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A experiência “New Moves”

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Por Karin Dunker, nutricionista

Há algum tempo venho desenvolvendo um projeto de pesquisa com meninas adolescentes de 13 a 14 anos de escolas públicas, o programa “New Moves” criado por Dianne Neumark-Sztainer, renomada pesquisadora da Universidade de Minnesota, que tem por objetivo prevenir a obesidade e os transtornos alimentares. A pesquisa feita em 10 escolas está na reta final, e em breve teremos publicações sobre seus resultados.  Mas o motivo que me levou a escrever o post sobre esse assunto, é por que gostaria de compartilhar as impressões que não podem ser descritas em um artigo científico, a experiência de lidar com um grupo carente, que vive em uma realidade que desconhecemos, muito além do que imaginamos.

Meninas carentes, de nível socioeconômico baixo, que muitas vezes vivem em condições precárias de moradia, em um ambiente familiar desestruturado, e que em um primeiro momento se interessam pelo projeto pelo simples fato de achar que talvez seja importante cuidar da alimentação e do corpo, mas também por uma atenção que não têm em casa e na escola. São meninas que por algumas horas por semana, recebem atenção, carinho e conforto por parte de uma equipe de nutricionistas, psicólogos e educadores físicos.

É o momento em que podem se expressar, compartilhar uma refeição, conhecer e saborear novos alimentos, sendo que algumas inclusive têm oportunidade de ter uma primeira experiência culinária. Aprendem que comer saudável não é se privar do que é proibido, mas sim pensar sobre as próprias escolhas que podem ser determinantes de uma qualidade de vida na fase adulta.  Aprendem que atividade física não precisa ser chata, que não é simplesmente ir para academia ficar horas malhando, mas que pode ser prazerosa, divertida, trazer bem estar e fazer a diferença em suas vidas.  Também refletem sobre o poder da mídia de determinar o que é um corpo bonito, como as emoções afetam seus comportamentos, a importância de se determinar metas viáveis e realistas quando se pensa na mudança de um comportamento.

Aprendem, mas também brincam, dão risada, criam novas amizades, em um ambiente em que os mediadores estimulam a cooperação, compreensão, expressão de suas ideias, sem julgamentos e criticas.

Oferecer essa possibilidade para esse grupo foi desafiador, e em alguns momentos frustrante, pois sabemos que a realidade social em que vivem muitas vezes impede a perpetuação da mudança de um comportamento, seja na prática da atividade física, na alimentação, na satisfação corporal e autoestima.

Apesar dos desafios e das dificuldades, terminamos essa jornada com a sensação de que fizemos a diferença em suas vidas. Para nós, profissionais da área da saúde, fica um sentimento de que cumprimos nosso papel, que vai além de nossa formação acadêmica conceitual. Afinal, não somos nutricionistas ditadoras de dieta, nem educadores físicos que visam somente o “fitness”. Ouvimos, prestamos atenção, e tentamos compreender as limitações do contexto de vida destas meninas. Sim, é possível pensar de uma forma diferente, atuar de uma forma diferente, é possível pensar em prevenção, mas para isso é essencial refletir sobre as reais necessidades de um grupo ou indivíduo, confrontando as técnicas tradicionais didáticas, e se abrindo para abordagens inovadoras de atuação.

Se quiser conhecer mais sobre a proposta do New Moves, acesse aqui o site.

Fonte: Blog GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

O nutricionista que eu queria ser

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Por Maria Luiza Petty, nutricionista

Quando eu era criança, tinha uma ideia de que as frutas faziam muito bem para saúde. Muitas vezes, quando eu as comia, tinha uma sensação de que elas estavam me purificando e me enchendo de vitalidade.

Uns bons anos mais pra frente, chega a hora de escolher uma carreira universitária e eu tinha alguns interesses bem claros: eu adorava geografia e geopolítica, adorava a ideia de ajudar os outros e carregava esta “crença” de que alguns alimentos teriam capacidades sanitárias. Na minha cabeça, a nutrição seria então a resposta ao dilema “o que eu quero ser quando crescer”.

Lembro-me que fiz uma visita guiada à Faculdade de Saúde Pública da USP, onde o curso de nutrição é ministrado, e logo fui dizendo que eu adorava geografia, me interessava pela área da saúde e que eu imaginava que a graduação teria tudo a ver com isso. A monitora da visita, que era aluna do curso, me olhou com uma cara estranha e disse “acho que não tem muito a ver não, aqui não tem nada de geografia ou geopolítica”. Apesar do balde de água fria, ao final da visita eu recebi um livreto com a grade curricular e nela havia um monte de disciplinas em que eu continuava vendo esta tal relação e enxergava um grande potencial de ajudar as pessoas por meio de alimentos tão maravilhosos, como as frutas, por exemplo.

Quando eu decidi ser nutricionista, no finalzinho do século 20, o Brasil ainda era um país onde havia bastante desnutrição, um pouco de excesso de peso, mas, sobretudo, muito menos informações sobre alimentação e saúde em todos os meios de comunicação. De lá pra cá, vivenciamos o pico da revolução epidemiológica, conhecida como transição nutricional, acompanhada por uma enorme expansão da indústria de alimentos e do contingente de nutricionistas.

Em meio a todas estas mudanças, o nutricionista passou a “ter”* que policiar para que as pessoas não comam demais, especialmente os alimentos gostosos. E aquela ideia de que eu seria um profissional que ajudaria as pessoas começou a ser abalada quando um dia, coletando dados para meu mestrado em uma escola de São Paulo, um aluno dá a seguinte resposta quando perguntado sobre o que faz um nutricionista: “nutricionista é uma mulher chata que diz que tudo o que a gente gosta, não pode comer”.

Felizmente, hoje eu consigo enxergar  que sou uma profissional que ajuda as pessoas a comerem melhor, mas acreditem, hoje meu principal trabalho não é incentivar que elas comam os tais alimentos mágicos, como as frutas. Hoje, muito do meu trabalho é focado para que as pessoas tenham paz na hora de comer, que elas possam comer as comidas que mais amam e que não precisem só comer frutas para purificar o corpo.

Bom, este não era bem o nutricionista que eu inicialmente queria ser, mas acho que pelo menos no quesito “ajudar os outros”, venho cumprindo meu papel tentando diminuir o medo e o sofrimento das pessoas de comerem outras coisas, além das frutas. Quanto à geografia, tive que deixar de lado, mas continuo tendo a certeza de que tem absolutamente tudo a ver com nutrição.

* O nutricionista não tem que policiar o que as pessoas comem, mas muitas vezes o faz por falta de outros recursos para promover uma alimentação saudável, prazerosa e equilibrada.

Fonte: GENTA – Grupo Especializada em Nutrição e Transtornos Alimentares.

A ponta do iceberg: sobre mindful e intuitive eating

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Por Ana Carolina Pereira Costa,  Fernanda Timerman e Ester Soares Paulino

 Recentemente, é notável o destaque que temas como mindful eating (Comer com Atenção Plena*) e intuitive eating(Comer Intuitivo*) têm recebido por parte da mídia e de colegas nutricionistas simpatizantes a essas abordagens. Ficamos muito contentes que esses temas estejam em voga, pois fazem parte da nossa prática clínica (Genta) há muito tempo, e por isso decidimos criar, em parceria com a Equilibrium Consultoria, a Nutrição Comportamental para divulgar também essas técnicas, sempre tomando cuidado em manter o embasamento científico.  Entretanto, estamos percebendo que, por vezes, tais assuntos surgem como se fossem a ponta de um iceberg, isto é, não estão sendo aprofundados como deveriam.  O risco disso é os conceitos assumirem um caráter reducionista e se tornarem banalizados, descontextualizados daquilo que de fato significam.

O Comer Intuitivo é um modelo baseado em evidências para mudança comportamental criado por Evelyn Tribole e Elise Resch (Tribole; Resch, 2012). A proposta é ajudar as pessoas a confiarem na sua sabedoria corporal para atender às suas várias necessidades. Trata-se de uma abordagem que desconsidera a prática de dietas como possibilidade de mudança de comportamento. Seus 10 princípios básicos já foram explicados aqui. Já o Comer com Atenção Plena, segundo definição de Bays (2009), é “uma experiência que engaja todas as partes do nosso ser – corpo, mente e coração – na escolha e preparo da comida, bem como no ato de comê-la em si. Envolve todos os sentidos. O comer com atenção plena nos imerge nas cores, texturas, aromas, sabores e até mesmo sons do comer e beber. Permite que sejamos curiosos e até lúdicos enquanto investigamos nossas respostas à comida e nossos sinais internos de fome e saciedade.” Essa maneira de abordar o comer, com foco total no momento presente, vem do mindfulness (Atenção Plena), que pode ser definido como a capacidade intencional de trazer atenção ao momento presente sem julgamentos ou críticas, com uma atitude de abertura e curiosidade (Kabat-Zinn, 1990; Bauer-Wu, 2011).

Nós do Genta defendemos que tais abordagens não são “um meio para um fim”, isto é, não se tratam de estratégias e técnicas destinadas a emagrecer pessoas ou controlar o estresse das dietas restritivas. Sempre pontuamos que PESO não é COMPORTAMENTO, e sim uma possível consequência, mas nunca o foco! Reconhecemos que os conceitos dessas técnicas vão contra o que muitas vezes nós, nutricionistas em geral, pregamos/prescrevemos. Por exemplo: ao prescrevermos o que e quanto o indivíduo deve comer, já estaríamos indo contra os princípios básicos dessas técnicas, que visam o resgate da autonomia alimentar. Vejam como é complexo! Essas abordagens visam transformar nos níveis mais profundos a relação dos indivíduos com a comida e com sua alimentação.  Acreditamos que, mais do que técnicas a serem estudadas, tais abordagens científicas devem fazer parte do próprio estilo de vida do nutricionista que deseja aplicá-las. Para um nutricionista usar os conceitos de Comer com Atenção Plena em sua atuação clínica, é indicado que ele próprio tenha experiência considerável com a prática de meditação mindfulnessem sua vida pessoal. Existem algumas dicas que podem ser extraídas, como não ter distrações na hora da refeição, prestar atenção aos sinais internos de fome e saciedade, etc.; porém, isto é apenas comer consciente, e não o princípio total do Comer com Atenção Plena.

O Genta procura transmitir aqui em seu blog um olhar crítico e experiente sobre assuntos que aparecem sobre indústria da moda, indústria alimentícia, publicidade, transtornos alimentares, obesidade e sobre nutrição em si. Nossa opinião é parte de um trabalho muito mais profundo, fruto de muitos estudos e pesquisas – que sempre pautam nossa atuação e posicionamento. Portanto, esperamos que estas técnicas e modelos (Comer Intuitivo e Comer com Atenção Plena) continuem cada vez mais populares, mas sem desvio de seu real propósito, sem banalização como mais um instrumento para “perder peso” ou repassadas por outros profissionais sem o cuidado devido (de estudo, prática e profundidade) que essas técnicas merecem.

 Para saber mais:

Bauer-Wu S. Leaves falling gently: living fully with serious & life-limiting illness through mindfulness, compassion and connectedness. Oakland: New Harbinger Publications Inc, 2011

 Bays JC. Mindful eating: a guide to discovering a healthy and joyful relationship with food. Boston & London: Shambala, 2009.

Boudette R. Integrating mindfulness into the therapy hour. Eating Disorders, v. 19, n. 1, p. 108-115.

Kabat-Zinn J. Full catastrophe living: using the wisdom of your body to face stress, pain, and illness. New York: Delta, 1990.

Tribole E; Resch E. Intuitive eating: a revolutionary program that works (2012).

* As traduções para os termos mindful eating e intuitive eating aqui colocadas foram cunhadas pelos autores dos respectivos capítulos do livro Nutrição Comportamental (Alvarenga MS; Figueiredo M; Timerman F; Antonaccio C. Barueri: Manole, 2015), que será lançado no segundo semestre.

Fonte: Blog – GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Zona de (Des)conforto

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Por Fernanda Timerman, Nutricionista

Carlos trabalha em uma multinacional há 10 anos. Tem uma rotina, sabe o que deve fazer, qual caminho pegar, o que vai comer e quanto vai ganhar no final do mês, Carlos sabe também que alguma coisa o incomoda muito no domingo a noite. Um sentimento rotineiro, uma angústia, de ter que repetir tudo de novo. Mas, como ele está acostumado com tudo isso, acha que sabe lidar também. Então vai levando… as vezes ele fuma mais quando está ansioso, as vezes ele come até se empanturrar para migrar o incômodo da cabeça para o estômago – pois lá pelo menos o incômoda passa depois de um tempo, de um sal de frutas e um protetor gástrico, já o incômodo da cabeça…

Quando Carlos tira férias, ele adora sair da rotina, não ter horário para nada, perder a noção do tempo. Percebe como faz falta ouvir essa intuição, essa vozinha que mais alta ou mais baixa, sempre está lá com ele e que o guia para as coisas que realmente fazem sentido lááááá no fundo, embaixo de todas as premissas do que ele DEVE ou não fazer, como ele DEVE ou não agir!

Nesses momentos, Carlos faz planos, se enche de esperança, energia, satisfação. Não precisa fumar tanto, nem comer tanto. Ele está preenchido com outras coisas.

Mas aí, quando as férias vão acabando, Carlos começa sentir a sensação do domingo a noite (multiplicada por mil) e quando menos percebe, subitamente a rotina o engole. Ele deixa, afinal, já sabe lidar com aquele cenário. Aquela zona de (des)conforto, velha conhecida..

Pois é, tenho certeza que vocês conhecem vários Carlos! Eu conheço, as vezes sou um!

O que nos faz ficar presos à comportamentos e hábitos, mesmo que esses não tragam mais entusiasmo, benefício, alegria, contentamento? Por que ignoramos tanto essa vozinha que, soterrada por muitos imperativos sociais-familiares-culturais, nos traz a informação genuína do que realmente nos faria bem e felizes?

Nós teimamos em não ouvir, em achar maneiras de tamponar essas questões tão importantes. Sair da zona de conforto é muitas vezes necessário para que a gente dê um pausa nos comportamentos compensatórios, redundantes, que nos fazem muitas vezes, robôs.

Existem “Carlos” que estão muito bem, obrigada. Que gostam da rotina, se adaptam muito bem à ela estão seguros e felizes com suas escolhas e hábitos.

Porém, existem outros “Carlos”que se questionam muitas vezes sobre suas escolhas (que as vezes nem sua foram), se sentem presos e incomodados com essa rotina e tem que achar uma forma mais eficaz de lidar com esse desconforto.

SE PERMITA OUVIR, não precisa agir, apenas perceba. E se for preciso agir, sair da zona de (des)conforto. É MUITO difícil ultrapassar essa barreira, mas quando conseguimos, percebemos que fazíamos um ratinho parecer um elefante, pois estávamos olhando a projeção dele na parede e não o seu tamanho real. As coisas começam a fazer mais sentido.

Quando nos ouvimos e temos vontade de mudar, podem surgir sentimentos controversos. Não precisa ser uma mudança drástica de estilo de vida. Pode ser um hábito que já está impregnado e você quer mudar mais não consegue: fumar, beber, comer demais ou de menos, fazer esporte, fazer um outro curso, sair de um relacionamento…. Na maioria das vezes é importante ter ajuda (de amigos, família, psicólogo, nutricionista ou de quem julgar mais adequado) para conseguir sair dessa “zona”!

Espero (e acredito) que eu, você e o Carlos tenhamos cada vez mais coragem de sair da zona de conforto quando sentirmos que é preciso, para então ver a mágica acontecer!

Boa semana…
Fonte: Blog – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade

Ao redor da mesa

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Por Priscila Koritar, nutricionista

Nessa semana, uma amiga vai defender o título de Doutora em Nutrição pela USP falando da importância das refeições em família. O novo Guia Alimentar Brasileiro aponta para a importância das refeições compartilhadas, e isso tem marcado a história da humanidade.

Diversos estudos americanos apontam que crianças que comem em família vão melhor na escola, desenvolvem menor dependência por álcool e drogas, têm mais facilidade para manter peso saudável, apresentam menor incidência de transtornos alimentares. Não só a literatura científica tem se debruçado sobre isso, mas diversos livros vem abordando essa temática na atualidade, reforçando a importância do comer compartilhado, indicando as refeições em família como uma oportunidade para ensinar a dividir, dividindo inicialmente comida, oportunidade de transmitir valores familiares e culturais, transmitir afeto, etc. Mas, infelizmente, no mundo atual onde tudo é rápido e os horários são incertos, o comer em família e o comer acompanhado foram sendo deixados de lado.

 Desde a antiguidade, nas mais diversas culturas, as pessoas se reúnem ao redor da mesa, mais precisamente ao redor da comida, para comer, estar junto, festejar, enfim, compartilhar vida. Na semana passada, tivemos uma pequena demonstração de como o comer extrapola o nutrir: com a comemoração do Dia dos Namorados, muitos casais se reuniram para celebrar o amor compartilhando vida (e comida) ao redor da mesa.

Que possamos continuar a nutrir nosso corpo nutrindo nossa vida!!

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

De bela a fera em poucos anos

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Por Marcela Salim Kotait, nutricionista

Dos assuntos que me fascinam, sem dúvida “ditadura” ou padrão de beleza está nos mais mais da minha lista.

A curiosidade em torno do tema faz com que eu pesquise sobre a mulher, o feminino, o feminismo, o papel da mulher na sociedade, entre outros…

Decidi escrever sobre esse assunto pois, como nutricionista, acho que é nosso papel dialogar sobre e empoderar nossas pacientes em suas relações com seus corpos.

Pois bem, me permito explicar resumidamente sobre a mudança que o corpo desejado de mulher passou ao longo dos anos:

Na pré história, curvas excessivas significavam fortuna, pequenos amuletos de mulheres com medidas desproporcionais de seios, barriga e coxas eram carregados para cima e para baixo por homens que buscavam proteção, além de sorte e fortuna. Ainda há muito tempo, na antiguidade, o corpo ideal era bem diferente do rechonchudo pré histórico: com as competições esportivas, corpos musculosos e definidos eram corriqueiramente retratados em estátuas e outras representações.

Na idade média, mais uma grande mudança: face corada, corpo curvilíneo e uma barriguinha saliente eram o modelo. A Vênus era sempre representada de maneira vaidosa e graciosa em quadros da época.

Avançando bastante pelos anos, com o fim da primeira guerra mundial, no anos 1920, muitas mulheres, após terem seus maridos mortos em combate ou incapazes de voltar ao mercado de trabalho, assumem uma postura nova, que demandava um visual mais masculino, corpos longilíneos e magros, além de optarem por cabelos curtos.

Os anos 1940 e 50 foram dominados por Marilyn Monroe. Quem não conhece a loira que deixou os estúdios de Hollywood de pernas pro ar? Linda e sedutora, usava sua sensualidade e curvas acentuadas como grande atrativo. Uma curiosidade: os estúdios americanos aumentavam as medidas da loira, enquanto os costureiros juravam de pés juntos que alguns centímetros divulgados não eram reais.

Uma década depois, em 1960, a modelo Twiggy surge e traz consigo um visual muito diferente do conhecido até então: extremamente magra, jeitão andrógeno, cílios com muito rímel e pose blasé.

Chegam então os anos 1980 e 1990, a era das supermodelos: Linda Evangelista, Cindy Crawford, Claudia Schiffer são algumas das mais conhecidas. Não deixe de assistir a esse clipe do cantor George Michael, da música “Freedom” (veja aquie veja como essas mulheres eram mesmo maravilhosas.

Nos não muito distantes anos 2000 temos o ícone máximo da moda mundial: Gisele Bündchen, a modelo mais bem paga do mundo, dispensa apresentações. Quem não se lembra da “barriga negativa” da Gisele? Dos cabelos lisos com cachos nas pontas loiras, queimadas de sol? A simetria alardeada pela mídia de seu rosto?

Para encerrar, chegamos aos anos 2010. E vivemos atualmente um novo padrão: o da mulher fitness. A crença de que podemos moldar nossos corpos com ajuda de suplementos e academia faz com que muitas arrisquem-se com dietas malucas e exercícios físicos exagerados para terem o corpo parecido com o de mulheres extremamente fortes com pouquíssima gordura que dominam a cena. Ou, no caso da conhecida socialite americana, Kim Kardashian, um bumbum desproporcional em relação ao resto do corpo é modelo para muitas meninas.

O que quero expor é a volatilidade do padrão, da regra, da norma, do modelo, do ideal. Penso em mulheres mais velhas, que durante a vida viram quatro ou cinco tipos corporais completamente diferentes serem enfiados goela abaixo pela TV, revistas e internet como ideais para todas. Questiono então se é possível continuarmos a pautar a beleza como algo único e exclusivo de um determinado biotipo, fincado numa modelo/celebridade/artista/famosa ditando qual o corte de cabelo devemos ter ou qual circunferência de cintura é mais bonita.

Questiono se não estamos indo na contra mão da saúde e se sempre fomos.

Questiono se não devemos ensinar às meninas, cada vez mais insatisfeitas com seus corpos, a se amarem.

Questiono se existe somente um tipo de beleza.

E, por fim, peço que faça uma reflexão íntima e verdadeira sobre sua relação com seu corpo. O que você faz para amá-lo mais? O que faz para tornar sua relação com ele melhor? Até quando buscaremos por modelos e padrões inalcançáveis de beleza?

Fonte: Blog – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Detox

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Por Ana Carolina Pereira Costa, nutricionista

Apesar de já não ser mais a “última moda” nutricional, ainda escuto alguns pacientes e profissionais falarem de “dietadetox”. O nome é inadequado por si só, já que nosso corpo (especialmente nosso fígado) é plenamente capaz de destruir e de se livrar das substâncias nocivas ao nosso corpo, sem precisar de um alimento x ou y ou mesmo de um dia à base de líquidos para tal.

O que eu proponho nesse post não é mais uma sugestão de “dieta detox”, e sim um “detox mental”. Sugiro que cada um de nós possa refletir sobre as questões abaixo:

  • Quanto tempo do seu dia você reserva/prioriza para si mesmo? Você sequer tem tempo para cuidar de si mesmo todos os dias, nem que seja meia hora?
  • Quanto tempo você gasta ao dia com situações que “roubam” energia e dificultam o cumprimento das suas obrigações diárias? Ex: quantas vezes ao dia você checa suas redes sociais? Quanto tempo gasta com isso diariamente?
  • Você tem dado atenção a todas as áreas envolvidas em seu autocuidado: físico (dormir o suficiente, comer frutas e vegetais todos os dias, beber água suficiente, ter roupas confortáveis e que te agradem, fazer uma atividade física prazerosa, receber massagens); espiritual (exercitar sua espiritualidade, fazer parte de uma comunidade espiritual/religiosa, se engajar em um trabalho voluntário); psicológico (cultivar amizades, fazer terapia, ler textos inspiradores, brincar com animais e/ou crianças, escrever um diário, cultivar um hobbie, exercitar a gratidão e o positivismo, comunicar-se de forma assertiva)?
  • Você já pensou o quanto um autocuidado deficiente pode impactar na sua relação com a comida? Será que você não está buscando o alimento como única fonte de prazer na vida ou como mecanismo de enfrentamento de emoções?

Ou seja: em que áreas da sua vida você precisa de um detox?

Boa semana a todos!

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Questionar

 

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Por Priscila Koritar, nutricionista

Outro dia estava passeando num shopping em São Paulo e me deparei com essa vitrine numa loja voltada para o público feminino. Foi impossível não me chocar!!!

Comecei a pensar em que momento isso se tornou um modelo na nossa cultura? Como pudemos deixar as coisas chegarem nesse ponto? O quanto esse modelo causa de impacto na nossa sociedade? Quem ganha com esse modelo? Qual é o preço que pagamos com nossas vidas para chegarmos o mais perto possível desse modelo? Será que é apenas o dinheiro despendido para aquisição de uma peça de roupa ou envolve insatisfação corporal, desejo de emagrecer, prática de dieta, culpa por comer?

Não pude deixar de me preocupar com as crianças e adolescentes que crescem desde cedo tão expostas a esse padrão de beleza tão inatingível e muito possivelmente distante do saudável e com as mulheres que assim como modelos querem ser desejadas – muitas vezes na tentativa de serem amadas e valorizadas.

Diante da força de quem ganha com isso muitas vezes nos sentimos impotentes, mas sei que temos um papel fundamental e um compromisso ético e profissional com nossos pacientes e clientes: questionar, ponderar e discutir!

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Dietas funcionam?

querida dieta

Por Alessandra Fabbri, nutricionista

Mais uma vez estou aqui para falar sobre um tema conhecido no nosso blog: dietas. E por incrível que pareça este assunto é inesgotável! Sempre há uma “nova dieta” lançada no mercado, mesmo que este lançamento seja uma antiga dieta, “repaginada”. Atualmente o mais novo sucesso de vendas nas livrarias é uma dieta que restringe o consumo de carboidratos (quanta novidade!). Não distante das outras dietas de emagrecimento, esta também promete perda de peso rápida. Mas acredito que a pergunta que deve ser feita aqui é a seguinte: estas dietas para perda de peso realmente funcionam?

Acho que neste momento, cabe uma reflexão: “O que significa funcionar?”. Se funcionar significa perder peso no momento em que se faz a dieta, única e exclusivamente, ok; tenho que concordar que sob esta visão simplista, as dietas de emagrecimento funcionam. Mas se considerarmos que, logo que terminada a dieta há normalmente reganho de peso, e ainda consequências metabólicas e físicas importantes para o organismo, eu não chamaria isso de funcionar.

Muitas vezes, todo o peso perdido é recuperado quando se interrompe a dieta. Estudos mostram que até 95% das pessoas que perdem peso indevidamente o recuperam em até 5 anos (1,2,3). Sabe-se também que a prática de dietas pode levar ao desenvolvimento de transtornos alimentares (TA). Dietas moderadas podem aumentar em até 5 vezes e dietas restritivas em até 18 vezes o risco do desenvolvimento de um TA.

Vale ressaltar os riscos que as dietas de emagrecimento podem gerar à saúde como: anemia, deficiência de vitaminas e minerais, sensação de cansaço, dores de cabeça, tonturas, desmaios e em casos mais graves complicações renais e hepáticas. Além disso, as dietas pobres em carboidratos costumam promover uma maior perda de massa muscular do que gordura corporal.

E sim, por maior que seja a sua força de vontade, normalmente a dieta tem um começo, um meio e um fim (aliás, eu deixaria sua força de vontade bem longe disso!). Dietas restritivas são difíceis de serem mantidas por um longo período, não só pelos motivos biológicos causados pela deficiência de algum grupo alimentar (como já comentei acima), mas também pelos aspectos emocionais e socioculturais que envolvem a nossa alimentação.

Aqui acho válida uma nova reflexão: quando uma pessoa compra um carro e ele não funciona, ela reclama seus direitos com a montadora do carro, certo? Quando uma pessoa faz uma dieta e ela não resolve os seus problemas de peso e alimentação, a pessoa continua acreditando na dieta e acha que o problema é com ela mesma, acredita que ela não teve disciplina e força de vontade suficiente. Resultado: ela tenta uma nova dieta. Mas será que isso é verdade? Será que o problema está com a pessoa que não seguiu a dieta corretamente, ou será que são as dietas de emagrecimento que efetivamente não funcionam? Pense nisso, quando você decidir experimentar a próxima dieta.

Referências:

1. Kausman R, Murphy M, O’Connor T, Schattner P. Audit of a behaviour modification program for weight management. Aust Fam Physician. 2003 Jan-Feb;32(1-2):89-91.
2. Wooley SC, Garner DM. Obesity treatment: the high cost of false hope. J Am Diet Assoc. 1991 Oct;91(10):1248-51.
3. Wooley SC, Garner DM. Dietary treatments for obesity are ineffective. BMJ. 1994 Sep 10;309(6955):655-6.

Leia mais sobre o assunto:

Tribole E, Resch E. Intuitive Eating. 3rd ed. New York: St. Martin´s Griffin. 2012.

Fonte: Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Você tem SIM um brilho! Todo mundo têm!

vc tem brilho

Por Marluce Nobre Nóbrega – Nutricionista

Felizmente nasci com saúde. Deus me deu um corpo para eu cuidar e ele também te deu um. Além de um corpo temos inteligência, carisma, alegria, amor, sabedoria, caráter, fidelidade, sinceridade, humildade, generosidade, lealdade, paciência, perseverança, honestidade, bondade, simpatia, responsabilidade, amizade, pró-atividade, caridade, senso de justiça, bom humor, coragem, integridade, otimismo, gratidão,… cada um em um nível diferente dos outros e aprimoramos as nossas qualidades conforme nos empenhamos para tal.

São essas características que nos fazem ser lembrados, que fazem com que os outros queiram estar próximos a nós! Você prefere sair com a amiga animada, alegre e leal ou estar com uma amiga mal humorada, baixo astral e que adora colocar um defeito nas suas escolhas alimentares ou em você?

O que determina quem está em nossas vidas? O nosso corpo físico ou quem realmente somos?

O seu corpo não vai determinar quem estará próximo a você, e sim as suas qualidades internas.

Temos defeitos sim e alguns destes existem para aprendermos algo a ser melhorado, lapidado. Algumas características, sejam do corpo físico (em especial pela nossa genética), ou da nossa personalidade devem ser aceitas por nós, e o que precisamos fazer é valorizar e usar a nosso favor as nossas qualidades! Você sabe quais são as suas?

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares