Ideias que a comida desperta

Ideias que a comida desperta

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Por Erika Romano, nutricionista

Após deliciar-me com as maravilhas da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), fui ler um dos livros mais comentados e indicados do evento, do norueguês Karl Ove Knausgard, “Um outro amor: minha luta 2″, e uma página me chamou a atenção. Ela descrevia como “estupidez” as pessoas que ingeriam alimentos pura e simplesmente por serem nutritivos, saudáveis e benéficos, dizendo que “essas pessoas confundem comida com espírito, e acham que é possível se tornar uma pessoa melhor através do que comem, sem compreender que a comida é uma coisa, mas as ideias que a comida desperta são outras”; porém, se alguém dissesse algo sobre isso, seria acusado de ser “uma pessoa ultrapassada em relação a conhecimentos sobre alimentação”.

Achei interessante um norueguês, nascido em Oslo e considerado o mais importante autor de sua geração, sem ter nada a ver com a área de saúde ou de estudo em comportamento relacionado à alimentação, poder descrever a sua percepção de uma  forma sem adornos, falando sobre o papel da supervalorização dos nutrientes em detrimento ao prazer de comer, desprezando o significado que a comida tem na vida das pessoas.  Essa forma de escrever vigorosa e honesta descreveu em um parágrafo a mesquinhez com o sabor e o exagero nos excessos, brilhantemente descritos como: “as vezes as crianças comiam alimentos que as barrigas delas nem ao menos conseguiam digerir por completo, mas nada disso importava, porque tudo era nutritivo, saudável e benéfico”. Qual a relação que essa criança vai ter com o alimento? Tão intragável esse comportamento que me confortou a alma ver que a percepção do exagero em relação às escolhas alimentares já cruzou oceanos, e que recebe a crítica de um livro lido por milhares de pessoas, que poderão questionar a ideia de comer desconectado com a vontade, e refletir sobre a importância de ingerir sim o que a ciência já mostrou ser benéfico a saúde, mas jamais em detrimento ao prazer de comer.

Qualquer alimento que seja importante em sua vida, que seja gostoso ou que simplesmente você esteja a fim de comer tem espaço nos seus dias e vai fazer diferença na sua possibilidade de escolha, na sua real relação com o alimento e com todos os aspectos da sua vida.

 

Fonte:

GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade

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