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O que são miomas?

São neoplasias (tumores) benignos originados das fibras musculares uterinas. São também chamados de fibromas.

A maioria das mulheres com miomas não têm nenhum sintoma. Os sintomas estão associados à sua localização. Podem causar sensação de pressão abdominal e desconforto urinário, sangramento menstrual excessivo e cólicas menstruais.

Em geral os miomas não estão associados ao câncer e apenas 1% dos casos pode se transformar em leiosarcoma (câncer uterino).

Os miomas associados à infertilidade são aqueles que distorcem a cavidade uterina (local onde ocorre a implantação do embrião). Estes miomas podem também ser causa de abortos.

Recomenda-se a extração dos miomas que causam sintomas importantes e nos casos de infertilidade onde ocorre alteração da anatomia da cavidade uterina. A cirurgia pode ser realizada por videolaparoscopia ou por laparotomia (cirurgia aberta) dependendo do tamanho e da localização do mioma.

 

Projeto Alfa – Reprodução Humana

Engordar pode causar disfunção sexual no homem?

O aumento da infertilidade masculina é diretamente proporcional à obesidade. A cada 9 kg acima do peso, aumenta-se em 10% a tendência à infertilidade

 

Homem obeso

Os últimos 40 anos foram marcados por uma elevação da obesidade em todo o mundo, de forma que dados atuais chegam a um número de 700 milhões de obesos. No sexo masculino, a proporção praticamente triplicou (17,5%). Dentre todas as comorbidades que vêm com a obesidade, não podemos achar menos relevante a infertilidade e impotência masculina, muito menos tratá-la como tabu.

Obesidade, impotência e infertilidade

infertilidade, problema que afeta um em cada 13 casais, caracteriza-se pela ausência de concepção após um ano de relação sexual sem proteção. É importante notar que o aumento da infertilidade masculina é diretamente proporcional à obesidade, uma vez que a cada nove quilos acima do peso, aumenta-se em 10% a tendência à infertilidade. Em razão disso, estima-se que 80 milhões de indivíduos obesos do sexo masculino possuem esse problema. Além disso, conforme um levantamento realizado, o homem é o responsável pela infertilidade em 30% dos casais.

O paciente obeso apresenta queda da libido, dificuldade de ereção, piora no desempenho sexual, diminuição do tamanho testicular, bem como baixa contagem de espermatozoides no sêmen e deterioração em sua qualidade. Baixos níveis plasmáticos de testosterona e pouca resposta terapêutica a estimulantes sexuais também são elementos notáveis nesses indivíduos.

Estudos mostram que homens com IMC maior que 30 kg/m² têm menor concentração seminal e os com circunferência abdominal acima de 94 centímetros, maior dificuldade de ereção.

A obesidade, quando associada a outras condições, pode agravar a infertilidade e impotência. São exemplos dessas condições o diabetes tipo 2, hipertensão arterial, apneia obstrutiva do sono, tabagismo, câncer e dislipidemia.

O quadro de obesidade, infertilidade e impotência impacta negativamente a autoestima, o bem-estar emocional e social, além da qualidade de vida. Isso pode favorecer o aparecimento de quadros depressivos, os quais podem gerar um aumento ainda maior no peso.

Mas como o excesso de peso causa todas essas alterações no corpo?

Os obesos têm mais problemas vasculares, o que pode reduzir o fluxo de sangue para o pênis, fluxo este que sustenta a ereção. Ressalte-se ainda que esses pacientes também apresentam menores níveis de testosterona (hormônio masculino) e maior produção pelo tecido adiposo de estradiol (hormônio feminino). Esse desbalanço hormonal é proporcionado pelo aumento do número de células adiposas, elevação dos níveis de insulina, diminuição da relação FSH/LH , diminuição da inibina (proteína produzida pelas células de sertoli no testículo) e diminuição dos níveis de SHBG (proteína produzida pelo fígado que é carreadora da testosterona).

Em suma, todo o eixo responsável pela produção de testosterona e espermatozoides entra em colapso devido às alterações causadas pelo excesso de gordura corporal.

Muitos acreditam que apenas com a reposição de testosterona é possível resolver o problema. No entanto, ela não funciona como medicamento para o tratamento da obesidade, além de não ser eficaz em combater as queixas em grande parte dos casos.

A boa notícia é que as modificações são reversíveis mediante controle do peso, diminuição da gordura abdominal e melhora no estilo de vida.

 

Projeto Alfa – Reprodução Humana

DST e Infertilidade

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O uso de preservativo pode ajudar a fertilidade? A resposta é sim!

O fator tuboperitoneal (alteração das trompas e da cavidade abdominal) pode corresponder a até 30% dos casos de infertilidade e pode ser causado por doenças sexualmente transmissíveis (DST). As infecções por gonococo e clamídia podem afetar as trompas causando obstrução ou alteração de sua função, dificultando o processo de fertilização e levando à infertilidade.

Em alguns casos a infecção pode ser assintomática e passar despercebida. A mulher somente descobre que não pode ter filhos quando começa a tentar. O diagnóstico é feito pelo exame de histerossalpingografia.

Por isso, o uso do preservativo é importantíssimo. Além de prevenir contra doenças como a AIDS e hepatites, ajuda a manter a mulher saudável do ponto de vista reprodutivo.

Projeto Alfa – Reprodução Humana

 

Gravidez: nove verdades e uma mentira

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Na onda dos posts que estão bombando no Facebook, fizemos uma lista de cuidados e fatos que merecem sua atenção durante a gravidez. Será que você consegue descobrir qual é falso? As respostas estão abaixo.

  1. A gravidez deixa a pele mais bonita.
  2. Meninos tendem a nascer mais rápido que meninas.
  3. Grávidas não podem tomar chá verde ou mate.
  4. Após o parto, você sentirá menos cólicas menstruais.
  5. Falta de vitamina D na gestação pode causar pré-eclâmpsia.
  6. Tatuagens estão proibidas durante a gravidez.
  7. A sua alimentação pode alterar o DNA do bebê.
  8. Dentro da barriga, os bebês dormem 16 horas e até sonham.
  9. Bebês começam a chupar o dedo ainda na barriga da mãe.
  10. Grávidas roncam mais e podem ter outros problemas nasais.

1.Mentira. O coquetel de hormônios que invade seu corpo (só os nomes já assustam: cortisol, gonadotrofina, fator sebotrófico hipofisário…) estimula as glândulas sebáceas, tornando a pele oleosa. Se você não a mantiver limpa, tchau, ficará com acne mesmo. Para evitar que seu rosto vire área de desastre, recorra a sabonetes ou loções de limpeza suaves, que retirem o excesso de oleosidade sem ressecá-la.

2.Verdade. Considerando o tempo de gestação, os meninos são definitivamente mais apressados! Comparados às meninas, eles têm 27% de chances a mais de nascerem prematuros entre a 20ª e 24ª semana de gestação. Quando a 30ª semana se aproxima, o risco de nascimento aumenta em 24%.

3.Verdade. Essas bebidas aceleram o metabolismo e podem causar mal-estar ou palpitações cardíacas.

4.Verdade. Quando seu ciclo voltar ao normal, você poderá ter menos cólicas. Não se sabe direito porque a dor diminui, uma teoria é que o nascimento do bebê elimina algumas das áreas receptoras de prostaglandina no útero. A prostaglandina é o mesmo hormônio que faz o útero contrair durante o parto e desempenha um papel na dor menstrual. O resultado? Menos receptores de dor, menos cólicas.

5.Verdade. Esse distúrbio é mais comum depois da 20ª semana da gestação, especialmente a partir do terceiro trimestre, e pode resultar em restrição do crescimento do bebê e nascimento prematuro, além de influenciar para que a criança já nasça com deficiência da vitamina. Por isso, fique atenta!

6.Verdade. Segundo a ginecologista e obstetra Bárbara Murayama, mãe de Pedro,a tatuagem durante a gravidez pode ser prejudicial, tanto para a mãe quanto para o bebê. “Todos os órgãos do nosso corpo passam por algum tipo de mudança, sem contar as mudanças emocionais, por causa do turbilhão hormonal”, explica. A imunidade da mulher fica mais baixa e, por isso, ele fica mais suscetível a contrair infecções e doenças.

7.Verdade. Uma dieta pobre em nutrientes e com alimentos inflamatórios pode silenciar genes de proteção ou indisponibilizar aqueles responsáveis pelo reparo de mutações, fabricando proteínas defeituosas que podem causar doenças futuramente na criança.

8.Verdade. Os bebês dentro da barriga dormem a maior parte do tempo, cerca de 16 horas por dia para 8 horas acordados. Enquanto estão dormindo, eles sonham com as vivências que tiveram durante o dia. “As experiências da mãe também são associadas pelo bebê enquanto estão sonhando, como sustos ou stress”, explica o ginecologista e obstetra Domingos Mantelli.

9.Verdade. A partir do terceiro trimestre de gravidez o bebê também começa a chupar o dedo. Eles fazem isso para fortalecer a musculatura relacionada ao movimento de sucção.

10.Verdade. Congestão, sangramento e ronco: prepare-se para tudo isso. Por que? As suas cavidades nasais também incham na gestação, graças aos hormônios e esse inchaço diminui a área para a circulação do ar. Seu nariz pode também sofrer com ressecamento. Use umidificador nasal ou faça algumas inalações. E não se preocupe, isso passa depois que o bebê nascer.

 

Projeto Alfa – Reprodução Humana

ENGRAVIDAR ESTÁ DIFÍCIL? O QUE FAZER NESTE CASO?

engravidar dificuldade

É, parece que nos tempos modernos está mais difícil engravidar. Mas, mesmo assim, 85% dos casais o conseguem durante o primeiro ano de tentativas. Então, o que acontece?

Segundo a Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), em 85% das vezes a gravidez ocorre sem problemas no prazo de até um ano. Se demora mais do que esse tempo, então já está no outro lado da estatística e, sim, pode haver algum problema que precise de ajuda clínica para se resolver.

Quais fatores influenciam nas possibilidades de engravidar?

1. Idade – sim, idade. Neste caso há influência da idade da mulher (após os 35 anos a quantidade de óvulos viáveis se reduz drasticamente) e da idade do homem (que com o avanço da idade tem reduzido o número de espermatozoides suficientemente aptos, fragmentação do DNA do espermatozoide e alterações genéticas do sêmen).

Entre os 35 e os 39 anos a fertilidade feminina se reduz em 25%. Mas, esse fator não afeta em caso de “reserva de óvulos viáveis” pois o útero não envelhece na mesma rapidez.

2. Distúrbios ovulatóriosendometrioseaderência pélvica e anomalias da tuba uterinaútero invertido e qualquer tipo de alteração hormonal são fatores clínicos que dificultam a fertilidade feminina.

3. Nos homens, a fertilidade é reduzida por ocorrência de infecçõesDSTsvaricoceletabagismoalcoolismo, excesso de peso, diabetes e condições ambientais impróprias, dentre outras.

Engravidar é sempre “coisa de casal”

Deu para perceber que, dos 3 grupos de motivos acima vocês sempre podem fazer alguma coisa positiva, não?

Mas, uma ação é muito importante: se vocês estão tentando formar família, engravidar, e não conseguem após um ano de tentativas sérias, independentemente da idades que tenham, o mais correto é que ambos procurem um médico especialista em problemas de concepção.
Sim, ambos, claro!

Já se foi o tempo em que “tudo era coisa de mulher” mesmo porque engravidar é sempre “coisa de casal” – como diz no site Fecondare: “Há casos de infertilidade conjugal que precisam ser observados. Muitos dos problemas podem ser resolvidos por meio dos tratamentos existentes para infertilidade. Converse com o médico a respeito”.

Outros fatores “ambientais” e de atitudes que dificultam a concepção

Estresse? Pois é, uma vida estressada e estressante pode ser um fator decisivo para a frustrante impossibilidade de se engravidar – isso porque o estresse provoca alterações hormonais tanto nas mulheres quanto nos homens, o que pode impedir de acontecer a sonhada concepção ou de a gravidez seguir adiante.

Ansiedade e pensamento fixo também podem ser fatores psicológicos que dificultam a concepção. Você já ouviu falar em casais que não consguiam engravidar e conseguiram após adotarem um filho? São coisas que a medicina pode não explicar, mas sim a psicologia.

Tratamentos que ajudam a engravidar

Os tratamentos para casos de infertilidade são diversos e, o primeiro passo é definir o que causa a impossibilidade de engravidar.

Somente em casos muito raros é que não existe nenhuma possibilidade e, mesmo nesses casos, se você quer mesmo criar um filho que possa chamar de seu, há inúmeras crianças esperando por adoção, certo?

E, no caso de você pretender engravidar bem mais tarde, uma recomendação médica é de que se faça reserva de óvulos válidos por congelamento. Bem, essa possibilidade só existe em clínicas particulares mas, claro, se é a sua opção, consulte um médico para esclarecer bem a questão.

 

Projeto Alfa – Reprodução Humana

Como fazer um bom plano de Metas para 2016

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Por Fernanda Timerman, Nutricionista

O final do ano chegou e, com ele, normalmente fazemos um balanço do que foi bom, médio e do que queremos melhorar e mudar. Para planejar metas que sejam ao mesmo tempo desafiadoras e viáveis, é importante seguir uma regrinha básica, a do acrônimo da própria palavra:

Vamos pensar em um exemplo na área da saúde: Quero melhorar meu perfil de colesterol (aumentar o “bom” – HDL; e diminuir o “ruim” colesterol total e LDL)

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Mensuráveis: conseguir dar uma medida, ou valor. Exemplo: Quero aumentar o HDL para mais do que 40 mg/dL e diminuir Colesterol Total de 220 para abaixo de 200 e o LDL de 130 para abaixo de 100!
Específicas: especifique seu objetivo com a maior quantidade de informações possível. Exemplo: Preciso melhorar minha alimentação e aumentar a atividade física. Para aumentar o HDL, vou fazer mais atividade física, incluir linhaça triturada todos os dias no suco ou no cereal, aumentar o consumo de peixes de água fria em substituição à carne vermelha; para diminuir colesterol total e LDL, vou diminuir fritura, leite integral, carnes com maior teor de gordura (ir menos à churrascaria e churrascos) e tomar cápsula de fitosterol.
Temporais: Estipule um prazo para a realização. Exemplo: Quero repetir o exame de sangue daqui 3 meses.
Atingíveis: deve ser algo POSSÍVEL dentro de sua realidade, de um contexto de saúde e possibilidade de sustentar à longo prazo, para que não haja frustração. Exemplo: Passei em um nutricionista e ele disse que, com essas mudanças específicas é viável atingir minha meta!

Significativas: Talvez o mais importante. O objetivo deve ter um significado especial e pessoal para que as chances de realizar e sustentar aumentem. Exemplo: Quero melhorar meu perfil de colesterol pois perdi um familiar querido e próximo por problemas relacionados à isso, e agora vou ter um filho.

Isso pode ser feito em áreas diferentes da vida (profissional, financeira, amorosa, intelectual, espiritual etc).Uma dica importante é fazer à lápis, pois você pode ajustar se achar necessário, e pendurar em um lugar visível para que possa olhar constantemente e lembrar o compromisso que você firmou com você mesmo.

Cuidado com metas imediatistas e quase inatingíveis, como “perder 4 Kg em 1 semana antes da viagem para a praia”. A possibilidade de você se frustar e prejudicar seu metabolismo (com grandes chances de respostas físicas e emocionais negativas) são enormes. Separe um tempo, pense com cuidado e experimente. Se precisar de ajuda, procure por fontes e profissionais confiáveis!

Para saber mais:

  • Alvarenga MS, Figueiredo M, Timerman F, Dunker, K. Atividades e exercícios baseados nas técnicas da Nutrição Comportamental. IN: Alvarenga MS, Figueiredo M, Timerman F, Antonaccio CMA. Nutrição Comportamental. São Paulo: Manole, 2015.
  • Scagliusi FB, Alvarenga MS, Fabbri AD, et al. Protocolo de atendimento de terapia nutricional para bulimia nervosa. In: Alvarenga M, Scagliusi FB, Philippi ST. (Org.). Nutrição e Transtornos alimentares: avaliação e tratamento. 1ed. Barueri: Manole, 2011, p. 257-333.

Fonte:

GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade

Sua postura é iatrogênica?

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Por Marle Alvarenga, nutricionista

Neste último sábado, a Clínica de Estudos e Pesquisas em Psicanálise da Anorexia e Bulimia (CEPPAN) promoveu um evento para discutir prevenção de transtornos alimentares. O foco da prevenção é uma “bandeira” do Genta desde sempre. Infelizmente, o Brasil não tem programas sistematizados de prevenção, e neste sentido estamos muito atrasados comparados ao resto do mundo, inclusive a América Latina, com ações governamentais na Argentina e México, por exemplo.

De qualquer forma, mesmo que você jamais atenda transtornos alimentares, sua postura ao falar de comida, peso, corpo podem fazer muita diferença – para o bem ou para o mal.

 

A literatura tem discutido cada vez mais os possíveis efeitos iatrogênicos – isto é, efeitos adversos causados por um determinado tratamento  – de programas de prevenção de obesidade e de promoção de “vida saudável” desencadeando transtornos alimentares (1-6). Da mesma maneira é preciso repensar nossas atitudes , para que mesmo inadvertidamente elas não desencadeiem atitudes disfuncionais.

 

Nutricionistas – e outros profissionais de saúde  – devem ser cuidadosos e sensíveis com suas abordagens e pensar conjuntamente em transtornos alimentares e obesidade quando fazem orientações nutricionais e de saúde. Para pessoas suscetíveis ao desenvolvimento de transtornos alimentares, os conceitos e tabus sobre nutrição, provenientes de profissionais, podem reforçar comportamentos inadequados e contribuir para o desenvolvimento dessas doenças. Por sermos especialistas em alimentação e nutrição, nossas palavras e orientações são consideradas como profissionais e “confiáveis”, e portanto, deve-se ter muito cuidado para não deixar crenças pessoais, modismos e preconceitos influenciarem as orientações dadas aos pacientes (7).

 

Você já refletiu sobre isto? O interessante texto de Beatriz Sebroeck no blog “Blá, Blá, Blá da Nutrição” (vejaaqui) merece ser lido por TODOS os nutricionistas, e já começa com: “dentre as poucas certezas que tenho, uma em especial insiste em se fortalecer. Incomoda, atrapalha, entristece… eis que nós, nutricionistas, somos grandes promotores de transtornos alimentares”.

 

Assim, é preciso avaliar o nosso papel na perpetuação da magreza, na estigmatização da gordura, e desafiar as nossas crenças pessoais e culturais sobre alimentação e peso –  e pensar em nossa linguagem, postura, valores quando discutimos comida, saúde e corpo com nossos pacientes, tendo em vista que somos formadores de opinião em relação a estes temas (7).

Mas, antes de tudo, pense no juramento hipocrático, feito pelos médicos, e que deveria constar do juramento de todos profissionais de saúde! “Antes de tudo, que nossas condutas JAMAIS CAUSEM DANO.” (7)

 

Referências:

  1. O´Dea JA. Prevention of child obesity: ‘First, do no harm’. Health Educ Res. 2005;20:259-65.
  2. Ikeda JP, Crawford PB, Woodward-Lopez G. BMI screening in schools: helpful or harmful. Health Educ Res. 2006;21:761-9.
  3. Carter JC, Stewart DA, Dunn VJ, Fairburn CG. Primary prevention of eating disorders: might it do more harm than good? Int J Eat Disord. 1997;22:167-72.
  4. Pinhas L, McVey G, Walker KS, Norris M, Katzman D, Collier S. Trading health for a healthy weight: the uncharted side of healthy weights initiatives. Eat Disord. 2013;21:109-16.
  5. 5. Schwartz MB, Henderson KE. Does obesity prevention cause eating disorders? J Am Acad Child Adolesc Psychiatry. 2009;48:784-6.
  6. 6. Austin SB. The blind spot in the drive for childhood obesity prevention: bringing eating disorders prevention into focus as a public health priority. Am J Public Health. 2011;101:e1-4.
  7. Dunker KLL, Timerman F, Alvarenga M, Philippi ST. Prevenção dos transtornos alimentares e postura do nutricionista. In: Alvarenga M, Scagliusi FB, Philippi ST. Nutrição e transtornos alimentares: avaliação e tratamento. 1. ed. Barueri: Manole; 2010. p 497-516.

Fonte:

GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade

Comer intutivo: para mim a melhor opção

nutricao-comportamental

Por Manoela Figueiredo, nutricionista

O post é longo, peço desculpas, mas fiquei indignada com o artigo publicado recentemente pela revista do New York Times, resolvi traduzi-lo para que todos possam ler, assim como também traduzi a resposta da Evelyn Tribole, criadora do Intuitive Eating (Comer Intuitivo) junto com Elyse Resch e uma das nutricionistas mais sérias que conheci. Entender, conhecer, estudar e aplicar o Comer Intuitivo mudou minha vida pessoal e professional. Não acredito que exista outra maneira para que as pessoas comam melhor, mais conscientes, até menos e com mais qualidade sem acessar os sinais internos de fome, saciedade e as razões pelas quais estamos comendo. Comemos comida e não calorias. Como podemos viver de contar algo que é incontável? Como podemos continuar a tentar “determinar” através de regras rígidas e inflexíveis o que as outras pessoas devem ou não gostar de comer? É claro que sou uma nutricionista e devo compartilhar e ajudar meus pacientes com meus conhecimentos biológicos sobre o corpo, a comida e a Nutricão, mas só isso não basta! E o que verdadeiramente faz com que meus pacientes comam melhor e sejam mais felizes e saudáveis é a relação que estabelecemos e que os ajuda a aprenderem a se cuidarem com mais amor e carinho, e não as regras dos números e dos porcionamentos restritos. Seguem os textos para reflexão:

Os limites do comer “intuitivo” – The Limits of “Intuitive” Eating – Gretchen Reynolds

Esse artigo foi publicado em 22 de novembro de 2015 na revista do The New York Times (veja aqui)

As pessoas detestam contar e cortar calorias. Este dado não surpreendente está por trás do crescimento do “Intuitive Eating” (Comer Intuitivo), uma abordagem que tira o foco da dieta e prioriza atender os sinais do corpo, como a fome e, acima de tudo, a saciedade. Apesar de vários livros, seminários e avaliações de especialistas em obesidade, o Comer Intuitivo não tem sido objeto de muita investigação científica. No entanto, um estudo recente avaliou uma das primeiras comparações do efeito da restrição calórica e do Comer Intuitivo. Esse estudo foi publicado em outubro no Nutrition and Health e conduzido por Judith Anglin, uma professora de nutrição e diretora do programa de dietética da Texas Southern University, que estava indignada pelo número cada vez maior de pacientes e amigos se inscrevendo em programas de Comer Intutivo.

Anglin e os coautores recrutaram 16 universitários, homens e mulheres obesos, e mediram seus pesos, IMC, indicadores de saúde e metabolismo. O número de voluntário foi pequeno por se tratar de um piloto, mas há planos para estudos de longo prazo e com número maior de voluntários. Oito voluntários receberam uma dieta entre 1200 e 1800 calorias, dependendo de sua taxa metabólica basal e com um deficit energético de 500 calorias por dia.Também receberam instruções e aconselhamento sobre como comer de forma saudável dentro dos seus limites de calorias. Os demais indivíduos praticaram o Comer Intuitivo, um programa que pode ser visto no site oficial e que é  guiado por dez princípios, dentre os quais “rejeitar a mentalidade de dieta”, “honrar sua fome” e “fazer as pazes com a comida”. Para esse grupo não foi dada uma meta calórica. Para que a atividade física não fosse significativamente diferente e não influenciasse a perda de peso, ambos os grupos foram orientados a fazer atividade física leve três vezes na semana no laboratório, e evitassem outras atividades externas.

Depois de três semanas, os pesos foram avaliados e os voluntários receberam mais aconselhamento eencorajamento. Depois de mais três semanas, os voluntários do grupo de restrição calórica perderam em media 2,4kg cada. A perda foi maior nas duas primeiras semanas, disse Anglin, e depois estacionaram. Mas depois do encontro após as primeiras três semanas, esses voluntários voltaram a se animar e perderam uma media de mais 1,1kg nas três semanas seguintes.

O grupo dos voluntários da abordagem do Comer Intuitivo começaram bem, de acordo com Anglin, perdendo mais peso em média do que o outro grupo. Porém, na segunda etapa, a maioria começou a recuperar o peso perdido. No fim das seis semanas, poucos perderam peso e outros ganharam por volta de 0,9kg.

O resultado final: calorias importam sim, diz Anglin. As mensagens do corpo sobre fome e saciedade podem ser importantes e úteis, mas devem vir acompanhadas de um certo controle da ingestão calórica. Ninguém, ela diz, parece conseguir perder peso a longo prazo apenas atendendo intuitivamente à sua fome com uma fatia de bolo de chocolate.

Segue a resposta de Evelyn Tribole, publicada junto ao artigo

Minha resposta ao artigo do NYT: Ms Reynolds escreveu que não há tanta pesquisa científica sobre Comer Intuitivo. Não é verdade. Existem mais de 40 estudos publicados sobre Comer Intuitivo mostrando seus benefícios de saúde. No mês passado, uma revisão sistemática foi publicada sobre o Comer Intuitivo com 24 estudos, com um total de 9000 pessoas. Ainda, Ms Reynolds escolheu evidenciar e mostrar um estudo com apenas 16 pessoas, que comparou contagem de calorias com comer intuitivo por seis semanas e concluiu que sim, calorias devem ser controladas. Esse estudo isolado reflete as premissas e não o status de toda a pesquisa que envolve o Comer Inyuitivo. Essa abordagem se baseia em cultivar uma relação saudável entre comida, mente e corpo. Fazer dieta via restrição calórica pode gerar maior perda de peso a curto prazo; porém, um grande número de pesquisas mostra que fazer dieta é perigoso e prejudicial – leva ao ganho de peso e à maior eficiência calórica, o corpo ganha mais peso em gordura como consequência da restrição calórica. Um estudo com 4000 gêmeos encontrou que fazer dieta, independente da genética, associa-se significativamente com o ganho de peso. Fazer apenas uma dieta já aumentou em três vezes a suscetibilidade para ter sobrepeso em comparação com o gêmeo que não fez dieta. O estudo concluiu: “Está bem estabelecido que quanto mais as pessoas fazem dieta, mais ganham peso”. Esse estudo demorou 5 anos para ser concluído e não 6 semanas.”

Um, dois: feijão com arroz!

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Por Marluce Nóbrega, nutricionista

Arroz com feijão… Goiabada com queijo… Café com leite… Pão com manteiga …

E você, gosta de comer o que?

Não vou complicar e nem “gourmetizar”, mas será que as nossas mães estavam tão erradas em nos oferecer com todo amor e carinho um prato de refeição completo com arroz, feijão, carne, salada e/ou vegetal refogado ou outro acompanhamento?

Esse prato, muitas vezes tornado vilão do controle do peso para muitos, nos lembra a nossa infância, o gostinho da avó ou da nossa mãe ou de outro alguém especial, é marca da nossa cultura, nos alimenta, nos nutre, nos aquece a alma, mata a nossa fome e nos enche de energia.

Um dos mais populares pratos da nossa culinária é o feijão com arroz. Mas cada cantinho do Brasil tem um tipo e um jeito de comer diferente, como o feijão-tropeiro, a feijoada, o feijão carioquinha, o acarajé (bolinho de feijão recheado com vatapá, camarão e vinagrete), o baião-de-dois, o tutu à mineira, a sopa de feijão com macarrão…

E a importância desse prato brasileiro não vem somente pelas lembranças, custo, sabor e hábito alimentar, mas por ser um prato rico em nutrientes.

O Ministério da Saúde tem o compromisso de contribuir para o desenvolvimento de estratégias para a promoção e a realização do direito humano à alimentação adequada e o reforça através do Guia Alimentar para a População Brasileira (última versão é a de 2014), que é um documento oficial que aborda os princípios e as recomendações para uma alimentação adequada e saudável para a nossa população.

A nova versão do guia nos orienta a optar por refeições caseiras e uma alimentação com base em alimentos frescos (frutas, carnes, legumes) e minimamente processados (arroz, feijão e frutas secas), além de minimizar a presença dos ultra processados (como macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote e refrigerantes). Destaque mais que especial para a valorização ao ato de comer e, antes deste, o envolvimento de amigos e familiares no preparo da comida. Basearmos nossa alimentação em alimentos frescos e naturais secos, como o arroz e feijão, também estimula a agricultura familiar e a economia.

Vamos aos dados nutricionais: começando pelo arroz, assim como em todos os cereais, é onde obtemos fontes importantes de carboidratos, vitaminas (em especial do complexo B), fibras e minerais. O arroz combinado ao feijão (ou outra leguminosa como ervilha, lentilha, grão de bico, soja, grão de bico) constitui também fonte de proteína de excelente qualidade. O feijão, e seus substitutos, são fontes de proteína, vitaminas do complexo B, fibras e minerais como cálcio, ferro e zinco. A quantidade de fibra também confere a esse alimento um alto poder de saciedade. Acrescentar vegetais e ervas ao preparo pode agregar um maior valor nutricional ao prato, além de sabor.

E foi o arroz com feijão um dos assuntos de uma consulta com uma paciente. Ela me contou que não estava comendo alguns alimentos, dentre eles a “dupla” perfeita, o arroz e feijão. Em seguida me descreveu a sua alimentação em um dia com o arroz e feijão. Confuso? Muito! Ela vinha comendo com tanta culpa que não percebia, ou tentava ignorar, que estava comendo.

Como eu gostaria de descobrir de onde vem que alguns alimentos são vilões, nos engordam ou fazem mal a todos nós. Alguma dúvida que somos diferentes? Bom, temos sexo e idade diferentes, genética diferente, fisiologia diferente, vontades diferentes, fome diferente, rotinas diferentes… Respeitarmos a nossa individualidade quanto ao melhor funcionamento do nosso organismo, aliado a como comemos, quanto comemos e o que comemos com certeza fará com que nos sintamos melhores, sem neuras, sem angústias e fazendo as pazes com a nossa fonte de vida, a comida.

O arroz e feijão é apenas simbólico aqui. Espero que já seja a sua hora do almoço ou jantar e que eu tenha lhe causado um pouco de água na boca. Bom apetite!

 

Fonte:

GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade

Pelo fim da comida como religião, ou toxina, ou milagre, ou valor moral

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Por Marle Alvarenga, nutricionista

Embora obviamente a relação entre alimentação e saúde seja bem estreita, a falta de bom senso é a tônica da comunicação sobre os fatos, e muitas pessoas não têm “sensitividade à dose”1 e não saem da dicotomia na classificação dos alimentos. Muitas substâncias podem causar mal em grandes quantidades, o que não quer dizer que não possam ser ingeridas em nenhuma quantidade.

 

A comida não pode ser classificada em boa versus ruim, suja ou limpa, toxica ou pura… Este tipo de linguagem causa pânico, neuroses e muita desinformação.

 

A ideia de pureza e outras crendices – e quase misticismo – relacionadas à alimentação remetem a crenças religiosas. Relatórios vindos do Annual Congress of the Humanities and Social Sciences Conference que aconteceram no 1o semestre deste ano discutiram como esta explosão de “comer limpo” tem criado uma hierarquia moral da comida. Pesquisadores como Gillian McCann, professora de religião e cultura, apontam como é curioso que isto ocorra de maneira coincidente com o declínio da religião na sociedade, com as pessoas procurando valores familiares como pureza, ética e bondade. Ela afirma que isto pode ser inconsciente, mas é de certa forma motivado por “impulso religioso”. Só que tudo isto ocorre buscando um preenchimento que não pode ser alcançado com comida!2

 

Se um a pessoa se julga “pura”, os outros são impuros. A rigidez sobre o que se come leva ao julgamento do que os outros comem – e até sobre como eles são. Tal foco se relaciona também com “virtudes pessoais”, a ideia de disciplina e controle do corpo. Gillian McCann afirma que parte do apelo do “comer virtuoso” é um senso de controle. Mais curioso é pensar que tudo isto remete ao controle do corpo, o que se relaciona aos transtornos alimentares – objeto de pesquisa e trabalho do Genta. As questões religiosas estão também na origem dos relatos de anorexia nervosa!3 Mas, em pleno século 21, com todo avanço da ciência, cá estamos nós de novo moralizando a comida, e complicando tudo com pseudociência, e “em nome da saúde” – o nutricionismo e ortorexia nervosa estão aí para nos provar isto.a

 

Esta discussão também é feita por Alan Levinovitz, afirmando que a ciência é apenas a superfície da discussão, mas cheia de “mitos e superstições pra reforçar um discurso do bem contra o mal numa ilusão de bem estar”.5

 

Sim, o ambiente alimentar é muito mais complexo hoje, vale conhecer mais sobre a comida, porque nos distanciamos dela – o que contribui para gerar medo e dúvida. Mas não há uma dieta milagrosa, assim como não há a dieta que “intoxica”; nutrição não é religião, e os valores morais não podem reger o que é ciência.

 

A comida deve ser pensada sempre no contexto da dieta como uma todo6, incluindo aí seus significados sociais, cultuais e emocionais – além dos fisiológicos.

 

Por isto defendemos a boa relação com a comida, e o papel do prazer neste debate. De neuroses o mundo já está cheio…

 

Referências:

 

1)       Rozin P, Ashmore M, Markwith M. Lay American conceptions of nutrition: dose insensitivity, categorical thinking, contagion, and the monotonic mind. Health Psychol.1996;15:438-47.

 

2)       http://news.nationalpost.com/life/food-drink/the-new-religion-how-the-emphasis-on-clean-eating-has-created-a-moral-hierarchy-for-food

 

3)       Weinberg C, Cordás TA. Do altar as passarelas – da anorexia santa à anorexia nervosa. São Paulo: Annablume, 2006.

4)       http://www.npr.org/sections/thesalt/2015/06/11/412973926/how-diet-gurus-hook-us-with-religion-veiled-in-science

5)       Nitzke S, Freeland-Graves J. American Dietetic Association. Position of the American Dietetic Association: total diet approach to communicating food and nutrition information. J Am Diet Assoc. 2007;107:100-8.

 

Para saber mais:

 

  1. a) Martins MCT, Alvarenga MS, Vargas SVA, Sato KSCJ, Scagliusi FB. Ortorexia nervosa: reflexões sobre um novo conceito. Revista de Nutrição. 2011; 24:345-357; Scrinis G. Nutritionism: The Science and Politics of Dietary Advice. Columbia University Press. 2013.

Quelier F. Gula – história de um pecado capital. São Paulo: Senac, 2011.

http://www.parents.com/recipes/scoop-on-food/can-we-please-stop-calling-food-toxic/

Levinovitz A. A Mentira do Gluten – E outros mitos sobre o que você come CDG Editora, 2015.

 

Fonte:

GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade