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Be Present, Be Calm , Be Grateful = Mindfulness exercise

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Por Paula Costa Teixeira, profissional de educação física

Sim, para algumas pessoas é muito difícil se engajar regularmente em uma atividade física. E já abordei esse assunto em outros posts. E o que me faz convidar o leitor novamente a refletir sobre isso é um estudo holandês publicado em janeiro de 2015.

Foram recrutados 398 holandeses (49% homens e média de idade total de 41 anos) regularmente ativos, que responderam questionários sobre seus sentimentos, atenção e consciência durante a prática de atividade física. Aqueles que apresentaram maior satisfação com o exercício foram os que relataram praticar mais. Apesar de suas limitações, o estudo destaca o quão importante é “estar presente” ao praticar uma atividade física, ou seja, a presença ser de mente e corpo. Está cada vez mais comum ver pessoas se exercitando com a atenção voltada para todas outras coisas externas, e pouco atentas ao que o corpo executa.

Somente é possível enxergar os famosos benefícios da atividade física se existir prática regular, ou seja, se for adquirido o hábito de se exercitar. No entanto, muitos vão buscar uma atividade impulsionados pela obrigação, por motivos estéticos, ou ainda, única e exclusivamente para o controle de peso corporal.

Infelizmente, a transformação dessa obrigação num hábito se torna uma tarefa extremamente árdua, difícil e nada agradável. Às vezes, após um tempo, algumas pessoas até conseguem se conformar em se exercitar assim. Mas a maioria ainda é composta pelas pessoas que se empolgam no primeiro mês e depois desistem.

O artigo também destaca alguns dos principais achados sobre como não desistir de praticar uma atividade física. O segredo é muito simples: basta associar prazer + movimento consciente. Quando você consegue identificar qual atividade física desperta no seu corpo sensações de satisfação, prazer, alegria, bem-estar, ela passa a ter um significado na sua vida. E além disso, quando você consegue dedicar atenção ao que o seu corpo está fazendo, ao movimento que está sendo gerado, à energia que está circulando no seu corpo, perceber as sensações produzidas pelo seu corpo no momento da atividade, enfim…. Gostar e estar totalmente envolvido no que está sendo praticado pelo corpo aumentam as chances de estimular sensações positivas, prazerosas e, consequentemente, as chances de querer praticar de novo.

O conceito de atenção plena, que na língua inglesa é difundido como mindfulness, já foi assunto aqui do blog segmentado para alimentação (mindful eating). E esse conceito vem ganhando força na área da atividade física também. Modalidades como ioga, tai chi, aikido são exemplos de mindful exercise, por combinar exercícios que envolvem concentração, foco, meditação, respiração e movimentos corporais. Entretanto, qualquer atividade física pode se tornar mindful: caminhadas, corridas, danças, lutas. O entusiasmo é maior quando o corpo se movimenta porque gosta e não por obrigação.

Referência do estudo:

Tsafou KE, De Ridder DT, van Ee R, Lacroix JP. Mindfulness and satisfaction in physical activity: a cross-sectional study in the Dutch population. J Health Psychol. 2015; 1-11.

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição

7 coisas que comer normalmente pode fazer por você – e que não tem nada a ver com o seu peso!

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Por Cezar Vicente Jr, nutricionista

Há algum tempo a comida foi reduzida a manipulador do peso e forma corporal, infelizmente. Isso quer dizer que quase sempre quando se fala em comida as pessoas pensam se ela engorda ou emagrece, faz ganhar gordura ou músculos, se é “comida de dieta” ou “gordice”…

Esse jeito de pensar a alimentação é simplesmente reducionista. É como olhar para um quadro bonito e se fixar apenas sobre a sua moldura.

A comida é tão plural, com tantos símbolos, funções e repercussões que é praticamente impossível comer normalmente* se a comida e o comer forem diminuídos à apenas alterações no peso e forma física.

Felizmente comer normalmente pode fazer muito mais pelas pessoas do que alterar o peso / forma física:

1)      Dar energia e disposição

Todo o nosso corpo necessita de energia e nutrientes para funcionar adequadamente. Geralmente quando pensamos em energia para o corpo, automaticamente pensamos em energia para fazer atividades físicas e isso é verdade, mas é apenas uma parte da verdade! Nosso corpo precisa de energia e nutrientes mesmo se não praticarmos atividade física nenhuma. Algumas atividades acontecem 24 horas no nosso corpo involuntariamente: respiração, batimentos do coração, pensar, funcionamento do intestino, funcionamento dos rins, etc. Comer normal faz com que seja possível comer o quanto, quando e o quê o corpo precisa para manter todas suas funções adequadas. A tradução de todos esses processos invisíveis acontecendo naturalmente é sentir-se disposto e com energia!

2)      Melhorar o humor

Obviamente o humor depende de vários fatores, apenas um deles é a comida. O humor está em uma esfera emocional e psicológica, porém ele também passa por processos que envolvem hormônios, neurotransmissores, etc. que por sua vez precisam de nutrientes para serem fabricados. A falta de nutrientes e de energia perturba o equilíbrio de fabricação e utilização destes. De uma maneira prática, basta pensar em algum momento da sua vida em que precisou ficar mais tempo que o seu habitual sem comer. É muito comum ficar irritado, com dores de cabeça, com pouca paciência, nervoso, impaciente. Talvez já tenha percebido essas características mas nunca relacionou com a falta de comida. Comer evita essas situações e, sobretudo nessas situações, melhora o humor.

3)      Melhorar concentração

O nosso cérebro é uma das partes do nosso corpo que mais solicita nutrientes e energia constantemente ao longo do dia. A falta destes pode afetar em nossa concentração a curto prazo, e em casos mais extremos, pode afetar a longo prazo de forma irreversível. Crianças que estudam no período da manhã, por exemplo, e que tomam café da manhã conseguem se concentrar mais do que as crianças que estudam nesse mesmo período e que não tomam café da manhã. No trabalho acontece o mesmo, quantas vezes não estamos “conseguindo pensar direito” quando está chegando – ou já passou – a hora do almoço? Comer normalmente ajuda a melhorar a concentração.

4)      Aproveitar melhor a comida

Comer normalmente envolve também comer coisas que gosta, mesmo que elas não sejam exatamente nutritivas. Afinal os nutrientes são apenas uma parte da comida. Outras são, o gosto, comer com outras pessoas, comer suas comidas preferidas, as preparações, o que você tem disponível, etc.

Aproveitar melhor a comida trata-se de ficar mais relaxado (no sentido de “sem neuras” e não no sentido de “descuido”) perante a comida e aí as coisas começam a equilibrar-se. Costumo utilizar o termo “relacionamento com a comida”, pois é exatamente isso! Se toda vez que você se encontrar com a comida ficar muito nervoso, por exemplo, as chances de esse relacionamento ficar tranquilo são muito baixas. O grande ponto é que não podemos nos “divorciar” da comida, ela está aí e vai estar enquanto estivermos vivos.

O melhor jeito de melhorar esse relacionamento é comer sem culpa e aproveitar a comida melhor, sentir o seu sabor, seu cheiro seu gosto, separar um tempo para ela…

5)      Envelhecer melhor

Embora muitas pessoas não queiram envelhecer, o envelhecimento é inevitável. Mas não é necessariamente algo ruim. Sim, algumas coisas se perdem… mas certamente outras se ganham com o envelhecimento. De qualquer modo, comer de maneira normal pode reduzir alguns efeitos não tão interessantes do processo de envelhecimento – como algumas doenças/condições, ou diminuição de algumas funções.

6)      Proteger contra doenças

Esse é sem dúvida o mais óbvio dos benefícios do comer normal. É o mais citado pela grande mídia e os profissionais. É importante relembrar que o fato de não ter nenhuma doença não significa que uma pessoa seja saudável, e também o fato de uma pessoa ter uma doença não significa que ela não possa ser saudável com ela. De qualquer modo, a genética, os microrganismos, o stress, e também os nutrientes (além de muitos outros) têm relações importantes com o desenvolvimento de doenças. E por mais incrível que pareça eles estão conectados, o comer, os nutrientes, o stress, os microrganismos e a genética. Mais importante do que saber o que cada nutriente protege, causa, aumenta ou diminui a probabilidade de ter – até porque isso é uma grande polêmica, e na minha opinião sempre será – é importante saber que comer normalmente ajuda a ficar longe de muitas doenças. Nota mental: Comemos comidas e não nutrientes, e esse é um dos motivos porque sempre esse assunto será uma polêmica.

7)      Tornar mais saudável

Tornar-se mais saudável, entendendo saúde de uma perspectiva mais ampla, pode ser traduzido como tão falado bem-estar. É importante destacar que ter saúde não deve um objetivo de vida. Para Reys (2012) “saúde é uma condição em que um indivíduo ou grupo de indivíduos é capaz de realizar suas aspirações, satisfazer suas necessidades e mudar ou enfrentar o ambiente. A saúde é um recurso para a vida diária, e não um objetivo de vida; é um conceito positivo, enfatizando recursos sociais e pessoais, tanto quanto as aptidões físicas. É um estado caracterizado pela integridade anatômica, fisiológica e psicológica; pela capacidade de desempenhar pessoalmente funções familiares, profissionais e sociais; pela habilidade para tratar com tensões físicas, biológicas, psicológicas ou sociais com um sentimento de bem-estar e livre do risco de doença ou morte extemporânea. É um estado de equilíbrio entre os seres humanos e o meio físico, biológico e social, compatível com plena atividade funcional.”.

Comer normal ajuda sim a ficar mais saudável. E ter saúde é um meio, mas um meio pra quê? “Por que queremos ficar saudáveis?” acho que essa é uma pergunta interessante para se pensar.

Independente da resposta, comer normalmente sem dúvida é algo prazeroso.

É extremamente importante saber que o peso não determinante central da saúde e que é possível promover saúde para uma pessoa independente do seu peso. Isso significa que independente do peso da pessoa existem coisas que ela pode fazer para tornar-se saudável e isso não necessariamente significa que ela “precisa perder peso”. Essa é uma das premissas das abordagens Health at Every Size (HAES), ou Saúde em Todos os Tamanhos. Recentemente foi publicado mais um artigo sobre o tema (aqui). E você pode ler mais sobre o tema em outros postsaqui e aqui.

*Comer Normal: Aqui, para todos os efeitos, entende-se “comer normal” como algo que engloba também a alimentação saudável – do ponto de vista nutricional. O conceito de comer normal que norteia o texto é o criado por Ellyn Satter (2008):

“Comer normalmente é ser capaz de comer quando você está com fome e continuar comendo até você ficar satisfeito. É ser capaz de escolher os alimentos que você gosta e comê-los até aproveitá-los suficientemente – e não simplesmente parar porque você acha que deveria. Comer normalmente é ser capaz de pensar um pouco para selecionar alimentos mais nutritivos, mas sem ser tão preocupado e restritivo a ponto de não comer os alimentos mais prazerosos. Comer normalmente é dar permissão a você mesmo para comer às vezes porque você está feliz, triste ou entediado ou apenas porque é tão gostoso. Comer normalmente é, na maioria das vezes, fazer três, quatro ou cinco refeições por dia, ou deixar a sua fome guiar quantas vezes vai comer ao longo do dia. É também deixar de comer algum pedaço de bolo porque você pode comer mais amanhã ou então comer mais agora porque ele é maravilhoso enquanto ainda está quentinho. Comer normalmente é comer em excesso às vezes e depois se sentir estufado e desconfortável. Também é comer pouco de vezes em quando, desejando ter comido mais. Comer normalmente é confiar que seu corpo conseguirá corrigir os pequenos ‘erros’ da sua alimentação. Comer normalmente requer um pouco do seu tempo e atenção, mas também ocupa o lugar de apenas uma área importante, entre tantas, de sua vida.

Resumindo, o “comer normalmente” é flexível. Ele varia em resposta às suas emoções, sua agenda, sua fome e sua proximidade com a comida e seus sentimentos.” (Adaptação e tradução livre).

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares

Reprograme o seu cérebro e mude os seus gostos alimentares!

reprograme o seu cerebroPor Sophie Deram, nutricionista

Um novo estudo sugere que podemos mudar nossas preferências alimentares sem fazer restrições e mantendo o prazer de comer

Uma pesquisa publicada neste mês de setembro na revista Nutrition & Diabetes observou que é possível mudar o sistema de recompensa no cérebro e as preferências por alimentos, graças a uma intervenção que alia mudança de padrão alimentar e mudança comportamental.

A equipe que fez a pesquisa já tinha mostrado que mudanças comportamentais podem levar a uma diminuição do apetite e do desejo por alimentos ricos em gordura e açúcares.

O estudo, apesar do número muito pequeno de pacientes e de uma série de limitações, é o primeiro a mostrar através de ressonância magnética que a ativação cerebral do desejo por alimentos pode ser alterada por uma intervenção comportamental de seis meses.

O condicionamento das nossas preferências por certos alimentos começa desde a infância.

Pesquisas anteriores tinham sugerido que a vontade por alimentos de alta densidade calórica, uma vez instalada, era impossível de mudar. Com esse estudo, mostraram que é possível reprogramar o cérebro e o condicionamento dele.

Roberts e seus colegas estudaram 13 homens e mulheres com sobrepeso e obesidade.
Eles foram submetidos a ressonância magnética (MRI) do cérebro no início e no final de um período de seis meses. As imagens do cérebro revelaram, no inicio, alterações em áreas do centro da recompensa que controla o desejo por alimentos de alta densidade calórica.

O grupo que participou da intervenção foi incentivado a mudar seu regime alimentar, aumentando o consumo de ítens que contêm mais fibras e proteínas. Depois de seis meses mostraram uma mudança positiva no seus sistema de recompensa, ou seja, eles não desejavam tanto os ítens mais calóricos. Ao contrário, essa área aumentou a sensibilidade a alimentos de baixas calorias, o que indica um aumento da recompensa e do prazer providos por alimentares de baixo teor calórico e ricos em fibras.

O grupo da intervenção, após seis meses, perdeu 6 kg em média (3 vezes mais do que outros participantes sem intervenção) e demonstrou mais atividade cerebral ligada a prazer quando expostos a imagens de alimentos mais saudáveis do que “junk food”.

Os autores sugerem que várias características da intervenção foram importantes, incluindo a educação, mudança de comportamento e incentivo a comer alimentos com alto teor de fibras.

Esse estudo, mesmo que pequeno, é uma indicação do que é possível mudar o comportamento alimentar. É muito interessante porque está a favor de treinar o cérebro a transformar a relação com alimentos para desenvolver gostos e hábitos mais saudáveis, em vez de restringir ou cortar alimentos considerados mais gostosos.

Transformando a relação com alimentos até que as mudanças virem hábitos, isso é provavelmente a chave de um peso saudável sustentável. Você se condiciona e sente prazer com um novo estilo de vida, de maneira sustentável e sem estresse ou privações: você muda o seu paladar e não abre mão do prazer de comer!

Bon appétit!

Fonte: GENTA – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares