Por Ester Soares Paulino, nutricionista
Michel Pollan, no seu excelente livro “Cozinhar”, diz o seguinte:
“Quando a indústria dos alimentos nos libertou do esforço e da dificuldade necessários para que nós mesmos preparássemos nossa comida, nos tornamos mais inclinados a abusar delas de forma impulsiva”. Vide a batata pronta para fritar.
Ainda no livro: “quando o custo de alguma coisa cai, seu consumo sobe. Mas o custo não é medido apenas em dinheiro, também pode ser mensurado em tempo”, citando o estudo de David Cutler (pode ser encontrado nas referências ao final do texto).
O que fica claro é que a conveniência da comida processada presente nas prateleiras do supermercados (lanches e refeições prontas) exerceu e continua exercendo efeito importante e avassalador no consumo energético atual. E o que este mesmo estudo investigou – e outros tantos corroboram – é o fato de que quanto mais tempo uma nação dedica a fazer comida em casa, mais baixos são os índices de obesidade.
Essa comida fácil, disponível a um click do microondas, que nos permite comer tão rapidamente e eliminando o primeiro passo dos sinais de saciedade, a mastigação. A oferta das prateleira dos supermercados pode ser mais convincente do que uma ida a feira, mas também bem mais danosa quando esquecemos nossas habilidades culinárias e deixamos de ensinar isso às próximas gerações. É disso que falo quando digo que batata frita não engorda.
Além de desaprender a fazer sua própria comida, o que esperar de uma geração que não senta mais à mesa, não divide o alimento, não compartilha o momento, a espera? Estas são as primeiras lições de cidadania que o indivíduo aprende e isto esta sendo desprezado.
Não dá para desconsiderar o fato que o tempo é hoje um bem precioso. Mas a questão é: precioso para que? Que tempo é esse que não te permite parar alguns minutos para cortar um legume e refogá-lo no alho e no azeite? Passar um bife na chapa, espalhar umas cebolas, lavar umas folhas de alface? Sentar à mesa e deliciar-se? Faça isso e me diga: quanto tempo do seu precioso dia isso levou?
Ah, deixe eu contar uma curiosidade sobre o título deste post (“Batata frita não engorda!”). Eu ouvi de uma nutricionista incrível, que assim como eu, acredita que a alimentação não pode ser entendida de maneira tão reducionista tipo “saudável e não saudável” e foi comentado dentro de um contexto plenamente justificado e fundamentado. Sim, eu também repito: Batata frita não engorda!
Para saber mais:
Receita – Batata frita sequinha
Pollan, Michael. Cozinhar: uma história natural da transformação. ed. Intrínseca. 2014
Fonte:
GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade