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NÃO DÊ REMÉDIOS PARA EMAGRECER ADOLESCENTES

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Por Camilla Estima, nutricionista convidada

Por Camilla Estima, nutricionista convidada

 

Diariamente escuto no meu consultório mulheres na faixa dos 30 e poucos anos me contando a história de sua alimentação ao longo da vida. Sempre começamos uma linha do tempo alimentar, desde a infância até os dias atuais e se eu for apostar provavelmente vou ganhar: a grande maioria dessas mulheres iniciou a sua saga de dietas na adolescência. Muitas vezes impulsionada por algum familiar, que a levou a um profissional de saúde para emagrecer.

Qual o PROBLEMA disso? Após a vida intrauterina e a primeira infância, a adolescência é o terceiro momento na vida de um indivíduo onde há maior necessidade de energia e nutrientes para que haja um crescimento e desenvolvimento físicos adequados. Há um processo natural, obrigatório e necessário onde o corpo de criança tem que se tornar um corpo de adulto, isso tudo em um curto espaço de tempo. Para que isso aconteça, a pessoa PRECISA comer! Sim, a fome aumenta pois é a estratégia que o corpo utiliza para que você consiga atingir toda essa demanda nutricional.

As mudanças corporais nessa fase são totalmente necessárias e esperadas, e elas vão acontecer com todo mundo.  Mas o que na prática realmente acontece? Pela pressão do padrão corporal (magro) imposto nas últimas décadas, junto com as mudanças psíquicas dessa fase e pressão social o jovem se vê encurralado e acredita que tem que frear essas mudanças. Então, apoiado ou mandado mesmo pela família e com aval de um profissional de saúde, começa a desregulação dos sinais internos de fome e saciedade que os remédios proporcionam, e ai inicia a vida de dieta. Agora imagine só, o corpo clamando por comida para atingir as demandas nutricionais e contra tudo isso vem uma série de estratégias para fazer esse indivíduo parar de comer!

O controle dos sinais internos da fome e da saciedade a partir do uso de medicamentos gera uma grande desregulação. O indivíduo tem dificuldade para identificar o momento que deve comer, não responde à saciedade para parar e quanto mais medicação houver, mais distante de si mesma a pessoa se vê. E pior, isso continua para o resto da vida. E hoje essas mesmas mulheres se vêem aprisionadas em dietas, fórmulas para emagrecimento, terceirizando cada vez mais as suas escolhas alimentares a profissionais passam a decidir o que elas vão comer, quando devem parar de comer, enquanto que a fome mesmo e saciedade elas nem sentem (ou pelo menos não percebem). Tudo isso por uma não aceitação das mudanças corporais quando eram tão jovens. E hoje, ao questioná-las como eram seus corpos na idade que essa desregulação imposta começou a grande maioria também me relata: olho fotos da minha adolescência e eu nem era gorda como na época eu achava que era!

Assim, o dia que os jovens, suas famílias e também os profissionais de saúde forem conscientizados de que as mudanças corporais que acompanham a adolescência são normais e necessárias, e que os padrões corporais baseados na magreza são uma grande armadilha para insatisfação corporal, início da saga das dietas e desregulação interna, essa prática poderá ser extinta. Cabe a todos nós estimularmos os jovens a entenderem e amarem os seus corpos da forma como eles são, sem necessidade de padronização baseada em metas inatingíveis e permeadas por estratégias nada saudáveis.

 

GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade

 

NOVA VELHA DOENÇA… VOCÊ SABE O QUE É TRANSTORNO ALIMENTAR RESTRITIVO/EVITATIVO?

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Por Vanessa Pinzon, psiquiatra

Cada fase do desenvolvimento humano é caracterizada por padrões alimentares específicos, de acordo com as necessidades biológicas, psicológicas e emocionais, bem como das relações afetivas. Esses padrões são temporários, mutáveis e mais importante, não causam nenhumtipo de alteração física, psicológica ou social. Assim, é esperado que uma criança entre 3 e 6 anos, em função de mudanças metabólicas, fique menos interessada em comida, diminua as quantidades de alimentos ou seja mais seletiva.

O transtorno alimentar restritivo/evitativo ou TARE (do inglês Avoidant Restrictive Feeding Disorder ? ARFID) foi incluído na quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Psiquiátricos (DSM-5), lançado em 2013, embora já seja conhecido pelos especialistas em transtornos alimentares na infância e adolescência há muito tempo. O TARE inclui problemas alimentares graves, rígidos e persistentes que acabam causando pelo menos uma dessas consequências:

a) perda de peso significativa (ou insucesso em obter o ganho de peso esperado ou atraso de crescimento em crianças);

b) deficiência nutricional importante identificada por exame físico ou laboratorial;

c) dependência de alimentação por sonda ou suplementos nutricionais;

d) interferência marcante no funcionamento psicossocial.

Os padrões alimentares caracterizam-se frequentemente por um ou mais dos seguintes aspectos:

1. Falta aparente de interesse na alimentação ou em alimentos: esquecem de comer, não se queixam de fome ou não pedem comida, mostram-se entediados nas refeições, dizem-se satisfeitos com a ingestão de quantidades insuficientes de comida;

2. Esquiva baseada nas características sensoriais do alimento: repelem alimentos em função dos seus sabores, texturas, cor ou cheiro. Acabam ingerindo apenas um grupo de alimentos ?preferidos?;

3. Preocupação acerca de consequências aversivas alimentares: após evento traumático, como engasgos, vômitos, diarreia, sondagem em hospitalização, o indivíduo desenvolve medo dos alimentos parecidos com o que lhe causou o trauma ou dos alimentos em geral.

Frequentemente, as tentativas de fazer esses pacientes se alimentarem de forma diferente causam reações emocionais e comportamentais violentas na infância e adolescência. Os pais percebem um sofrimento desproporcional a situação de oferecer os alimentos regularmente consumidos pela família. As refeições transformam-se em verdadeiros campos de guerra, estressando todos os envolvidos. Nos adultos, o TARE pode causar isolamento social e perdas de oportunidades de trabalho.

O TARE pode ocorrer em associação com outros transtornos psiquiátricos, como os transtornos do espectro autista, bem como com doenças gastrointestinais, como alergias alimentares. É importante salientar que não há preocupação com a forma ou peso corporal, como nos quadros de anorexia nervosa ou bulimia nervosa.

Já há entendimento que o TARE tem origens biológicas, psicológicas e sociais complexas. Portanto, os pais não podem causar TARE em seus filhos! Os pais, assim como os pacientes, não têm culpa!


Se existe suspeita desse diagnóstico, é fundamental que sejam realizadas consultas de seguimento com entrevistas e exame físico detalhados e solicitação de exames laboratoriais. O tratamento do TARE segue sem protocolos, mas há um consenso entre os especialistas de que deve incluir: equipe multidisciplinar, a família, terapêuticas individualizadas e utilização de técnicas cognitivo-comportamentais e/ou tratamento embasado na família (Family-based treatment), adaptados para cada caso.

Lembre-se: a maioria das crianças pode ter algumas dificuldades alimentares ao longo de seu desenvolvimento, sem que isso seja uma doença. Mas, na presença de sofrimento intenso do paciente e/ou da família e de prejuízos à saúde física, emocional ou social, é importante buscar ajuda especializada.

 

GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade

 

ADVERTÊNCIA: ESTA IMAGEM FOI ALTERADA PARA MANIPULAR SUA NOÇÃO DE REALIDADE

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Modelo russa Valeria Lukyanova

Modelo russa Valeria Lukyanova

Por Camila Lafetá Sesana, nutricionista convidada

Recentemente, a Royal Society for Public Health (RSPH), associação sem fins lucrativos do Reino Unido, divulgou os resultados de pesquisa feita com 1.479 jovens de ambos os sexos sobre o uso de mídias sociais e saúde mental. Nos itens sobre imagem corporal e ansiedade, Instagram e Snapchat, justamente as redes mais centradas em imagens, tiveram as piores pontuações (1,2).

Segundo a mesma RSPH, 68% dos entrevistados disseram que apoiariam a publicação de avisos em imagens que passaram por algum tipo de tratamento digital ?apesar de um trabalho já ter mostrado que simples “alertas de manipulação digital” podem não deter o ímpeto de comparação e auto-depreciação de quem as vê (3). Os fumantes que o digam.

Pessoalmente, não me surpreendo. Sou nutricionista de formação comportamental e estou habituada a ver, em pacientes com transtornos alimentares, o imenso sofrimento que existe no fim do espectro da insatisfação corporal. Aprendi a ter uma atitude positiva em relação à diversidade de corpos (inclusive o meu) e tenho uma atenção militante para detectar filtros e ilusões digitais. Não leio revistas femininas, de moda ou de celebridades há mais de 10 anos. Ainda assim, já me peguei lamentando as escolhas e circunstâncias que me levaram a uma vida sedentária depois de um passeio pelo Instagram “fitness”, coletando imagens para aulas.

Acho que as correlações entre tempo passado em mídias visuais, insatisfação corporal e baixa autoestima femininas (4) não se explicam apenas pelo volume de imagens publicadas, mas também pelo excesso de manipulação. Lendo “The End of Overeating” (5), fui apresentada ao conceito da biologia de “estímulo supernormal”. De forma bem resumida, um estímulo supernormal evoca nos animais uma preferência inata e resistente à extinção por características mais exageradas do que as encontradas na natureza. No livro, David Kessler cita o exemplo de um estudo que observou pássaros rejeitando seus ovos para chocar ovos maiores, mais vistosos e artificiais ? ovos que, segundo ele, seriam “biologicamente impossíveis de serem botados” por aquela espécie.

É essa “impossibilidade biológica” que me vem à cabeça quando vejo fotos de corpos entalhados nas formas real e digital. Cinturas mais finas que as de crianças acima de glúteos completamente desproporcionais, “não encontrados naturalmente” em mulheres. Abdominais definidos em gestantes no terceiro trimestre. Não somos mais apenas expostos a corpos editados, mas a corpos editados para apresentar formas extravagantes. Estímulos supernormais, mais atraentes, portanto, mais difíceis de resistir, e em nome dos quais tanta gente sacrifica a própria saúde física e psíquica, como as aves que escolhem chocar ovos que não gerarão descendentes.

Minha conclusão é que não basta mais nos educarmos para sermos consumidores de mídia inteligentes, capazes de reconhecer que aqueles corpos não pertencem nem mesmo às blogueiras, modelos e webcelebridades retratadas. É preciso limitar conscientemente nossa exposição a elas, para que nossos olhos não nos convençam que o “supernormal” é o novo normal.

 

GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade

 

VAMOS FALAR NO VÍCIO POR COMIDA, ELE EXISTE?

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Por Dr Alexandre Pinto de Azevedo, psiquiatra

Por Dr Alexandre Pinto de Azevedo, psiquiatra

Cada vez mais estamos expostos a novas regras e conceitos sobre a alimentação. E cada vez mais a relação com a comida vem sendo problematizada. Já podemos identificar uma série de transtornos alimentares bem definidos segundo a Associação Americana de Psiquiatria (sua última revisão foi realizada em 2013)1 e nesta classificação encontramos os novos critérios diagnósticos para o Transtorno de compulsão alimentar (TCA), entre outros transtornos alimentares. O TCA é caracterizado por episódios recorrentes de descontrole alimentar (compulsão) em que se ingere grande quantidade de alimentos com uma rapidez e voracidade diferente do habitual das refeições não compulsivas. Usualmente é possível identificar sentimentos e situações desencadeadoras destes episódios e o sofrimento psíquico se dá pela culpa da perda de controle.

Recentemente, inúmeros estudos vêm sendo publicados relatando um possível outro padrão de descontrole alimentar, desta vez descrevendo um padrão similar ao vício ou adicção por substâncias, porém neste caso pela comida (food addiction)2. Segundo estes diferentes estudos, o vício por comida seria uma dependência comportamental caracterizada pelo consumo compulsivo de alimentos saborosos (com alto teor de gordura e de açúcar), que seriam os tipos de alimentos que ativam acentuadamente o sistema de recompensa em humanos e animais. A ideia de que alguns indivíduos poderiam ser viciados em comida partiu de estudos que verificaram que era possível identificar uma “ativação” – em exames de neuroimagem e neurofuncionais – em regiões cerebrais responsáveis pela recompensa e percepção de prazer de maneira similar a “ativada” por drogas, como cocaína e heroína. E que alimentos altamente palatáveis (ricos em gordura, açúcar e sal) teriam potencial viciante.

O que precisamos pensar é que para determinada substância provocar dependência é necessário que a molécula de tal agente atue diretamente sobre vias cerebrais específicas, em particular as vias de neurotransmissão da dopamina, modificando a liberação desta. Embora diferentes drogas promovam estas modificações de maneiras distintas, ligando-se a diferentes receptores, ou transportadores, o resultado final é aumentar a disponibilidade sináptica da dopamina3. Apesar de o comer exagerado e a obesidade serem freqüentemente atribuídos a um vício em alimentos, atualmente há uma falta de evidência científica para apoiar a ideia de que certos alimentos contêm qualquer substância adictiva (viciante) específica. Ou seja, não é possível afirmar que determinados alimentos podem provocar modificações químicas cerebrais possíveis de provocar vício. Então, torna-se claro que chocolate, sorvete ou batata frita, por exemplo, não podem determinar dependência química.

Contudo, não podemos desconsiderar que assim como alguns comportamentos disfuncionais são descritos como similares ao vício, como a impulsividade por jogos, por compras, por sexo, por internet e tecnologias portáteis, o vício em comer (eating addiction) – e não pela comida – pode ser potencialmente considerado como existente. Seriam considerados comportamentos alimentares como se fossem vício (addiction-like eating)4. A dificuldade atual é estabelecer diferenças claras entre o TCA e o possível vício em comer, pois ainda pela maioria das evidências científicas atuais não é possível estabelecer esta distinção.

  1. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: manual diagnóstico e
  2. estatístico de transtornos mentais.5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 992p.
  3. RUDDOCK HK, et al. Food Addiction Beliefs Amongst the Lay Public: What Are the Consequences for Eating Behaviour?Curr Addict Rep. 2017;4(2):110-115.
  4. KANDEL, E. et al. Capítulo 49 Homeostase, motivação e estados de adicção. Princípios de neurociências. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. 1544p.
  5. RUDDOCK HK, et al.The development and validation of the addiction-like eating behaviour scale. Int J Obes (Lond). 2017 Jul 5.

 

GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade

ONDE TEM FUMAÇA TEM FOGO!

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Por Rogéria Taragano, psicóloga

Por Rogéria Taragano, psicóloga

 

Sempre que viajo, entro em livrarias para folhear autores que me inspirem a ajudar meus pacientes, com estratégias alternativas. Recentemente, na Califórnia (EUA), encontrei um interessante livro, no qual o Dr. Arnold Andersen1, psiquiatra e psicoterapeuta, cita fábulas e histórias que utiliza durante suas sessões de atendimento com pessoas com algum tipo de transtorno ou problema em relação à alimentação. Comento a seguir uma delas, que achei bem apropriada para quem enfrenta problemas de compulsão alimentar e/ou bulimia nervosa.

A história dizia respeito a uma jovem que estava preparando algo na cozinha, quando resolveu dar uma volta com seu cachorro. Ao voltar ela ouviu o alarme do detector de fumaça e decidiu interromper aquele forte ruído quebrando o aparelho com uma vassoura. Em pouco tempo havia muita fumaça e um incêndio destruiu a casa. Na sequência desta história o autor destaca que, na vida real, em geral, ninguém vai atacar o detector por ele estar sinalizando que algo está queimando. O Dr. Andersen sugere que um paciente com bulimia nervosa, por exemplo, que sente a necessidade premente de ter uma compulsão, poderia entendê-la como um importante instrumento de sinalização. Ele pergunta o que fazemos quando o alarme do detector dispara e afirma que este serve para investigarmos o que está acontecendo e descobrirmos de onde vem a fumaça. “Quando apagamos o fogo, o alarme cessa. Não porque o detector foi quebrado, mas porque a fonte, responsável pelo sinal, foi removida.” Ele conclui dizendo que, da mesma forma, uma compulsão pode ser resultado de fome e de hábito, mas que, na maioria das vezes, sinaliza que o “fogo” ou desconforto emocional está ardendo. Pondera que há um problema que está emitindo “fumaça”, e ele pode ser: ansiedade, raiva, depressão, tédio, tristeza, solidão, etc.

Concordo com o autor, quando este comenta que muitos pacientes podem se beneficiar de se tornarem observadores ativos dos seus “detectores de fumaça” (impulsos compulsivos), investigando de onde vem o sinal e o que ele representa, em vez de sair correndo para dar vazão a uma compulsão. Sabemos que enfrentar frustrações e mal estar com comida tende a gerar “quilos emocionais”, frustração e sentimentos de culpa, comprometendo ainda mais a saúde física e emocional. Desconsiderar as compulsões, simplesmente aderindo a uma dieta restritiva teria um efeito ainda pior, postergando a solução do problema.

Ao invés de interromper o impulso da compulsão comendo em exagero o importante é parar, refletir e considerá-lo como um sinal de que algum conteúdo emocional precisa ser entendido e enfrentado de maneira mais saudável. Aprender a buscar estratégias adequadas para tolerar e enfrentar essas emoções, por vezes desconfortáveis, seria a próxima etapa a ser apreendida e adotada.

Referência:

1 – Andersen, Arnold E. & Cohn, Leigh. Stories I tell my patients: 101 Myths, Metaphors, Fables & Tall Tales for Eating Disorders Recovery. Carlsbad, CA. Gurze Books, 2016

Créditos de imagem: Fumaça.N.d. Pixabay.com. Pixabay.com. Web. July 2017. .

 

GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade

COMUNICAÇÃO RESPONSÁVEL: O PODER DA PALAVRA E DA IMAGEM

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Por Erika Romano, nutricionista

Qual o valor das nossas palavras? Qual a importância da informação passada para o nosso paciente? Como nutricionista, você pode mudar a vida do seu paciente? Para melhor ou para pior? Quando em seu consultório você diz para um adolescente com sobrepeso que “é proibido comer batata frita ” e durante o final de semana ele vai a uma lanchonete com os amigos, e só aprendeu o que não pode comer, ele saberá fazer escolhas? Ou se privará do que gosta iniciando o fardo de fazer dieta a vida toda? Será mesmo que uma porção de batata no meio de uma semana com alimentação bem programada, será razão para o fim? Ora, é claro que não!

Há tempos já se sabe que proibir alimentos não é a chave para tratar sobrepeso/obesidade, e que ensinar a fazer boas escolhas alimentares tem papel na mudança de comportamento e melhora de relação com o corpo, além do prazer em comer. Mas infelizmente o pensamento do “saudável” versus “não saudável” impera nas informações sobre nutrição.

Imagem, mídia, falas ensaiadas sobre modismos com alimentos distanciam os pacientes da ciência da nutrição e os faz mergulhar no mundo das incertezas nutricionais, onde saudável é sinônimo de restrição e sabor vem junto com punição. Há apenas lugar para os alimentos ricos em nutrientes, descartando – independente do sabor e da história – alimentos que não tenham alto valor nutricional. Pensando assim, então, deveríamos excluir o chocolate. Socorro!! É claro que não…

Quando nós nutricionistas, como autoridades na informação sobre a nutrição, passamos para nossos clientes informações punitivas sobre os alimentos, criamos um bloqueio entre prazer e comer, excluindo o paciente da vida social e dos hábitos familiares, distanciando-o de fazer boas escolhas alimentares conectado à sensação de fome e saciedade, além de criar expectativas desnecessárias sobre “o momento permitido para comer o que gosta”. Quanta infelicidade! 


Como profissional da saúde , o nutricionista deve tornar o momento da alimentação diversificado, onde todos os alimentos têm lugar, dependendo do contexto e momento da vida do paciente, onde informações sobre qualidades nutricionais dos alimentos são utilizadas, mas não em detrimento ao prazer de comer. A formação de melhores hábitos alimentares com a liberdade de poder fazer as pazes com sua história e com a comida é fundamental para a boa relação com a escolha dos alimentos, orientada com sensatez e de forma humanizada por um profissional sério e capacitado.

 

GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade

CREDITAR PRAZER AO EQUILÍBRIO!

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Por Marcela Kotait e Ester Soares, nutricionistas

O Conselho Federal de Nutricionistas divulgou, recentemente, uma campanha sobre alimentação saudável. Uma das imagens veiculadas em redes sociais trazia várias figuras de frutas (nada brasileiras, diga-se de passagem) rodeando uma outra figura: a de uma pizza, cujas referências eram a de que aquele alimento não fazia parte de uma alimentação saudável como as frutas.

Esse tipo de tentativa de promoção de saúde e alimentação saudável NÃO é tipo de mensagem que o GENTA concorda. A maneira dicotômica de classificar alimentos é cruel e piora a relação das pessoas com a comida.

Além da posição do GENTA, vale lembrar o que está no Guia Alimentar para a População Brasileira, que reforça que ?a alimentação que promove a saúde das pessoas pode e deve ser fonte de prazer?. E ainda aborda as circunstâncias que envolvem o ato de comer: quando, como, onde e com quem – e não simplesmente o que.

Michele May, em seu livro Eat what you love, love what you eat: How to break your eat-repent-repeat cycle (Coma o que você ama , ame o que você come) , nos ensina que quando julgamos comida como ?boa? ou ?ruim?, nós também julgamos a nós mesmos e outras pessoas como ?bons? ou ?ruins?, dependendo do que comemos, exatamente como na imagem divulgada.

Ainda exemplificando como a classificação de alimentos de maneira proibitiva é prejudicial, a Associação Americana de Dietética publicou em 2006 – em tradução livre – que: nutricionistas devem fornecer aos consumidores informações nutricionais sólidas e científicas e ajudá-los a reconhecer a desinformação, além disso, que:

  • Alimentação adequada não é igual dieta!
  • Gostoso não é igual engordativo!
  • Saudável não é igual sem graça!
  •  Não existe alimento saudável e não saudável!!!

Diante disso, afirmamos que pizza pode sim fazer parte de uma alimentação verdadeiramente saudável. Mais ainda, TODOS os alimentos podem e devem fazer parte de uma alimentação saudável.

 

Para saber mais:

Wansink, B; ADA. Position of the American Dietetic Association: food and nutrition misinformation. J Am Diet Assoc. 2006 Mar;106(3):446-58

Acesso para o Guia alimentar na íntegra: http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/novembro/05/Guia-Alimentar-para-a-pop-brasiliera-Miolo-PDF-Internet.pdf

Livro Michele May ? MD – , Eat what you love, love what you eat: How to break your eat-repent-repeat cycle, 2013

 

GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade

MINHAS PERNAS GENETICAMENTE FINAS ERAM UM TRAUMA

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Por Marluce Nóbrega

Esse é um papo sério! Essa frase não é rara de se escutar nos meus atendimentos. Se você não gosta do seu corpo por estar com um peso normal ou acima da normalidade, respeite quem tem um desconforto, assim como você, com o seu próprio corpo, mesmo sendo o oposto do seu.

Tem gente que não está satisfeita/o porque não está com o corpo que gostaria e por aí tem de tudo. A geneticamente magrinha reclama, mas a baixinha também, a ?altona?, a de pernas finas e as de pernas grossas, a de cabelo cacheado, a de cabelo preto, a com sardinhas, a com a pele bem branca… Quanta reclamação! E quanta falta de aceitação. As redes sociais se esforçam para ajudar a piorar esse processo de não aceitação corporal e/ou pessoal, e quem ganha com isso? Empresas ganham ?rios? de dinheiro com você querendo não ser você. Não estou dizendo para não nos cuidarmos, mas tudo tem limite.

Será que dá para melhorar em algo? Dá. Mas, em muitos casos é aceitar, e aceitar é a possibilidade que temos. Por exemplo, eu sou baixinha, tenho pernas finas, bumbum e peitos pequenos. Não nasci com celulite e estrias, mas hoje as tenho. A minha altura é a minha altura e ponto. Posso melhorar cuidando da minha postura.

No passado as minhas pernas finas eram algo que eu queria mudar, mas eu conseguiria mudar um tanto se eu me dedicasse ao treino indicado na época, com uma frequência e uma alimentação específica. Quando me dei conta vi que a rotina que teria que ter era para sempre e, para complicar, a indicação de treino era a musculação, que eu não me conecto nem um pouco. Isso fez com que eu aceitasse a minha realidade, as minhas pernas finas. Enfim, ficou mais fácil e tranquilo para o meu lado. Outro olhar que me ajudou foi observar minhas onze tias maternas, e seus corpos, percebendo que somos todas praticamente iguais falando sobre as pernas. Isso foi um ?menina, essa é a sua genética e brigar com ela não dará muito certo?… Resolvi aceitar as minhas pernas como são e, assim, me amar mais e considerar todos as possibilidades de ir e vir que elas me permitem. Isso me fez literalmente me tornar a melhor amiga delas. Sabe o que acontece quando nos amamos mais? Nos cuidamos mais!

Agora um assunto temido pelas mulheres que são as celulites e as estrias. Sim, podem ser amenizadas com tratamentos estéticos e especificamente para as celulites uma melhora na qualidade da sua alimentação e hidratação podem fazer uma diferença. O que me ajudou a aceitá-las? Primeiro, um tratamento estético para estrias que tentei fazer há anos e na primeira agulhada uma lágrima caiu dos meus olhos e já parei por aí o tratamento. Segundo, foi amar ir a praia, viajar, tomar sol e tudo isso é tão forte em mim que me esconder, me anular, e deixar de me energizar, me divertir, aproveitar a vida da forma como eu gosto não me faria feliz nem um pouco.

Para finalizar, se você está lendo esse texto até aqui de alguma forma o corpo magrinho, deixando claro que estou falando do geneticamente magrinho, te chamou a atenção por você mesma/o ou por lembrar de alguém que nunca gostou de ser tão magrinha/o. Sim, é possível que aconteça mudança no peso, seja para aumentar ou seja para diminuir, se você realmente se beneficiará com essa mudança em sua vida e na sua saúde e sem pílulas mágicas, sem remédios com promessas mentirosas ou com sintomas totalmente desagradáveis, sem milagres mirabolantes e sem pressa. Do contrário, o resultado atingido não será mantido. Tenho pacientes que sempre foram magrinhos e eram traumatizados com os seus corpos e tiveram bons resultados com uma abordagem individual, com melhora do comportamento alimentar, com descobertas de sabores, com respeito às suas individualidades e à sua saúde. A manutenção dos novos hábitos com prazer, e sem culpa, é sempre importante para sustentar os resultados atingidos.

A mensagem que quero que fique aí dentro de você é que se você se aceitar plenamente muito provavelmente se cuidara com saúde, respeito, amor e com mais gentileza. O resultado é você bem com você e com o seu corpo!

 

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QUEM PODE CONDUZIR AS AÇÕES DE PREVENÇÃO?

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Quem pode conduzir as ações de prevenção? 

Os programas normalmente trabalham com uma abordagem que envolve a participação global, ou seja, todos os envolvidos diretamente com o público a ser atingido

1)    Profissionais da área da saúde: estes devem ser treinados para identificar comportamento de risco para os TA, e para serem capazes de orientar/conduzir cada caso com responsabilidade, unindo forças com profissionais de outras áreas
2)    Diretores/coordenadores e professores das escolas: devem orientar a identificação de comportamentos de risco de TA, e terem posturas adequadas perante comentários inadequados em relação à alimentação, corpo e aparência física
3)    Pais/responsáveis: devem ser orientados sobre o quanto os seus comportamentos podem influenciar (positiva ou negativamente) a alimentação, percepção corporal, autoimagem e autoestima de seus filhos

O QUE FUNCIONA E O QUE NÃO FUNCIONA EM PREVENÇÃO DE TA E OBESIDADE?

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Os estudos conduzidos até o momento trazem resultadosclaros sobre ações positivas e negativas quanto às ações de prevenção. Com basenestes resultados, recomenda-se:

 

O QUE FAZER O QUE NÃO FAZER
Incentivar uma imagem corporal positiva, discutir as situações de discriminação corporal, e refletir sobre as ações a serem tomadas Utilizar a perda de peso como meta principal, enfatizar a magreza e apresentar efeitos prejudiciais do excesso de peso (isto não funciona!)
Promover uma alimentação saudável (sem perfeccionismos e proibições) Referir-se a alimentação de forma negativa, classificando os alimentos como “bons” e “ruins”; incentivar modismos quanto à alimentação
Incentivar/estimular um estilo de vida ativo e praticar exercícios que despertem uma sensação agradável de satisfação, prazer e bem-estar Incentivar a prática de exercícios como uma maneira de compensar a ingestão alimentar, apenas para queimar calorias; com foco no peso corporal, tornar o exercício uma obrigação
Discutir as mudanças corporais na adolescência e a genética familiar Promover um peso “ideal” que desconsidera as diferenças individuais
Discutir como lidar com as mensagens da mídia sobre peso e alimentação de maneira crítica Utilizar exemplos da mídia quanto a corpo e alimentação como forma de incentivar a perda de peso
Oferecer um ambiente de reflexão, sem julgamentos para promover a melhora da autoestima Utilizar pessoas que já tiveram TA para falar de suas experiências com a doença (isto pode “ensinar” comportamentos inadequados)

 

Discutir de forma crítica os riscos das dietas restritivas na saúde e convívio social Descrever detalhadamente como se iniciam os TAs e comportamentos restritivos e purgativos (ex: descrição do uso de laxantes, diuréticos, vômitos auto induzidos e prática excessiva de atividade física para controlar o peso)

 

GENTA Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares e Obesidade

 

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