O QUE É TER UMA IMAGEM CORPORAL POSITIVA?

O QUE É TER UMA IMAGEM CORPORAL POSITIVA?

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Por Camila Lafetá Sesana, nutricionista

Às vezes, conseguimos ter mais clareza sobre o significado de uma coisa refletindo sobre aquilo que ela não é. Essa foi a minha conclusão ao terminar de ler um artigo teórico sobre imagem corporal positiva, que esmiúça todos seus elementos e como eles se relacionam.

Intuitivamente, é fácil pensar que imagem corporal positiva seria o contrário de imagem corporal negativa. No entanto, as autoras do artigo defendem, baseadas em uma revisão da literatura científica sobre o tema, que não, não é correto imaginá-la como uma das pontas de um espectro de satisfação e insatisfação. Ter uma imagem corporal positiva não é o mesmo que ter baixos níveis de atitudes negativas em relação ao corpo – ela existe por si só e possui múltiplas facetas.

Como assim?

Uma pessoa com atitudes positivas em relação à sua imagem corporal tem flexibilidade, isto é, está mais disposta a aceitar e vivenciar, com intenção, as sensações, percepções, sentimentos, pensamentos e crenças sobre seu corpo sem tentar mudá-los e sem deixar que eles afetem outros domínios de sua vida.

apreciação corporal seria outro elemento importante da imagem corporal positiva. Mais do que focar na aparência do corpo e no grau de conformidade que ele guarda com ideais de beleza do momento, apreciar o corpo é estimar suas características, sua saúde, o que ele representa, sua herança familiar ou étnica e ainda aquilo que ele é capaz de fazer.

Há uma linha de pesquisa que propõe que a atenção para a funcionalidade do corpo pode melhorar a autoestima, reduzir o risco de comportamentos alimentares inadequados, a disfunção sexual e a aumentar qualidade de vida em geral. Façamos uma pausa para contemplar todos os processos que ocorrem o tempo todo em nosso corpo: a fascinante complexidade e elegância de suas funções biológicas, como respiração, circulação, digestão e reprodução. A particularidade de o cérebro humano ser capaz de refletir sobre a própria existência. A mobilização dos sentidos, que media e colore toda a experiência de estar vivo. A capacidade desse corpo se expressar criativamente, como na dança, na música ou na escrita. De dar e receber afeto. E se tudo isso fosse somado à aparência na equação do valor que reconhecemos em nós mesmos?

Cultivar a aparência não deve ser tabu, diz o artigo. Uma imagem corporal positiva não exclui os desejos de expressar a individualidade pela aparência, de realçar características do corpo ou de parecer mais atraente. A questão é saber se o investimento na aparência é a base do juízo de valor da pessoa sobre si mesma ou uma série de gestos de gentileza com o próprio corpo.

Uma observação importantíssima feita pelas autoras é a de que aceitar e amar o corpo como ele é não é o mesmo que abandonar todos os cuidados com a saúde, a alimentação e a atividade física ? crítica comum a quem defende abordagens neutras em relação ao peso. Pelo contrário, trabalhos mostram que mulheres com maiores graus de aceitação corporal são mais atentas à sua saúde, desde usar mais filtro solar e fazer exames preventivos de câncer de mama com mais regularidade, até investir de forma mais benigna em sua aparência física.

Por fim, ter uma imagem corporal positiva não é aceitar e amar incondicionalmente o corpo. Essa não é uma meta realista em nossa cultura. Aliás, é possível sentir insatisfação em relação ao corpo ou partes dele e ainda assim ter uma atitude positiva. Mulheres na maturidade são um exemplo dessa convivência pacífica: o envelhecimento pode atenuar a importância da aparência e convidar a um respeito ao corpo por outros caminhos.

Buscar uma “relação perfeita” com o corpo é uma armadilha tão grande quanto buscar um “corpo perfeito”.  Acredito que a palavra-chave aqui é mesmo flexibilidade: seja para enfrentar a torrente de mensagens negativas enviadas pela cultura, pelas pessoas à nossa volta e por nós mesmos, seja para encarar suas próprias limitações, com coragem, generosidade e compaixão.

 

GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade

 

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