Novo estudo sobre fertilidade traz boa notícia às mulheres

Novidades sobre a fertilidade (Foto: Think Stock)

Estudo comprova que baixa reserva ovariana não indica necessariamente infertilidade

Um estudo publicado no Journal of the American Medical Association traz uma boa notícia para mulheres que desejam engravidar. A pesquisa comprova que baixos resultados nos exames que indicam a reserva ovariana, como a dosagem do hormônio folículo-estimulante (FSH) e do hormônio anti-Mülleriano (HAM), comumente solicitados pelos médicos, não indicam necessariamente que a mulher não seja fértil.

Durante muito tempo acreditava-se nesta hipótese, mas há alguns anos médicos da área começaram a observar que não existe essa relação e o estudo veio para realmente embasar essas suspeitas.

O especialista em reprodução humana Marcio Coslovsky, que atua na área há 20 anos, comentou o estudo:

Marie Claire: Qual a principal novidade neste estudo?
Marcio Coslovsky:
 Esse estudo comprova o que os especialistas em reprodução humana já suspeitavam e viam na realidade dos consultórios: uma reserva ovariana baixa não significa a perda das esperanças de uma chance de gestação. Continua não sendo o ideal, porém, tanto nos tratamentos de reprodução humana como nas tentativas de gravidez natural, não significa uma impossibilidade. O que acontecia até agora era que muita gente confundia esse resultado com infertilidade, o que não é verdade. Esse estudo vem para comprovar esse ponto.

MC: Por que os baixos índices de FSH e HAM não indicam mais que a mulher teria dificuldade para engravidar?
MC:
 Esses exames ajudam a mensurar a reserva ovariana no que diz respeito ao número de óvulos restantes que a mulher possui, mas é preciso entender sua importância e suas limitações. São importantes para mostrar a urgência ou não de iniciar um tratamento para engravidar, ou pelo menos para saber se deve parar de evitar uma gravidez (usando métodos preventivos como anticoncepcional e camisinha). Mas não é um marcador de infertilidade, ele representa a urgência de tempo, apenas. Quase todas as pacientes que recorrem as clínicas têm o marcador baixo, pela idade delas.
O que deve ser entendido é que um marcador na reserva não significa que não se pode esperar mais um ano, um ano e meio para iniciar o tratamento. Você pode ter o marcador baixo e mesmo assim engravidar, pois basta um bom óvulo. Apesar do exame ser uma luz amarela, não é sinônimo de abandonar as esperanças da maternidade. Pelo contrário, ele mostra se ainda pode aguardar ou se deve correr atrás o mais rápido possível.

MC: A mulher consegue engravidar com um óvulo, mas é mais difícil certo?
MC:
 É uma questão realmente de probabilidade, basta um bom óvulo, mas uma reserva ovariana baixa significa que a mulher vai ovular menos.
Para ilustrar: uma mulher de 30 anos com uma reserva ovariana normal para a idade, quando fazemos a estimulação do ovário para um tratamento, conseguimos cerca de 12 óvulos por ciclo. Desses 12, caso os parâmetros dos espermatozoides utilizados para fertilização estejam normais, conseguimos formar 10 bons embriões, com grandes chances de resultar em uma gestação. Já uma mulher de 30 com uma reserva ovariana baixa, ao receber o mesmo estímulo, conseguimos extrair em média 5 óvulos por ciclo, ou seja, menos da metade.  Já no caso de uma gravidez espontânea, as chances de uma mulher de 30 anos, com parâmetros de reserva ovariana normais, engravidar são de 12% a 14% por mês (o que resulta em 98% ao ano). Para uma mulher da mesma idade, mas com contagem baixa, as chances caem pelo menos pela metade. Aos 30 anos, um resultado ruim de HAM é 1 ou abaixo de 1. Já o resultado do FCH funciona ao contrário, quanto maior, pior. Assim, para FSH são considerados ruins resultados superiores a 12. Eu tenho uma paciente de 41 anos que me procurou para congelar óvulos. Não era a idade ideal, mas a gravidez ainda não estava nos planos. Durante o tratamento, nas consultas de rotina para verificar se conseguiríamos retirar os óvulos naquele ciclo, eu vi que ela tinha ovulado. Então disse que se ela quisesse tentar uma gravidez natural, aquele seria um bom momento. Ela foi embora do consultório para pensar no assunto e marcamos seu retorno para o próximo ciclo. Há  dois dias ela me ligou para dizer que estava grávida. Bastou um bom óvulo.

MC: Com este estudo muda a idade para o congelamento de óvulos ou continua ideal até 35 anos?
MC:
 Continua ideal até 35 anos, mas ajuda na tomada de decisão. Se uma mulher descobre aos 30 que sua reserva ovariana está abaixo do esperado, ela vai entender que existe um sinal de alerta e pode ser interessante ela começar a pensar em engravidar ou, se uma gravidez dentro de um ou dois anos não está nos planos, pode ser interessante congelar os óvulos. Este estudo é importante porque o próprio médico fica embasado para dar esta orientação à paciente, mesmo a idade limite sendo 35 anos.

 

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