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Casa de vó

casa de vo

Por Manoela Figueiredo, nutricionista

Fui ontem para a casa da minha mãe, buscar meu filho e minha sobrinha, que estavam passando uns dias com ela. Assim que eu cheguei, senti aquele cheirinho de casa de mãe. Imagino que seja um cheiro sempre familiar para cada pessoa, um cheiro que tem o poder de transformar o momento presente em memórias do passado. Cheiro de lareira, de perfume, de comida.

Era o que eu estava precisando, estava cansada. Minha mãe esquentou uma sopa e me deu uma taça de vinho, nada poderia ser melhor.

As crianças já estavam de pijama e com cara de sono, eram quase dez da noite, férias. Mas meu filho veio da cozinha tomando um picolé de abacaxi, contando que eles que tinham feito, e que era do abacaxi de verdade, muito fácil de fazer e que tinha ficado delicioso; emendou dizendo que também tinham feito brigadeiro e colocado nuns copinhos especiais da vovó, lindos e de vidro.

Crianças gostam de explorar, de pegar, de fazer, de experimentar e se interessam pela forma, pela cor, pelo cheiro e pela textura das coisas – por isso atividades que envolvem alimentos ajudam a desenvolver uma relação saudável com a comida. Tanto faz se a atividade foi com a fruta (abacaxi) ou com o doce (brigadeiro), pois o mais importante é estabelecer uma relação de intimidade com a cozinha, com o que tem dentro dela, com os utensílios – o que faz um liquidificador, ou como o fogo e o forno transformam os alimentos. É muito legal mostrar uma carne ou um peixe antes de ir ao forno – a textura, o cheiro e a aparência e depois de pronto, como aquela transformação acontece.

Antes de me sentar para escrever, eu estava tomando café e meu filho chegou perto da mesa, olhou o que tinha e abriu um pote de castanha do Pará, pegou duas e já ia fechando a tampa quando minha sobrinha falou: “Ei, também quero!”, pegou logo três e saiu correndo para brincar.

Na casa da minha mãe é assim, tem comida de verdade, tem frutas, arroz, feijão, bolo, goiabada, macarrão, leite com chocolate, pão com manteiga e geleia, pipoca… Não tem comida especial para criança, não tem um monte de pacotes e embalagens coloridas, com personagens.

Fico aqui pensando como é bom entrar na casa da minha mãe e lembrar da minha infância na casa da minha avó, onde comíamos gemada de manhã e suspiro à tarde, com os ovos que íamos buscar no galinheiro atrás da casa, e perceber que aqui também não é mais só a casa da minha mãe, é uma casa de vó que continua ensinando as crianças a comerem comida! Comida de verdade e gostosa, e eu espero que um dia Antonio e Angelina também compartilhem dessas memórias.

Fonte: Blog – GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Criança confiante, criança feliz!

 

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Por Karin Dunker, nutricionista

Participei recentemente de um evento internacional sobre transtornos alimentares e gostaria de compartilhar aqui um tema apresentado. Discutia-se a influência que os pais podem ter na formação das atitudes em relação ao tamanho corporal e a imagem corporal de seus filhos, muito antes mesmo do que pensamos.

O assunto chamou a atenção, pois muitas vezes podemos passar mensagens despercebidas para nossos filhos quando demonstramos insatisfação com nossos próprios corpos, ou mesmo expressamos discriminação por corpos diferentes dos modelos atuais de beleza.

É consenso na literatura que as atitudes em relação ao tamanho corporal e a imagem corporal são formadas na primeira infância (2 a 5 anos), e que muitas crianças desta idade já associam características negativas às pessoas obesas e positivas aos magros (Damiano et al, 2015). Os pais e familiares têm um papel formativo no desenvolvimento da imagem corporal, uma vez que são eles que têm o papel de controlar o acesso à mídia, servem de exemplo quanto às suas atitudes (ex: avaliação que fazem de si mesmos e dos outros), comportamentos (ex: prática de exercícios, hábito de fazer dietas), e os comentários e críticas que fazem em relação à aparência (Hart el al, 2015).

A partir de estudos sobre o assunto (ver referências abaixo), o grupo de estudiosos da Austrália desenvolveu e criou um programa voltado para pais de crianças na faixa etária de 2 a 6 anos que se chama “Confident Body Confident Child“. O programa coloca algumas dicas valiosas que nos ajudam a refletir sobre nossas próprias posturas perante nossos filhos. Gaste um tempo para ler e ajude seus filhos a serem felizes!

Promovendo uma imagem positiva e uma alimentação saudável na sua família

Você deve:

Demonstrar aceitação das diferentes formas corporais.

Falar da importância de se ter um corpo ativo e saudável e não o magro e musculoso.

Aceitar seu filho do jeito que ele é, independente do seu peso, tamanho ou forma corporal.

Elogiar seu filho em áreas não relacionadas à sua aparência.

Ensinar seu filho que a comparação da sua aparência com os outros pode fazer eles se sentirem mal consigo mesmos.

Ensinar seu filho formas de lidar com os comentários negativos feitos pelos outros.

Falar com seu filho como a mídia promove padrões de beleza irreais sobre peso e aparência.

Ser um exemplo tomando o café da manhã todos os dias, encorajando seu filho a fazer o mesmo.

Fazer refeições em família regularmente.

Tornar o momento das refeições um momento prazeroso e relaxante.

Procurar por ajuda profissional se você detectar algum problema com seu filho em relação a peso, imagem corporal e alimentação.

Você não deve:

Criticar a sua aparência ou a dos outros.

Criticar ou zombar com a aparência do seu filho.

Permitir que outras pessoas zombem da aparência do seu filho.

Fazer dieta.

Pular refeições.

Encorajar seu filho a fazer dieta.

Sugerir que as pessoas vão gostar mais dele se ele tiver mais músculos, perder peso ou comer menos.

Permitir que seu filho tenha livre acesso à mídia que enfatiza padrões de beleza de magreza.

Deixar a TV ligada durante as refeições.

Usar a comida como recompensa ou punição por bom ou mau comportamento.

Usar a comida para acalmar seu filho.

Classificar alimentos como “bons” e “maus”.

Sugerir que os exercícios podem ser utilizados para perder peso ou ficar musculoso.

Referências sobre o assunto:

Damiano SR, Gregg KJ, Spiel EC, McLean SA, Wertheim EH, Paxton SA.  Relationships between body size attitudes and body image of 4-year-old boys and girls, and attitudes of their fathers and mothers. Journal of Eating Disorders. 2015, 3:16.

Hart LM, Cornell C, Damiano SR, Paxton SJ. Parents and prevention: a systematic review of interventions envolving parents that aim to prevent body dissatisfaction or eating disorders. Int J Eat Disord. 2015, 48:157-69.

Hart LM, Damiano SR, Chittleborough P, Paxton SJ, Jorm AF. Parenting to prevent body dissatisfaction and unhealthy eating patterns in preschool children: A Delphi consensus study. Body Image. 2014, 11:418–425.

Fonte: Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Sentença de vida

sentença de vida

Por Manoela Figueiredo, nutricionista

A maioria das mães e dos pais querem o melhor para seus filhos e cuidam deles com a melhor das intenções, com muito amor e carinho. O que muitos pais não sabem é que as palavras ditas aos filhos são muito fortes e poderosas. Têm o poder de marcá-los para toda a vida.

Vivemos hoje uma situação complexa com muitas crianças e adolescentes passando por tratamentos radicais para perda de peso. Seguem prescrições e planos alimentares rígidos. O que me espanta é o quão pouco os profissionais de saúde (médicos, terapeutas e nutricionistas) orientam os pais quanto ao COMO se deve falar com eles sobre o excesso de peso.

Meu objetivo hoje aqui não é discutir o quanto essas dietas não funcionam (porque elas não funcionam mesmo, e nem vão começar a funcionar, apesar de infelizmente ainda serem um modelo que continua a ser seguido). Porém, eu penso que sempre há alternativas para ajudar as pessoas e os profissionais a repensarem seu discurso. Então minha intenção é convidá-los a refletir sobre o texto abaixo, traduzido do NY Times:

“Quando minha primeira ‘barriguinha’ apareceu eu tinha sete anos. O que posso dizer? Eu gostava de comida; e comia o que eu queria pelo sabor. Eu era ‘incentivado’ por uma senhora, vizinha, que achava a minha ‘pochete’ a coisa mais fofa do mundo. Quando o neto dela estava em casa, me convidavam para brincar. Vez ou outra ela dizia maravilhas da minha região abdominal, as vezes dando um tapinha carinhoso. E ela me enchia de doces e gostosuras.

Eu nunca quis que ela parasse ou me senti constrangido, eu também gostava da minha barriga. Eu gostava do meu corpo, ou pelo menos não o odiava naquela época.

Em casa as coisas eram diferentes. Três das outras quatro pessoas da minha família achavam que o meu peso era abominável, e a quarta, meu pai, não estava nem aí. Para ele o que importava era a mente, não o corpo.

Os outros viam minha gordura como um alvo. Minha barriga recebia murros, meus peitos de menino obeso eram apertados e beliscados, meu corpo era literalmente esmurrado e uma avalanche diária de abuso verbal era direcionada a mim. Tudo isso pelo que? Nove quilos a mais.

A punição ía muito além e não se encaixava com o meu suposto crime. Esses ataques tornaram ainda mais difícil de absorver a mensagem sobre mim que meu pai estava me dando.

Então, numa manhã, colocaram na minha frente uma torrada integral seca e um copo de leite desnatado, que até hoje para mim tem o gosto de água. Minha mãe disse: ‘Josh está de dieta’, uma notícia que desencadeou um acesso de gargalhadas dos meus irmãos maiores, pareciam hienas. Eu comi a torrada, mas não tomei o leite.

No momento em que eu chegava na escola, comia tudo o que via pela frente e ainda os restos dos meus colegas. Cheguei a comer comida do lixo uma vez. Eu não estava com fome. Eu estava com raiva. Eu estava desafiando. Meus novos quilos enfureciam ainda mais meus irmãos e minha mãe.

Com onze anos, minha mãe me mandou para um fat camp (um acampamento voltado para crianças e adolescentes obesos – bastante comum nos Estados Unidos). Depois de dois dias de saudades, comecei a me divertir. Pela primeira vez me senti livre para ser quem eu realmente era, um jovem interessado pela vida, obcecado com as palavras e pela música, me sentindo em casa no meu próprio mundo interior, que era colorido.

As outras crianças eram legais, algumas comiam pasta de dente. Algumas fugiam para cidade para comprar sorvete e eram expulsas. Eu fiquei na minha, escolhi um nome diferente para mim e emagreci dez quilos em oito semanas.

Eu retornei à indignação. Eu não entendia – perdi peso porque não nos davam comida suficiente e nos faziam correr o dia inteiro. Eu não me dei um tapinha nas costas de comemoração.

Logo percebi que os vizinhos comentavam sobre mim – se quiser amigos nessa cidade, se quiser ser aplaudido, continue magro. Duas semanas após minha volta, uma vizinha se aproximou e disse que eu era bonito. Foi a deixa, é isso, ser magro estava na moda, e magro eu iria continuar a ser.

Porém, o peso começou a aumentar de novo, lógico; eu não tinha aprendido nada sobre moderação ou atividade física. Os comentários recomeçaram. Eu entrei em pânico, comecei a fazer jejuns de um a dois dias e praticar lutas, algo que eu odiava.

Mais dois anos se passaram até que meu dedo tocou intencionalmente minha garganta pela primeira vez, a primeira de milhares, e funcionou… Quando eu me formei no ensino médio, eu pesava 62 quilos, com 1,70m e uma cintura de 73cm. Eu estava vomitando de três a quatro vezes ao dia, todos os dias. E o monstro que ninguém vê também tinha nascido, assim como a obsessão com a aparência. Eu continuei assim até os 23 anos, mudei para longe de casa e comecei a me tratar. Depois de alguns começos e recaídas, consegui um dia de liberdade – sem vomitar, e depois outro, e outro. Comecei até a ajudar outras pessoas a se tratarem. Mas eu ainda sentia muita raiva e recomecei de novo. Então vieram as consequências – US$5.000,00 para reconstruir meus dentes destruídos durante anos pelo suco gástrico do meu estômago.

Finalmente, parei e continuei assim quando mudei meu vício para a paz. Paz com meu corpo, paz com as outras pessoas, paz com a maneira como minha vida tinha acontecido. Muitas vezes é mais fácil falar do que fazer. Mas orações e meditação, antes e agora, foram a chave, além de me cercar de amigos que me apoiaram e me distanciar das pessoas que me incentivavam à doença, como uma namorada que durante uma intensa discussão via mensagem de texto me escreveu: ‘vá vomitar’.

Mesmo estando com um peso saudável, eu sempre me olho no espelho e vejo um gordinho. Porém, a grande mudança é que eu parei de tentar arrumar ou consertar. A aparência do meu corpo é como é, assim como é ser canhoto. Quando começo a me sentir feio, vou fazer algo para alguém, tirar a neve de carros, dar comida a um mendigo e coisas assim. Quando faço isso, volto a sentir o quanto minha aparência não importa.

Eu não tenho um filho, mas ainda espero ter. E se algum dia eu for pai e meu filho ganhar muito peso, eu vou encorajá-lo a fazer esportes, ou tocar um instrumento ou fazer o que ele puder para não compensar na comida. Se seus familiares ou amigos o provocarem ou tirarem sarro dele, eu vou interferir, não farei uma conspiração para humilhá-lo e torturá-lo. Se meu filho me pedir ‘pai, acho que gostaria de perder um pouco de peso’, eu vou estimulá-lo a uma vida saudável, vou levá-lo à quadra de basquete ou a uma aula de boxe, o que ele gostar, e vou ensiná-lo mais sobre a comida, sobre quantidade e variedade; vou ensiná-lo a não prestar tanta atenção em quanto ele pesa na balança, mas sim em como cuidar do corpo físico e emocional e a andar sempre com a cabeça erguida, independente de seu peso.

Se alguém ferir seus sentimentos falando sobre seu corpo e seu tamanho, conversarei com ele sobre como as pessoas estigmatizam e se sentem desconfortáveis com as pessoas gordas porque as veem como largadas, acomodadas, incompetentes e feias, mas vou contar para ele que as pessoas obesas não são inerentemente assim e que pessoas – independente do seu peso – podem ter essas características. Vou contar que músculos e gordura são igualmente bons para o nosso corpo e são parte da incrível máquina que é o corpo humano. Vou dizer que não importa o quanto de ioga ou de arroz integral ele coma, ainda assim irá morrer um dia e que portanto deverá amar a si mesmo e a seu corpo, mesmo que ninguém mais o ame.

Eu vou dizer a ele: ‘Escute seu pai, filho’.”

Fonte: Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Pense duas vezes antes de colocar seu filho de dieta!


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Por Sophie Deram, nutricionista

Hoje estamos falando tanto desta epidemia de obesidade infantil que isso assusta todos os pais e até filhos. Agora há programas para combater obesidade e sempre começa com uma pesagem das crianças, com uma entrega de um cartão com as avaliações, como se fossem notas do tipo “passou ou não passou”. Claro que é importante se preocupar com os nossos filhos e é normal desejar ajudá-los a estar com boa saúde. O problema é que sabemos muito sobre os perigos de saúde associados à obesidade na infância, mas poucos entendem sobre os perigos de colocar as crianças em uma dieta restritiva.

Durante a fase de desenvolvimento, algumas crianças podem ganhar peso mais rápido do que crescer em altura. É importante respeitar o próprio ritmo do corpo e focar no estilo de vida saudável da criança para ajudá-la a manter o seu peso até ela alcançar a sua altura. Focar só no peso nesta idade pode ter consequências muito importantes no comportamento da criança frente a seu próprio corpo, no peso futuro ou no desenvolvimento do comer transtornado.

Quando só focamos no peso, a lógica seria colocá-la em dieta: fechar a boca e malhar para ela perder peso. No começo, talvez você até veja uma queda no número da balança, mas logo você tem o risco de ver seu filho com um apetite maior, um ganho de peso ou um medo de ganhar peso que pode afetar sua saúde. O corpo dele esta em crescimento e o recado que seu cérebro percebe quando se faz dieta é de perigo, porque não esta mais comendo. O cérebro vai desenvolver um processo de adaptação, hoje bem descrito pela ciência, e aumentar seu apetite e colocá-lo em risco, por exemplo, de desenvolver compulsões por alimentos.

Este mês, recebi uma menina de 15 anos com uma mãe muito estressada, me dizendo que a sua filha não parava de engordar. Quando conversei com a menina, percebi que ela está sofrendo de compulsões por doces todos os dias. Isso começou dois meses após uma dieta sem carboidratos feita com médico. Este tipo de dieta restritiva pode aumentar em até 18 vezes o risco de ter transtornos alimentares, e a coitada não conseguia segurar esta onda de compulsões por doces à tarde.

A mãe, que nunca teve compulsões, não podia entender, estava desesperada e muito furiosa com a filha que não conseguia ter “força de vontade”. Tive que explicar que compulsões não têm nada a ver com falta de força de vontade, mas sim que ocorriam devido a uma adaptação do cérebro ao susto da dieta sem carboidratos. Eu vejo isso em adultos e agora cada vez mais em adolescentes!
Se você estiver preocupado com o peso do seu filho, você deve saber que as dietas não são a solução, mas podem tornar o problema maior!

Quais são os risco de fazer dieta com crianças:
* A restrição e o controle nas escolhas e nas quantidades dos alimentos podem fazer com que a criança perca qualquer controle quando os pais não estão por perto.
* Dietas podem levar as crianças a comerem escondidas e com culpa, e isso pode ser um problema que persistirá até a idade adulta.
* Fazer dieta afeta negativamente a autoestima, que pode já ser baixa devido à obesidade e ao preconceito de outras crianças.
* Dietas podem criar uma relação conflituosa entre pais e filhos.
* Redução de calorias pode impedir que a criança receba os nutrientes adequados para a saúde e um crescimento adequado.
* Fazer restrição pode acionar um ganho de peso ainda maior do que antes da dieta.

Em vez de forçar uma criança a fazer dieta, hoje se sabe que é muito melhor incentivar hábitos saudáveis para toda a família e respeitar a fome e saciedade do filho com excesso de peso e também dos outros. Claro que é importante fazer mudanças para ajudar a criança, mas essas mudanças devem ser da família inteira, sem discriminar a criança que sofre um desafio com o peso, focando na saúde e não no peso!

* Evite comentários negativos sobre o peso ou o corpo, não só da criança, mas de qualquer outra pessoa.
* Não categorize aos alimentos como “bons” ou “ruins”. E também não categorize o jeito de se alimentar como “perfeito” ou como “porcaria”.
* Estabeleça em casa padrões mais equilibrados, acrescentando legumes e frutas, cozinhando e degustando alimentos, nutrindo o corpo com uma alimentação de qualidade e com alimentos mais verdadeiros. Envolva as crianças nas compras e preparações de refeições.
* Sirva porções menores e permita a criança a se servir de novo caso esteja com fome ainda. Respeite a fome e saciedade da criança e permita seu filho não terminar o prato caso não esteja mais com fome.
* Deixe seu adolescente sair com os amigos sem fazer depois uma fiscalização. Todo mundo tem direito a comer com prazer e dar escapadas na qualidade, especialmente adolescentes que saem com os amigos geralmente em fast food.
* Incentive uma autoimagem positiva, ajudando seu filho a descobrir seus talentos e interesses especiais. Não é o peso que determina quem ele é!

É uma dinâmica familiar que vai beneficiar todo mundo!

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Meu filho tem fome de quê?

meu filho tem fome de que
Por Karin Dunker, nutricionista

Filhos, acho que seria impossível não falar sobre eles, nesta fase de minha vida em que eles são a prioridade, já que são pequenos e estão em fase de crescimento. Uma fase em que precisamos estar muito presentes, dando atenção, carinho, aconchego, suporte, enfim, somos o porto seguro deles.

Vivo o papel diário de ser mãe e nutricionista, o que a princípio pode parecer a mistura ideal. Muitos podem pensar: ahhh, então seu filho come direitinho, né? Todo mundo conhece aquele ditado: “Santo de casa não faz milagre”. Por muitas vezes tenho essa sensação mesmo. Afinal de contas, o que é comer direito? É não comer doces? Não tomar refrigerantes? É comer 5 porções de frutas, verduras e legumes por dia? Isso tudo a gente tem como senso comum, mas será que é tão fácil assim colocar isso em prática?

Como mãe, posso dizer que não é nada fácil, pois existe um sentimento materno que nos impede muitas vezes de colocar em prática o que aprendemos. Na verdade, é uma união de fatores, como cansaço, falta de tempo para preparar a refeição, e as carinhas irresistíveis, que te vencem. Nessas horas, somos vencidas na batalha, mas não precisamos nos sentir derrotadas. Relaxe e curta esse momento! Todo mundo passa por isso, e não é o fim do mundo.

A verdade é que as lembranças que temos de nossa infância são as que marcam a nossa vida. Temos que dar o exemplo, mas não precisamos ser rigorosos e disciplinados o tempo todo. Procure criar momentos em que a alimentação é associada a sentimentos bons.

É fantástico ver a felicidade de meus filhos quando faço bolo de chocolate, brigadeiro, biscoitos enfeitados ou até mesmo uma simples gelatina. Outros momentos, como tomar o café da manhã na padaria, ir ao Mc Donald´s após a aula da sexta feira, tomar sorvete na praia, fazer um piquenique no parque. São momentos marcantes para nossa família, e que com certeza trarão boas lembranças alimentares, e que já deixam saudades. Esses momentos passam, pois os filhos crescem, e os interesses mudam. Portanto, se você for mãe, aproveite essa fase para cozinhar com seu filho, desfrutar dos momentos das refeições em família. No final, o que fica é que você viveu e compartilhou com eles!

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Uma história real

Sem título

Por Manoela Figueiredo, nutricionista

A cena:

Terça-feira, 13h30, férias de julho, filho de seis anos, mãe e avó almoçam e a ajudante passa um café bem cheiroso na cozinha.

O diálogo:
– Filho quer batata-doce?
– Não gosto.
– Experimenta de novo?
– Não quero.
– Mais uma vez? A Irene fez essa tão gostosa.
– Tá bom…

Era mais ou menos a décima vez que eu oferecia batata-doce.

Um micro pedaço é espetado pelo garfo e se encaminha para dentro da boca da maior cara de nojo já vista.

– Peraí! Assim não, desse jeito é claro que você não vai gostar, mistura ela com um pedacinho de frango e de brócolis.

– Tá bom… – segue uma pausa e depois – mãe essa foi a última vez que eu experimentei batata-doce, sabe porquê?

– Não.

– Porque eu adorei! Pode por mais no meu prato?

– Claro! – essa foi minha resposta. (Filho que orgulho, que felicidade, como a mamãe tá contente que você experimentou batata doce, é tão boa para você! Essa seria minha resposta imediata, sem pensar, porque eu estava mesmo feliz).

Ponho mais batata-doce no prato dele e não falo nada.

– Mãe da licença?

– Pra que?

– Já volto, por favor!

– Tá.

Na cozinha…

– Irene sabe o que eu comi e gostei?

– Nem imagino.

– Batata-doce.

– Sério? Que legal! (gênia, penso eu, sempre sabe o que falar)

Volta para a mesa.

– Mãe?

– Diga.

– Põe uma folha no meu prato?

– Claro filho, lisa ou crocante? – essa foi a minha resposta (filho que bom que você está comendo salada, que orgulho de novo da mamãe, muito saudável! Essa seria de novo minha resposta imediata, sem pensar, porque eu estava mesmo feliz).

– Quer que eu corte pra você?

– Sim! Vó, você comeu brócolis?

– Ainda não.

– Come vó, esse é um jeito especial de preparar, meu e da Irene.

– Como é?

– A Irene só põe o brócolis no vapor e depois a pessoa põe quanto de sal e azeite gostar, na hora da mesa. (o brócolis aqui era feito refogado, um dia não sei porque ele inventou essa só do vapor).

– Ah, boa ideia, vou experimentar.

– Mãe to “sastifeito”! – essa não consigo corrigir…

E assim ele comeu um belo prato de arroz integral, feijão, frango assado, brócolis, batata doce, alface crocante, tomate, cenoura e um Romeu e Julieta (pra que não conhece, trata-se de um delicioso “sanduíche de goiabada com queijo”) de sobremesa.

Claro que não é todo dia assim, mas ao final dessa refeição reafirmei meu pensar (e o das nutricionistas americanas Ellyn Satter e Evelyn Tribole), no qual nosso papel enquanto pais é organizar: o horário das refeições, o que e como serão servidas e um ambiente agradável; e o papel das crianças é comer o que tiverem vontade! Não adianta ficarmos colocando adjetivos na comida, dizendo que deixa mais forte ou que tem mais vitaminas, os estudos mostram que eles não comem mais porque aquilo “é bom” para eles, as crianças comem aquilo que gostam e sentem vontade de comer!

Proponho um desafio: ofereça a comida servida na mesa ao seu filho e se ele não topar, não insista, ofereça de novo um outro dia; e quando seu filho disser que está “sastifeito”, acredite, deixe que ele pare de comer, essa simples ação é muito poderosa e só vai ajudá-lo a fortalecer sua confiança nos sinais internos que seu corpo manda!

Tente, pelo menos uma vez!

PS: o texto acima não é uma ficção, aconteceu desse jeitinho que está escrito, palavra por palavra, para a minha felicidade!

Fonte: