, controlar a glicemia e outras taxas, mas sem neurose. Não devemos excluir nenhum grupo alimentar e muito menos excluir o tão “temido” carboidrato. Pelo contrário, nosso corpo precisa de mais energia para poder se desenvolver normalmente neste período tão importante, em que nossas necessidades de vitaminas e minerais duplicam.

Atualmente sigo as vozes do meu corpo. Muitas vezes os desejos acontecem como uma espécie de sinal do organismo sobre alguma carência alimentar. Se tenho desejos de carne, pode ser uma indicação de que estou necessitando de mais ferro ou proteína. Da mesma forma, leite, sorvete, iogurtes podem ser sinal de carência de cálcio. E vontade de doces podem sugerir uma hipoglicemia.

Cuidado: Isso não se aplica aos desejos de comer terra, sabão em pó, tijolo e algodão. Esses podem indicar um transtorno alimentar chamado pica.

Para saber mais:
Institute of Medicine (2009): ganho de peso recomendado de acordo com o IMC materno pré gestacional

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Aniversário, comida e memória

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Por Marle Alvarenga, nutricionista

No meu aniversário de 10 anos minha mãe fez um bolo sensacional: de uma casinha com telhado de barra de chocolate e um caminho de confeitos! Foi um sucesso entre os primos e vizinhos!
Também me lembro das festas com canudinhos recheados de salada de maionese (aqueles que você enrola a massa em formas de alumínio e frita) e coxinhas de massa de mandioca, que ela fazia passando a mandioca num moedor manual herdado da minha avó.

Cresci comendo isto nos aniversários da família, sem nenhuma crise, assim como também cresci comendo jiló (que amo!), nigagori, e catando maxixe de balde no sítio, e vendo minha avó degolar galinhas. Penso na sorte de ter uma avó que me ensinou a cozinhar e que fazia a melhor panqueca para o café da manhã – com geleia de uva (que ela fazia com a borra que sobrava da sua produção caseira de suco de uva). E da sorte de ter uma mãe que me colocou na cozinha desde cedo, e que sempre foi tão tranquila com a comida, passando saúde e afeto às colheradas cheias – e que o faz ainda hoje quando gosta de perguntar aos filhos o que eles querem comer para os almoços de família.

Penso na tristeza de ver hoje tantas pessoas completamente desconectadas da comida, sem boas memórias e cheias de neuras. Uma solução, como bem colocado no novo livro de Michael Pollan, é cozinhar*: uma solução para melhorar a saúde, estabelecer vínculos com a família e amigos, ajudar o sistema alimentar, reduzir a dependência e aumentar autossuficiência, e ainda, aumentar nossa compreensão sobre o mundo e nosso papel dentro dele.

Assoprando minhas velinhas de aniversário, faço o pedido de que as pessoas se conectem de novo com a comida – com a comida e não com os nutrientes – e todos os seus amplos significados, colocando a mão na massa, saboreado e compartilhando o prazer, desta que, segundo Brillat-Savarin**, “nos sustenta do nascimento a morte, aumenta as delícias do amor e a confiança da amizade, desarma o ódio, facilita os negócios e nos oferece, durante o curto trajeto da vida, o único gozo que por não ser seguido de fadiga nos repousa de todos os outros”.

* Pollan M. Cozinhar – uma história natural da transformação. Intrínseca, 2014.
**Brillat-Savarin JA (1848). A Fisiologia do Gosto. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Fonte: Blog Genta – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Não sou nutri natureba

nutri naturebaPor Marcela Salim Kotait, nutricionista

Hoje estava na padaria e ouvi duas amigas conversando: “A Fulana é nutricionista, então já viu, né?! Tudo na casa dela é natureba”. Foi como um soco no meu estômago. Não tem quase nada “natureba” na minha casa, e eu sou nutricionista.

Será que sou uma má profissional por não ser natureba e gostar de chocolate? Será que meu diploma vale menos por que comemorei o aniversário de um amigo querido com bolo e brigadeiro? Será que por que gosto de molho de mostarda e mel na salada sou menos que a Fulana natureba que come salada com semente de alfafa?

Sinto muito por minha profissão estar tomando o rumo atual, quando somos vistos como emagrecedores, prescritores de dietas, pessoas naturebas, perseguidores e… chatos!

Quantas vezes já ouvi de pacientes em suas primeiras consultas que estavam aliviados por eu não os ter “proibido de comer nada”, e por saber que “até chocolate” está no novo planejamento alimentar, montado por nós dois e não imposto como última solução pela nutri xerife.

O fato de alguém ser natureba não é problema nenhum, aliás, uma das minhas melhores amigas é natureba, não usa xampu, não come carne, não usa roupas sintéticas, mas não é nutricionista. O que me incomoda é a preconceituosa e discriminatória associação feita a pessoas que tem como ganha-pão a Nutrição. Nem todo nutricionista é natureba, e nem todo natureba é nutricionista. O fato de haver essa simplista associação é o me faz refletir que não somos melhores que quem come Doritos, nem quem vive a base de gelatina diet, nem quem não dispensa a semente da planta andina colhida por destras mulheres virgens.

Comemos por prazer e por necessidade. Comemos porque sabemos sim o valor nutricional dos alimentos, mas também por que sentimos prazer. Comemos por que tal ingrediente faz bem, mas também comemos por que é delicioso. Comemos porque faz bem pro coração, e comemos porque faz bem pra alma.

Ser nutricionista não significa “vestir a profissão” 24 horas por dia, e muito menos ser nutricionista é ser alguém que come de maneira diferente ou melhor que os outros. Ser nutricionista é trabalhar para tentar melhorar a relação das pessoas com a comida em dias que comer está rodeado de culpa e medo. Ser nutricionista é ajudar as pessoas a entender o próprio corpo e suas necessidades. Ser nutricionista é muito mais que ser natureba.

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Priorize-se

Priorize-se

Por Paula Costa Teixeira, profissional de educação física

Para quem não tem o hábito de se exercitar regularmente, sair do sedentarismo é um desafio. A vida está cada vez mais cheia de compromissos, o tempo parece voar e um dia tem sido pouco para dar conta de tudo o que precisaria ser feito.

Muitas pesquisas comprovam que a prática de exercícios traz um monte de benefícios para a saúde. No entanto, ter conhecimento sobre essa importância nem sempre leva as pessoas a praticar. Dentre as dificuldades mais comuns, têm-se a falta de tempo, o cansaço, dores pelo corpo, entre outros. Independente da barreira que impede o seu engajamento, vale a pena levantar a reflexão sobre as suas prioridades.

Ter um momento para se exercitar é dar prioridade a você mesmo. Ao trabalhar com adolescentes de escolas públicas em um projeto de prevenção de transtornos alimentares, desenvolvemos oficinas de diferentes modalidades esportivas e atividades a fim de auxiliar as meninas na escolha de uma atividade e ajudá-las a encontrar motivação. O corpo quando se movimenta em uma atividade lúdica produz uma sensação boa e gostosa que proporciona momentos de alegria, prazer e bem-estar.

Dar prioridade para si mesmo é um dos caminhos para o primeiro passo. Voltando ao exemplo das meninas, nós costumamos conversar sobre a distribuição do tempo da semana. Ao fazer as contas, elas percebem que uma semana tem mais de 10 mil minutos, e que dançar três músicas todos os dias no próprio quarto, já é um bom começo para despertar essas boas sensações. Outro caminho para se engajar de forma efetiva, é encontrar alguém para dividir esse momento.  Um familiar, um amigo, um colega de trabalho, ou seja, uma pessoa que seja seu parceiro, um incentiva o outro, e já ajuda a garantir pelo menos duas horinhas da semana.

Além do desafio de dar o primeiro passo, existe também a dificuldade de manter a regularidade e de tornar a prática num verdadeiro hábito. O hábito pode ser adquirido na medida em que os benefícios começarem a serem sentidos e os seus objetivos alcançados. E isso só acontece depois de alguns meses de prática regular… Pois é, o exercício é malvado nesse sentido. É necessário pelo menos quatro meses para começar a colher os frutos do exercício. Também é importante conciliar outros hábitos para os resultados serem duradouros, mas isso fica para um outro post.

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Nem vem de garfo porque hoje é dia de sopa!

dia de sopa

Por Ester Soares Paulino, nutricionista

Tem razão quem diz que um raio gourmetizador caiu sobre o arroz com feijão! Ate a coxinha e
o brigadeiro, quase que unanimidades nacionais, estão sofrendo com este raio!
As pessoas estão sob o encanto ou ilusão(?), que o arroz com qualquer coisa com nome
diferente ou além oceano, pode ser melhor que o arroz do dia a dia.
Nada contra, absolutamente não! Amo, adoro cozinhar, experimentar e comer. Mas, por favor, parem de gourmetizar a comida. E parem de transformar a comida, sujeito simples, em comida saudável, nome composto!
Tomemos a coxinha! Coxinha é uma receita simples. Quando você muda os ingredientes, você muda a essência, não é mais coxinha, ora! Brigadeiro idem. Foi esta simplicidade que o fez brigadeiro. O brigadeiro!
Veja bem, não estou falando de um mimo, um regalo, um presente! Estou falando de comida.
Por que ser tão ingrato com o que gostamos, simplesmente por gostar? O dia a dia pode ser feito de arroz, feijão, bife, ovo, alface, tomate e tudo mais que tenha nome de comida e que sua avó faria para você ( não é, Michael Pollan?).
O Guia Alimentar Para a População Brasileira, em sua mais recente edição diz e aqui reforço, concordo plenamente: “Sociedades que apresentam padrões saudáveis de alimentação, que desfrutam de boas condições de saúde e bem-estar, que cultivam o convívio social, que protegem a cultura e que preservam o ambiente são mais propensas a se tornarem e permanecerem sociedades justas e prósperas.” Isto também é sustentabilidade!
Ainda sobre e do Guia:
“A alimentação que promove a saúde das pessoas pode e deve ser fonte de prazer. Saúde e prazer não são vistos como opostos, antes pelo contrário. A alimentação que promove a saúde tem a capacidade de prevenir tanto deficiências nutricionais e suas consequências quanto a obesidade e outras
doenças crônicas. A alimentação que promove a saúde estimula o convívio social, protege a
cultura e preserva o ambiente.”
Estas recomendações estão no Guia Alimentar para a População Brasileira. Faça dele sua leitura e elimine todos os “CONSELHOS” encontrados nas revistas de banca de jornais e na televisão, com as abomináveis dietas detox e comidas gourmetizadas!
Fonte:  GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Reprograme o seu cérebro e mude os seus gostos alimentares!

reprograme o seu cerebroPor Sophie Deram, nutricionista

Um novo estudo sugere que podemos mudar nossas preferências alimentares sem fazer restrições e mantendo o prazer de comer

Uma pesquisa publicada neste mês de setembro na revista Nutrition & Diabetes observou que é possível mudar o sistema de recompensa no cérebro e as preferências por alimentos, graças a uma intervenção que alia mudança de padrão alimentar e mudança comportamental.

A equipe que fez a pesquisa já tinha mostrado que mudanças comportamentais podem levar a uma diminuição do apetite e do desejo por alimentos ricos em gordura e açúcares.

O estudo, apesar do número muito pequeno de pacientes e de uma série de limitações, é o primeiro a mostrar através de ressonância magnética que a ativação cerebral do desejo por alimentos pode ser alterada por uma intervenção comportamental de seis meses.

O condicionamento das nossas preferências por certos alimentos começa desde a infância.

Pesquisas anteriores tinham sugerido que a vontade por alimentos de alta densidade calórica, uma vez instalada, era impossível de mudar. Com esse estudo, mostraram que é possível reprogramar o cérebro e o condicionamento dele.

Roberts e seus colegas estudaram 13 homens e mulheres com sobrepeso e obesidade.
Eles foram submetidos a ressonância magnética (MRI) do cérebro no início e no final de um período de seis meses. As imagens do cérebro revelaram, no inicio, alterações em áreas do centro da recompensa que controla o desejo por alimentos de alta densidade calórica.

O grupo que participou da intervenção foi incentivado a mudar seu regime alimentar, aumentando o consumo de ítens que contêm mais fibras e proteínas. Depois de seis meses mostraram uma mudança positiva no seus sistema de recompensa, ou seja, eles não desejavam tanto os ítens mais calóricos. Ao contrário, essa área aumentou a sensibilidade a alimentos de baixas calorias, o que indica um aumento da recompensa e do prazer providos por alimentares de baixo teor calórico e ricos em fibras.

O grupo da intervenção, após seis meses, perdeu 6 kg em média (3 vezes mais do que outros participantes sem intervenção) e demonstrou mais atividade cerebral ligada a prazer quando expostos a imagens de alimentos mais saudáveis do que “junk food”.

Os autores sugerem que várias características da intervenção foram importantes, incluindo a educação, mudança de comportamento e incentivo a comer alimentos com alto teor de fibras.

Esse estudo, mesmo que pequeno, é uma indicação do que é possível mudar o comportamento alimentar. É muito interessante porque está a favor de treinar o cérebro a transformar a relação com alimentos para desenvolver gostos e hábitos mais saudáveis, em vez de restringir ou cortar alimentos considerados mais gostosos.

Transformando a relação com alimentos até que as mudanças virem hábitos, isso é provavelmente a chave de um peso saudável sustentável. Você se condiciona e sente prazer com um novo estilo de vida, de maneira sustentável e sem estresse ou privações: você muda o seu paladar e não abre mão do prazer de comer!

Bon appétit!

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares