Por Marcela Salim Kotait, nutricionista
Sempre que escrevo para cá, minhas ideias vão diretamente em favor da minha profissão, mas dessa vez resolvi escrever sobre o que me motiva a não ser nutricionista.
Não entendeu? É simples. Está almoçando com amigos? Está fiscalizando o prato alheio! Está paquerando alguém? Espera, me faz uma dieta! E la se vai o flerte. Comprou um pacote de Doritos? Não pode, nutri! Perdeu peso? Me passa a dieta! E fazer carão não adianta, as pessoas não entendem. Não existe “simancol” para isso. Talvez porque, em algum momento, permitimos que isso seja assim.
A dificuldade que sinto em me “desligar” do papel de nutricionista parece ser a mesma da minhas colegas. A necessidade que temos de ficar defendendo nossa profissão em redes sociais não me lembra em nada os posts de engenheiros, biomédicos ou publicitários. Vivemos em uma constante busca por reconhecimento e disputa com blogueiros e revistas de dieta. Acredito que isso nos impeça ainda mais de tirar o jaleco nos nossos momentos de folga. Uma vez disse que não sou nutricionista 24 horas por dia e por pouco não fui mal interpretada. Se posto uma foto em um restaurante bacana não preciso postar nenhuma #proteina #baixoindiceglicemico ou ainda #depoiseumalho, como tenho visto muito por aí em perfis de colegas de profissão. Será que preciso postar meu café da manhã para ser uma nutricionista melhor? Será que preciso lotar minhas fotos de “hashtags nutricionais”? Será que preciso desconstruir o momento em que comi um bolo para justificar esse “pecado”? Pecado, gordice, outros frequentes e infelizes adjetivos para comida que estamos usando.
Será que preciso manter alerta a patrulha do prato alheio que tanto odeio e com a qual tanto sou confundida? Expor minha intimidade como estilo de vida modelo por ser nutricionista atrai ou afasta as pessoas? Será que não conseguimos fechar a porta do nosso consultório e deixar lá dentro o adipômetro, a balança e a fita métrica?
GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade